Como será o romance no futuro? É fácil pensar em descrever o passado, com seus acontecimentos mais lentos, mas às vezes me pego refletindo sobre como os escritores vão retratar tempos hiperconectados, de uso massivo das redes sociais, em que as pessoas substituíram uma parte expressiva da comunicação escrita por mensagens diretas e monossilábicas no celular.
Essa mudança de parâmetro, tal qual tantos outros avanços tecnológicos, começa a se refletir sobre a produção literária atual – já temos vestígios do Facebook em Barba Ensopada de Sangue, embora o narrador prefira justamente ficar fora da rede social – e por certo teremos bons romances ambientados em algum momento dos últimos anos, em que aplicativos substituíram mapas, ligações de telefones públicos deixaram de existir e o desaparecimento de algum personagem é quase impossível. De qualquer forma, é com peso no coração que nos vejo dizer adeus às cartas nos romances.
As missivas foram – e ainda o são, em larga medida – uma ferramenta importante para escritores, como mecanismo para resgate de memórias. Alice Munro usa cartas em diversos contos de Fugitiva, e várias ajudam a resgatar fragmentos do passado, a encaixar um personagem em determinado contexto social ou até mesmo a marcar um vazio, quando os bilhetes não chegam na caixa postal.