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“As igrejas perfiladas à margem do rio pareciam querer provar que as pessoas decentes continuavam acreditando nas coisas. Talvez acreditassem mesmo. Talvez achassem que fazia diferença todos os rituais de casamentos e batizados, crismas e enterros, todos os séculos de invocação em suas diferentes igrejas, cheias do mesmo ar gelado, para que as coisas se mostrassem com um sentido, afinal, para que houvesse alguma prova de que o mundo está em mãos mais capazes que as humanas.”

Ali Smith em garota encontra garoto

[Vozes de Tchernóbil] Semana #7

Reta final de Vozes de Tchernóbil! Para a próxima semana, terminamos a leitura do livro.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O medo de ter sua história apagada do mapa e da memória é um dos temas de destaque nos depoimentos desse último trecho que lemos. Se voltarmos lá para o comecinho do livro, no capítulo em que Svetlana Aleksiévitch reúne algumas notícias sobre o desastre, logo no primeiro parágrafo, já percebemos que impedir esse esquecimento foi um dos principais estímulos da escritora:

Belarús… Para o mundo, somos uma terra incógnita – uma terra totalmente desconhecida. “Rússia Branca”: é mais ou menos assim que o nome do nosso país soa em inglês. Já Tchernóbil todos conhecem; no entanto, relacionam-no apenas à Ucrânia e à Rússia. Um dia ainda deveríamos contar a nossa história.

Ao longo do livro, identificamos uma série de motivos que levou os entrevistados a expor seus relatos a Aleksiévitch – tristeza, necessidade de compartilhar, indignação, sede de justiça, culpa e, finalmente, o medo de ser esquecido. E não se trata de um receio de ser apagado apenas como indivíduo, mas também como povo:

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[Lista] 5 livros para dar risada

Livros podem ser emocionantes, trágicos, dramáticos…  Mas às vezes tudo o que precisamos é dar risada! A lista desta semana é para nos colocar um sorriso na cara e ficarmos como bobos, rindo sozinhos para páginas abertas.  E nada de piadas prontas e fórmulas batidas! Humor também pode ser inteligente!

1. De Veludo Cotelê e Jeans, de David Sedaris: Conheci o David Sedaris em uma Flip há muitos anos, e desde então acompanho praticamente todos os seus textos na New Yorker. Vindo de uma família grande, com muitos irmãos e pais emocionalmente instáveis, como não poderia deixar de ser, Sedaris abusa da ironia ao retratar os costumes e manias de parentes e dos vizinhos da provinciana Saint Louis, sem nunca deixa de rir de si mesmo. O meu livro preferido dele é De Veludo Cotelê e Jeans, mas quase tudo o que li dele até hoje é engraçado, especialmente quanto o assunto é a sua infância – e os traumas que restaram dela.

Ao cabo de seis meses acordando ao meio-dia, queimando fumo e ouvindo mil vezes o mesmo disco de Joni Mitchell, meu pai me chamou para uma conversa e me disse que eu devia ir embora. Ele estava sentado muito formalmente numa cadeira alta e confortável, atrás da mesa, e me senti como se ele tivesse me demitido do emprego de filho.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #5

Para a próxima semana, vamos até a página 293, logo antes de começar o “Monólogo sobre o fato de que se deve somar algo à vida cotidiana para compreendê-la”.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

O que é preciso para caracterizar uma catástrofe? No caso de Tchernóbil, a explosão e o incêndio da central nuclear já seriam suficientes para que essa palavra pudesse ser usada. Mas estes não são o único componente do desastre.

A resposta das autoridades soviéticas, como já discutimos no post anterior, aumentou a magnitude do sofrimento da população local, com o uso de “robôs humanos” para apagar as chamas do reator, algo que nem as máquinas conseguiam fazer, porque acabavam “enlouquecidas” pela força da radiação.

Além dessas atrocidades que ficaram ainda mais evidentes no trecho desta semana, desponta ainda, nos relatos, um terceiro elemento que tornou Tchernóbil um desastre tão grande: o  temperamento do povo eslavo. Submissos, patrióticos, preparados para o desastre iminente e para a guerra, os bielorrusos estavam dispostos a acreditar nas autoridades e a abraçar a narrativa oficial de que o acidente demandava atos de heroísmo. Em um dos depoimentos, o entrevistado compara o desastre em Tchernóbil com outro acidente bastante conhecido, exemplificando bem o cenário:

Eu assisti várias vezes ao filme sobre o naufrágio do Titanic. O filme me lembra de coisas que vi com meus próprios olhos. O que se passou nos primeiros dias de Tchernóbil… O comportamento das pessoas era muito semelhante. A mesma psicologia. Eu comparava com o filme. O casco no navio já estava perfurado, a água inundava os andares inferiores, tonéis, caixões… A água avançava, ia ocupando todos os espaços, mas lá em cima as luzes continuavam acesas, tocavam música, serviam champanhe, prosseguiam as disputas familiares, iniciavam-se novas histórias de amor. E a água avança… Alcança as escadas, penetra nos camarotes.

Tal qual os tripulantes e passageiros do Titanic, que acreditavam cegamente na grandiosa e invencível construção do homem, os soviéticos, mesmo diante de Tchernóbil, também tinham uma crença inabalável:

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“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.”

Chimamanda Ngozi Adichie em
Sejamos Todos Feministas

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