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[Laços] Semana #4

O que vem depois do choque diante do caos material? Mais caos, agora sentimental? No trecho de Laços lido na última semana, Domenico Starnone comprova todo potencial de sua prosa ao costurar um retorno sofisticado, em termos narrativos, ao passado conturbado que abriu o romance. As cartas de Vanda estão de volta, décadas depois, e prometem reflexões valiosas. Para a próxima semana, vamos até a página 101.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Os objetos começam a ganhar vida em Laços. Depois do susto inicial pelo apartamento revirado, Aldo e Vanda têm que lidar com todas aquelas memórias ali expostas em formato de cacos e objetos espalhados. Aos poucos, o caos material vai se transformando em um caos sentimental.

Aldo logo percebe os perigos de deixar aquela bagunça à mostra. Ele teme que algum item perdido ou danificado seja um gatilho para alguma memória dolorosa de Vanda. Aldo não imaginava que ele seria a primeira vítima.

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[Resenha] Middlesex

Nasci duas vezes: primeiro como uma bebezinha, em janeiro de 1960, num dia notável pela ausência de poluição no ar de Detroit; e de novo como um menino adolescente, numa sala de emergências nas proximidades de Petoskey, Michigan, em agosto de 1974.

Middlesex, segundo romance de Jeffrey Eugenides, publicado em 2002, é, desde o princípio, claro sobre a história que será narrada: a vida de uma menina que, por uma alteração genética desconhecida e rara, se descobriria um menino na adolescência. Calíope Stephanides, que se tornaria Cal anos mais tarde, é hermafrodita. Um assunto que continua sendo tratado com preconceito e estranhamento, ainda que hoje se fale com um pouco mais de naturalidade sobre identidade de gênero, é o tema de um romance épico sobre formação e sexualidade.

O romance, com ares de odisseia familiar, é muito bem construído. Eugenides opta por dedicar por parte do livro à trajetória da família Stephanides, perfazendo o caminhos percorridos por uma mutação genética, a 5-alfa-redutase, de baixíssima incidência, que irá definir o destino da personagem central do livro

A história começa com um episódio inusitado, a cerimônia da colher. Embora seja narrado em primeira  pessoa, por Calíope/Cal, o narrador é onisciente quando se trata dos fatos anteriores ao seu nascimento. Presenciamos assim o momento em que Desdêmona balança a colher de  prata guardada na caixinha de bichos da seda que trouxe consigo da Europa e diz que o segundo bebê de Tessie e Milton seria  um menino.

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[Lista] 5 autores que foram esnobados pelo Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel é, provavelmente, o reconhecimento mais importante que um autor pode receber em vida. Mas, convenhamos, não é todo escritor merecedor da honraria que entra para o rol de homenageados. Algumas ausências na lista da academia sueca são especialmente sentidas. Aqui, listamos cinco, entre eles um brasileiro que bem merecia ter sido contemplado!

1. Liev Tolstói: Em 1901, a Academia Sueca deu inicio à sua premiação literária com uma escolha polêmica (que novidade!). O agraciado foi o poeta francês Sully Prudhomme, o que deixou parte dos intelectuais da época escandalizados. Isso porque para a maioria era certo que a premiação ficaria com ninguém menos do que Liev Tolstói. O escritor russo, autor de clássicos como Anna Kariênina e Guerra e Paz, morreria em 1910, sem nunca ter tido um Nobel para chamar de seu. 

2. James Joyce: Outro dos grandes autores que ficaram de fora da lista de mais de cem premiados até hoje com o Nobel foi o inglês James Joyce. Considerado o fundador do romance moderno ao explorar o tempo psicológico na literatura, Joyce escreveu Ulysses, obra fundamental do século XX (e daquelas que pouca gente leu, inclusive eu!). Apesar de seu brilhantismo – e de todas as suas obras terem sido publicadas já depois da criação do prêmio -, Joyce sequer chegou a constar na lista de indicados.  

