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[Resenha] Ronda da Noite

As ruas da Paris ocupada pelos nazistas, durante a Segunda Guerra Mundial, são o palco onde se desenvolve a prosa intrincada e envolvente de Ronda da Noite, do escritor Nobel de Literatura Patrick Modiano. Embora sejam inebriantes as descrições dos bairros, dos pontos turísticos e das estações de metrô da capital francesa, a verdadeira ronda conduzida pelo escritor caminha não por essas ruas, mas pela consciência do narrador – um agente duplo que trabalha tanto para a Gestapo Francesa quanto para a Resistência.

Ao mesmo tempo em que redescobre os lugares que outrora renderam a Paris a alcunha de cidade luz, o personagem tenta reencontrar a identidade que lhe foi roubada pela extenuante tarefa de viver sempre sob uma máscara. Tal qual a capital francesa, o narrador enfrenta um período de trevas em que tudo parece ou lembra algum traço do que ele já foi, mas não é mais:

Agente duplo? Ou triplo? Eu não sabia mais quem eu era. Meu comandante, eu não existo.

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[Lista] 5 escritores que conheci graças ao Prêmio Nobel

Embalada pelo anúncio do Nobel de Literatura de 2016, a Lista da Semana traz cinco escritores que chegaram à minha estante principalmente pela visibilidade que ganharam com o prêmio mais famoso da literatura.

A polêmica do último laureado, o cantor e compositor Bob Dylan, gerou uma série de debates quanto aos efeitos de ter uma figura raramente associada ao universo literário ganhando um prêmio de tamanha importância no meio. Um dos artigos mais interessantes que li sobre essa discussão foi o do jornal americano The New York Times. Um dos pontos levantados, que inspirou este post, foi:

Enquanto a leitura cai ao redor do mundo, prêmios literários são mais importantes que nunca. Um grande prêmio significa salto nas vendas e no número de leitores, mesmo para escritores já conhecidos. Mas, mais do que isso, dar o Nobel para um escritor ou poeta é uma forma de afirmar que ficção e poesia ainda importam, que elas são esforços humanos cruciais que valem reconhecimento internacional.

Esta lista está aqui para confirmar o quanto esses prêmios têm um papel essencial na divulgação da boa literatura. Confira!

1. Alice Munro: vencedora do prêmio em 2013, a escritora canadense foi a primeira especialista em contos a receber o Nobel de Literatura. Eu não a conhecia antes disso e assim que vi as notícias que a coroavam como a “mestra do conto contemporâneo” não tive dúvidas de que precisava ler sua obra. Após algumas dicas nada indiretas de presentes de aniversário, ganhei um exemplar de Vida Querida, que, além dos contos, reúne quatro textos autobiográficos. Poucas semanas depois, terminei a leitura com a sensação de que a Academia Sueca havia acertado em cheio. Os personagens fortes, quase sempre mulheres, e a linguagem precisa de Munro garantem que seus textos, mesmo que breves, tenham a profundidade de um romance. No Brasil, temos vários títulos da autora traduzidos. A Tatá inclusive já resenhou Fugitiva, um de seus livros, aqui no Achados. Quem gosta de conto se esbalda com a obra de Munro e, quem não gosta, tem grandes chances de mudar de ideia!

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Da leitura à escrita

Estou lendo Reparação, de Ian McEwan. Ainda não passei da metade do livro, mas o romance já me estimulou a refletir sobre um tema que sempre me instigou – a relação entre a leitura e a escrita.

Briony Tallis, a personagem central da história, é uma pré-adolescente que ambiciona a carreira de escritora. Em várias passagens, McEwan descreve como a necessidade de expressão pelas palavras a invade com uma força incontrolável:

Presa entre o impulso de escrever um relato simples das experiências daquele dia, como num diário, e a ambição de fazer a partir delas algo maior, algo elaborado, autônomo e obscuro, passou vários minutos olhando, de testa franzida para a folha de papel e a citação infantil nela escrita, sem conseguir produzir mais nenhuma palavra. As ações, ela se julgava capaz de relatar direito, e diálogo era o seu forte. Sabia descrever a floresta no inverno e a aspereza do muro de um castelo. Mas o que fazer com os sentimentos?

Desde criança, o hábito da escrita acompanha minha paixão pela leitura. Uma das minhas maiores nostalgias são os diários. Tenho vários da minha infância e pré-adolescência, daqueles ainda com pequenos cadeados e chaves, lembram? Conservo o costume das agendas em papel, para relatar, nem que com breves frases soltas, um pouco dos acontecimentos relevantes do meu dia. A escrita é para mim como a foto é para alguns: uma forma de eternizar lembranças.

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