Minha vontade é transcrever os poemas de Wisława Szymborska (pronuncia-se Vissuáva Chembórska) todos aqui, para convencê-los de imediato de sua genialidade. Tenho, no entanto, apenas algumas linhas para cumprir essa missão. Espero fazer jus à capacidade de concisão, que é uma das marcas de Szymborska, sintetizando, em poucos parágrafos, por que a coletânea Um Amor Feliz (Companhia das Letras, 327 páginas) deve ser sua próxima leitura.
A primeira razão é, sem dúvida, a sagacidade de sua poesia. A amplitude um tanto assustadora do mundo e a beleza por vezes cruel dos detalhes são comuns à obra da poeta polonesa, que ganhou o Nobel de Literatura em 1996. Com um olhar aguçado sobre a realidade, Szymborska extrai reflexões essenciais de momentos que, para a maioria das pessoas, soam banais. No poema Elegia de Viagem, por exemplo, a fugacidade do instante, tão corriqueira na vida de um turista, ganha forma em belos versos:
Tudo meu, nenhuma posse,
nenhuma posse para a lembrança,
mas meu enquanto olho.(…)
Da cidade de Samokov só a chuva
e nada além da chuva.Paris do Louvre às unhas
em brancura se vela.(…)
Saudação e despedida
numa única olhada.Para o excesso e a falta
um só mover do pescoço.