3. Guimarães Rosa: Se até pouco tempo poderíamos considerar que o autor de Sagarana não tinha levado o Nobel porque sua obra é considerada de difícil tradução, essa desculpa caiu por terra quando Bob Dylan foi agraciado com o prêmio. Sejamos honestos: letras de música não são exatamente as obras mais fáceis de verter para outra língua. Rosa é tido por muitos como o maior autor brasileiro do século XX. Sua prosa recheada de regionalismos e neologias pode exigir certa dedicação do leitor de primeira viagem, mas depois do embarque nessa aventura, é difícil não admirar a genialidade do autor. Com certeza, a Academia Sueca perdeu a oportunidade de ampliar o acesso global a um escritor único e, de quebra, colocar o Brasil na lista de países já agraciados com o prêmio.

4. Jorge Luiz Borges: O escritor argentino, com toda a sua genialidade, não figura ao lado de outros latino-americanos que receberam (merecidamente) o prêmio, como Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. E não dá para alegar que ele morreu cedo demais para que a Academia, que tradicionalmente não premia autores jovens, pudesse ter tempo de reconhecer seu talento, como aconteceu com o chileno Roberto Bolaño. Jorge Luis Borges viveu até os 86 anos, tempo mais do que suficiente para que o pessoal do outro lado do Atlântico tivesse notado seu talento. Muitos atribuem o fato de ter sido ignorado pela premiação às suas posições políticas, mas a verdade é que é impossível saber o que move a seleção dos prestigiados. Há mais coisas entre a literatura e a Academia Sueca do que sonha nossa vã filosofia.

5. Philip Roth: Tudo bem, Philip Roth ainda está vivo e, portanto, tem grandes chances de acabar levando um Nobel para casa. O autor americano, contudo, está há tanto tempo na fila de apostas que seu nome já cabe nessa lista (assim como o de Haruki Murakami, mas para ser honesta, não acredito que sua obra mereça tal honraria). Roth é um dos grandes autores em língua inglesa do último século, capaz de escrever romances verdadeiramente incômodos e mexer em assuntos tabus para a comunidade judaica. Talvez ele tenha anunciado sua aposentadoria  para ver se acelera a decisão. Mas, por enquanto, a Academia ainda acha que pode esperar um pouco mais.

[Nossa Senhora do Nilo] Semana #9

O final de Nossa Senhora do Nilo escancara o ódio que ficou implícito ao longo de todo o romance. Terminamos a leitura com um nó na garganta, apreensivos principalmente porque sabemos o final dessa história, que em nada lembra a sutileza do texto de Scholastique Mukasonga. Agradecemos a companhia de todos por aqui e esperamos seus comentários sobre a leitura! Na próxima semana, publicaremos as impressões dos nossos leitores. Para participar é só escrever para blogachadoselidos@gmail.com ou deixar sua avaliação aqui embaixo!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A violência rondou toda narrativa de Nossa Senhora do Nilo. Ela estava ali, à espreita, em cada episódio relatado. As atitudes e falas cotidianas das garotas do liceu já anunciavam o desfecho trágico.

É interessante como Mukasonga retorna, no fim da narrativa, aos elementos que compuseram seu início. Os preparativos para a instalação da nova imagem da santa lembram o primeiro capítulo, em que outra configuração social, com os tutsis no poder, presencia o mesmo espetáculo. A santa muda, os espectadores mudam, mas a sede pelo poder, impregnada na cena que se repete, é a mesma. É um ciclo, em que os dominantes se alteram, mas a necessidade de subjugação permanece.

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[Nossa Senhora do Nilo] Semana #8

Como o ódio se espalha e se impregna em uma sociedade? No último capítulo de Nossa Senhora do Nilo, Scholastique Mukasonga relata uma história que nos lembra a velha máxima da propaganda nazista: uma mentira dita mil vezes torna-se realidade. Na próxima semana, encerramos  mais um Clube do Livro do Achados e Lidos, com a leitura do último capítulo de Nossa Senhora do Nilo.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

As tensões sociais e disseminação de ódio que podem levar uma sociedade a entrar em guerra civil, virtualmente eliminando toda uma população, parecem inconcebíveis, à distância. Em Nossa Senhora do Nilo, no microcosmo do liceu, contudo, Scholastique Mukasonga revela, por meio de um episódio aparentemente banal, qual era o contexto social que possibilitou, 30 anos mais tarde, o genocídio de mais de 800 mil tutsis, no início da década de 90.

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