Maria da Graça e Quitéria são duas amigas que compartilham, além da profissão, a desilusão de uma vida monótona. Elas passam os dias a trabalhar fazendo faxina e, esporadicamente, arrumam bicos como carpideiras, chorando em velórios de desconhecidos. Os descaminhos dessas duas personagens compõem o enredo de O Apocalipse dos Trabalhadores (Biblioteca Azul, 201 páginas), romance de um dos escritores mais relevantes da literatura contemporânea, o português Valter Hugo Mãe.
Com a prosa poética que é sua marca, Hugo Mãe mergulha no cotidiano das duas amigas para trazer uma temática universal e atemporal: o sentido da vida. Vítimas claras da invisibilidade social, Maria da Graça e Quitéria buscam mil subterfúgios para despistar o vazio de uma existência dedicada a sobreviver mais do que a viver.
Maria da Graça é casada com Augusto, que passa longas temporadas longe de casa, a trabalho, mas nunca contribui para as despesas da família. Ambos encaram esses períodos de afastamento como um alívio. Claramente, Augusto aproveita muito mais sua liberdade por contar com o olhar indulgente da sociedade patriarcal em relação aos homens. À Maria, sobram as responsabilidades cotidianas e o peso da imagem de esposa fiel que aguarda o marido trabalhador.