Estamos na reta final de A Besta Humana! Para a próxima semana, chegamos ao fim do livro! Gostaram desse clássico francês?
Por Mariane Domingos e Tainara Machado
Despertados por paixões e cobiças, cada um de nós é capaz de realizar crueldades sem medir consequências, nos mostra Émile Zola em A Besta Humana. Os personagens desse clássico francês são dominados por instintos primitivos, sem muita capacidade de reflexão sobre suas atitudes. A sociedade tende a fechar os olhos para os crimes cometidos e enquanto, na superfície, a história é de uma pacata normalidade, quase todos lutam para matar ou morrer.
Logo no início do décimo capítulo, temos a confirmação da suspeita de tia Phaisie, que morreu envenenada pelo marido, Misard. Cidadão pacato, “fleumático”, como o qualifica Zola, Misard foi capaz de seguir seu plano assassino até o fim, mesmo depois que Phaisie desconfiou que ele colocava o veneno no sal. Passou então a envená-la “por baixo”, ao contaminar a água para lavagem higiênica da esposa. Até mesmo os personagens mais inexpressivos conseguem nos surpreender por sua sagacidade para fazer o mal.
Era parado por acessos de tosse que o faziam se dobrar, quase morto também, tão magro e raquítico com seus olhos turvos e cabelos sem cor que, tudo indicava, não teria muito tempo para cantar vitória. De qualquer maneira, havia acabado com ela, aquele mulherão grande e forte, como o inseto devora o carvalho: deitada de costas, consumida, reduzida a nada, enquanto ela durava ainda.
Tia Phaisie, porém, não pretendia deixar barato. Pouco podendo fazer para se livrar do marido, se resignou a morrer sem lhe entregar os mil francos que havia recebido de herança, o motivo para o crime. Ela, que assistia à passagem dos trens e do movimento do mundo de sua janelinha naquele pedaço de terra esquecido, se recusa a fechar os olhos ao morrer, enquanto os lábios se mantinham crispados, como se reprimissem um “sorriso de zombaria”.