“Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.”
Italo Calvino em As Cidades Invisíveis
“Ao chegar a uma nova cidade, o viajante reencontra um passado que não lembrava existir: a surpresa daquilo que você deixou de ser ou deixou de possuir revela-se nos lugares estranhos, não nos conhecidos.”
Italo Calvino em As Cidades Invisíveis
Se quisermos que tudo continue como está, é preciso que tudo mude.
A emblemática frase de O Leopardo, de Giuseppe Tomasi di Lampedusa (TAG Livros/Companhia das Letras, 381 páginas), resume com exatidão a sensação de resignação que nos devora quando somos confrontados com grandes mudanças. Não à toa, é um dos aforismo mais conhecidos da literatura.
Dita por Tancredi, sobrinho de Fabrizio de Corbèra, príncipe de Salina e personagem central neste romance, a frase indica a inevitabilidade das transformações que marcariam a Itália na segunda metade do século XIX. O Leopardo retrata justamente esse meio século de profundas alterações no cenário econômico, político e social do país, com a unificação da Itália, até então dividida em reinos sob o domínio de potências estrangeiras, a ascensão da burguesia e o ocaso da nobreza.
“Queria a certeza plana dos dias normais, mesmo sabendo bem que no corpo perdurava um movimento frenético e outro, uma rápida aparição, como se tivesse visto no fundo de um buraco um horrível inseto venenoso e cada parte de mim estivesse ainda se retraindo e agitando os braços, as mãos, as pernas. Preciso aprender de novo – disse – o passo tranquilo de quem acha que sabe aonde está indo e por quê.”
Elena Ferrante em Dias de Abandono
“Notei que tinha posto uma cadeira justamente para que eu ficasse mais confortável: quanta deferência por quem tinha estudado, estudar era considerado o truque dos rapazes mais espertos para se furtar ao trabalho duro. Como posso explicar a essa mulher – pensei – que desde os seis anos de idade sou escrava de letras e números, que meu humor depende do êxito de suas combinações, que essa alegria de ter feito bem é rara, instável, que dura uma hora, uma tarde, uma noite?”
Elena Ferrante em
História de Quem Foge e de Quem Fica
O que vem depois do choque diante do caos material? Mais caos, agora sentimental? No trecho de Laços lido na última semana, Domenico Starnone comprova todo potencial de sua prosa ao costurar um retorno sofisticado, em termos narrativos, ao passado conturbado que abriu o romance. As cartas de Vanda estão de volta, décadas depois, e prometem reflexões valiosas. Para a próxima semana, vamos até a página 101.
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
Os objetos começam a ganhar vida em Laços. Depois do susto inicial pelo apartamento revirado, Aldo e Vanda têm que lidar com todas aquelas memórias ali expostas em formato de cacos e objetos espalhados. Aos poucos, o caos material vai se transformando em um caos sentimental.
Aldo logo percebe os perigos de deixar aquela bagunça à mostra. Ele teme que algum item perdido ou danificado seja um gatilho para alguma memória dolorosa de Vanda. Aldo não imaginava que ele seria a primeira vítima.
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