A constatação de que o mundo está cada vez mais quente e que o planeta está ameaçado pode suscitar comoção e interesse em muitas pessoas, mas não em Michael Beard, o chefe do Centro Nacional de Energia Renovável e personagem principal de Solar, excelente romance de Ian McEwan.
O inglês não costuma ser muito generoso com seus personagens. Beard é um típico anti-heroi. Ganhou o prêmio Nobel de Física pela Conflação Beard-Einstein há mais de duas décadas, por uma confluência de fatores em que seu talento não necessariamente teve grande peso. Desde então, “aspergido com o pó mágico de Estocolmo”, leva uma vida fácil de palestras, conferências e pareceres, como descreve McEwan com a ironia que caracteriza seu estilo ácido de escrita:
Uma coisa era certa: duas décadas haviam transcorrido desde que pela última vez sentara sozinho e em silêncio por horas a fio, com um lápis e um bloco nas mãos, para pensar, para examinar uma hipótese original, para brincar com ela, estimulá-la a ganhar vida própria.