“Mas antes de ser obrigado a viver com os outros, tenho de conviver comigo mesmo. A única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa.”
Harper Lee em O Sol É Para Todos
“Mas antes de ser obrigado a viver com os outros, tenho de conviver comigo mesmo. A única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa.”
Harper Lee em O Sol É Para Todos
Atire em todos os que você quiser, se puder acertá-los, mas lembre-se que é um pecado matar uma cotovia.
To Kill a Mockingbird, o título original do livro da americana Harper Lee, foi traduzido em português para o insosso O Sol É Para Todos. Perdeu-se muito do simbolismo original, já que a cotovia é um das metáforas do livro para a inocência, ou a perda dela, o tema central de um dos livros mais populares dos últimos 50 anos.
Quando recebe a recomendação acima de seu pai, Scout, a narradora do livro, uma menina alegre, esperta e indagadora de seis anos, se dá conta de que esta é a primeira vez que o ouviu falar em pecado. Atticus Finch, seu pai, não é um cidadão comum de Maycomb, a pequena cidade do Alabama onde se passa a história. Ao contrário da maioria dos habitantes do vilarejo, Atticus Finch é um homem pouco dado a convicções religiosas, mas tem fortes regras morais. E uma delas é que prejudicar, de qualquer forma, alguém mais fraco ou com menos poder de defesa é um pecado sem expiação.
Atticus é diferente dos demais por muitos outros fatores. Em uma das passagens mais engraçadas (fofas mesmo, eu diria, e o livro é ótimo por ser recheado delas) de O Sol é para Todos, Scout e Jem, seu irmão mais velho, se questionam sobre as habilidades do pai. Ele não é um herói comum. Aos cinquenta anos, é muito mais velho do que a média dos pais de seus colegas na escola. “Nosso pai não fazia coisa alguma”, reclama Scout. Ele não joga bola, já é um pouco cego e usa óculos, não gosta de caçar, de beber ou de fumar. Sua atividade principal? “Ele se sentava na sala de estar e lia”. Não tem como não simpatizar, não é?
Dia desses, em um café, conversávamos sobre o que é, talvez, a obra mais falada e menos lida de todos os tempos. Em Busca do Tempo Perdido, do francês Marcel Proust, é universalmente conhecido pelas frases longas, pelo texto rebuscado e pela dificuldade que é passar das 100 primeiras páginas de O Caminho de Swann – que dirá atravessar os sete volumes que compõem a obra.
Não à toa, o trecho mais popular da história é o momento em que o narrador morde uma “madeleine”, um biscoito francês, e o sabor o leva a reminiscências de sua infância em Combray.
A cena está logo nas primeiras páginas, onde a maioria dos mortais consegue chegar. Não muitos conseguiram ir além disso. Chegar a O Tempo Recuperado, então, é tarefa hercúlea – pessoalmente, não conheço ninguém que tenha completado esse trabalho.
Todo esse preâmbulo é apenas para compartilhar uma das minhas maiores aflições literárias: ficar presa no começo de um livro. Acontece com certa frequência e nem sempre porque o livro é difícil ou um grande clássico.
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