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[O Mestre e Margarida] Semana #9

Chegou a hora de conhecermos melhor a outra personagem que está no título da obra de Bulgákov. Margarida, por fim, esbarra na trupe diabólica e esse encontro dá início a mais uma sequência eletrizante. Para a próxima semana, avançamos até o capítulo 24, ou página 278, se você tem a edição da foto.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

No início desta segunda parte, descobrimos que Margarida, a amada do Mestre, não o abandonou e ainda é profundamente apaixonada por ele. Também nos é revelado que ela é casada com um homem bastante rico e, materialmente, dispõe de tudo que uma pessoa poderia desejar:

Não falta dinheiro a Margarida Nikoláievna. Margarida Nikoláievna podia comprar tudo que lhe agradava. Entre os conhecidos de seu marido havia gente interessante. Margarida Nikoláievna nunca encostou em um fogareiro. Margarida Nikoláievna não conhecia os horrores da vida em um apartamento compartilhado. Em suma… era feliz? Nem por um minuto!

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[Resenha] Praia de Manhattan

Em apenas duas décadas, a cidade de Nova York foi palco de grandes transformações: da profunda crise econômica que se seguiu à quebra da Bolsa de Valores, em 1929, ao considerável esforço de guerra que tomou a cidade na esteira do ataque japonês à Pearl Harbour. Praia de Manhattan (Intrínseca, 448 páginas), da escritora Jennifer Egan, usa exatamente esse cenário para contar a história de amadurecimento de Anna Kerrigan, da infância ao início de sua vida adulta.

A história é contada a partir do ponto de vista de três personagens: além de Anna, seu pai e Dexter Styles, um conhecido gângster nova iorquino, também elaboram suas versões dos fatos. O romance começa com Anna ainda jovem, com cerca de 12 anos, visitando a casa de Styles ao lado de seu pai, em um dos furtivos encontros de trabalho entre os dois.

Aos poucos, alguns dos conflitos que cercam os personagens ficam claros. O pai de Anna perdeu tudo com a quebra da Bolsa e passou a depender de alguns trabalhos escusos para manter o padrão de vida da família, que inclui uma filha deficiente. Anna não consegue entender exatamente em qual vida seu pai está imergindo, até seu desaparecimento repentino, quando ela ainda era adolescente.

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“Se um dia eu me suicidar, será num domingo. É o dia mais desalentador, mais sem graça. Quem me dera ficar na cama até tarde, pelo menos até as nove ou as dez, mas às seis e meia acordo sozinho e já não consigo pregar o olho. Às vezes penso o que farei quando toda a minha vida for domingo.”

 

Mario Benedetti em A Trégua

[Divã] Literatura falada

Sei que chego atrasada ao assunto, mas recentemente descobri uma nova maravilha da humanidade, proporcionada pela tecnologia: os podcasts.

Para quem também perdeu essa onda, os podcasts são basicamente programas de rádio que você pode ouvir quando quiser: basta ter um novo episódio disponível. Para quem passa aproximadamente 80 minutos diários no trânsito, essa tem sido a salvação para usar o tempo de deslocamento de forma minimamente útil.

No começo, (ou)via com desconfiança esse formato. Há, claro, um certo amadorismo, já que mesmo quando o conteúdo é produzido por instituições conhecidas, nem sempre quem os apresenta tem as habilidades encontradas em locutores de rádio, como uma voz sonora e boa desenvoltura.

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[Divã] Quem tem medo de falar de racismo?

Enquanto o mundo assistia embasbacado à atuação do jovem Kylian Mbappé na vitória da França sobre a Argentina, em um jogo que classificou os franceses para as quartas-de-final da Copa do Mundo da Rússia, o youtuber brasileiro Júlio Cocielo proferia uma “piada” absurdamente racista em seu Twitter: para ele, Mbappé “conseguiria fazer uns arrastão top na praia”.

O post gerou furor na internet, mas houve quem defendesse Cocielo: para uma parte de seus fãs, foi apenas uma brincadeira, já que Cocielo tem “bom coração”. Desde então, ele apagou impressionantes 50 mil tweets, não antes que milhares de prints com afirmações homofóbicas e racistas viessem à tona.

Mbappé é um atleta jovem, forte e extremamente talentoso. Comparar a rapidez de suas arrancadas ao potencial de “arrastão” é de um racismo perverso, mas defender o youtuber e afirmar que essa foi apenas uma brincadeira é bastante sintomático do racismo que se esconde nos meandros da sociedade brasileira. É pouco provável que Cocielo dissesse que Cristiano Ronaldo faria arrastões top na praia.

Em seu novo livro, Quem Tem Medo do Feminismo Negro (Companhia das Letras, 145 páginas, R$ 29,90)  Djamila Ribeiro é clara sobre o papel do humor na perpetuação do racismo.

É preciso perceber que o humor não é isento, carregando consigo o discurso do racismo, do machismo, da homofobia, da lesbofobia, da transfobia. Diante de tantos humoristas reprodutores de opressão, legitimadores da ordem, fico com a definição do brilhante Henfil: “O humor que vale para mim é aquele que dá um soco no fígado de quem oprime”.

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