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[Resenha] Soldados de Salamina

Considerado um forte candidato a clássico pela revista The New YorkerSoldados de Salamina (Editora Globo – Biblioteca Azul, 213 páginas), do escritor espanhol Javier Cercas, é uma daquelas leituras que renovam a fé na literatura contemporânea. Uma história simples combinada a uma estrutura narrativa intrincada e inovadora faz dessa obra uma experiência recomendável a qualquer apaixonado por literatura.

O romance traz as aventuras de um escritor, que ao que tudo indica é o próprio Cercas, durante o processo de criação do seu novo trabalho, o livro Soldados de Salamina. Trata-se, portanto, de uma metanarrativa, ou seja, o relato se volta para ele mesmo.

Depois de algumas empreitadas frustradas na literatura e da decisão de abandoná-la, Cercas se vê novamente diante de uma história que precisa ser contada. O personagem central do episódio que o intriga é Sánchez Mazas, político e ideólogo da Falange, partido de sustentação da ditadura de Franco.

Capturado por republicanos nos estertores da sangrenta Guerra Civil Espanhola (1936-1939), Mazas escapou de um fuzilamento e teve um retorno triunfal, quando as forças fascistas chegaram ao poder. A curiosidade pelos detalhes dessa fuga, que com o tempo ganhou contornos novelescos, levam o escritor a um trabalho profundo de investigação.

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“Para transformar um terrível drama pessoal numa coisa ridícula, uma boa fórmula é ouvi-lo narrado por outra pessoa.”

 

Javier Cercas em O Ventre da Baleia

[Resenha] O Ventre da Baleia

Em um ano e meio, Tomás vê sua vida dar uma reviravolta que o tira do eixo em todos os sentidos – pessoal e profissional. Esse é o objeto da história de O Ventre da Baleia, livro do escritor espanhol Javier Cercas, que pode ser caracterizado como um drama cômico, com pitadas de romance policial.

Como o próprio Tomás, o narrador-personagem, define, trata-se de uma “história inventada, mas verdadeira”, uma “crônica de verdades fictícias e mentiras reais”. O ponto de partida para a trama pitoresca é o seu reencontro com Claudia, uma paixão platônica da adolescência que volta à sua vida em uma situação casual, durante um fim de semana em que a esposa de Tomás, Luisa, estava fora da cidade em um congresso.

Quando se depara com Claudia, o narrador sente todos os desejos da longínqua adolescência voltarem com força para conduzi-lo à sua primeira infidelidade no casamento. A partir daí, uma sucessão de acontecimentos aniquila uma a uma as rotinas que lhe garantiam uma vida tediosa, mas bem equilibrada e planejada.

Professor assistente do departamento de estudos literários da Universidade Autónoma de Barcelona, Tomás segue os passos de uma carreira que tem tudo para se consolidar no meio acadêmico, ainda que tardiamente, considerando que alguns colegas de sua mesma faixa etária já ocupam o posto de professor titular. Luisa, sua esposa há cinco anos e com quem espera seu primeiro filho, também desfruta de uma sólida posição no meio acadêmico de História, o que colabora para a pressão do sucesso profissional de Tomás.

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[Resenha] Assim Começa o Mal

Até onde somos capazes de chegar em busca da verdade? Essa é a grande saga de Juan de Vere, narrador-personagem de Assim começa o mal, romance de Javier Marías, lançado no segundo semestre de 2015 aqui no Brasil.

Na Madri pós-ditadura franquista, o jovem De Vere se vê envolvido em uma história pautada por desejos, rumores e segredos. Juan trabalha como assistente de Eduardo Muriel, cineasta que já viveu seu auge e tem um casamento conturbado, cheio de mistérios. Por conta de suas funções, Juan fica hospedado durante longos períodos na casa dos patrões e, aos poucos, passa de testemunha a ator coadjuvante da jornada dessa família.

Além da história íntima dos Muriel e de De Vere, o livro traz a cena política da Espanha dos anos 80 – um país imerso no dilema de como enfrentar as recordações dos anos truculentos da ditadura. Silenciar e deixar pra trás? Reescrever as cenas mais tristes? Amenizar os fatos em nome da boa convivência? Julgar e nomear vilões e heróis?

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“A correção dos sentimentos é lenta, desesperadoramente gradual. Você se instala neles e fica muito difícil sair, adquire-se o hábito de pensar em alguém com um pensamento determinado e fixo – também se adquire o de desejá-lo – e não se sabe renunciar a isso da noite para a manhã, ou durante meses e anos, tão demorada pode ser sua aderência.”

Javier Marías em Os Enamoramentos

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