As ruas da Paris ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, são o palco onde se desenvolve a prosa intrincada e envolvente de Ronda da Noite, do escritor Nobel de Literatura Patrick Modiano. Embora sejam inebriantes as descrições dos bairros, dos pontos turísticos e das estações de metrô da capital francesa, a verdadeira ronda conduzida pelo escritor caminha não por essas ruas, mas pela consciência do narrador – um agente duplo que trabalha tanto para a Gestapo Francesa quanto para a Resistência.
Ao mesmo tempo em que redescobre os lugares que outrora renderam a Paris a alcunha de cidade luz, o personagem tenta reencontrar a identidade que lhe foi roubada pela extenuante tarefa de viver sempre sob uma máscara. Tal qual a capital francesa, o narrador enfrenta um período de trevas em que tudo parece ou lembra algum traço do que ele já foi, mas não é mais:
Agente duplo? Ou triplo? Eu não sabia mais quem eu era. Meu comandante, eu não existo.