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[Divã] O que você está lendo?

Livro de cabeceira é uma expressão que não funciona para mim. O que tenho mesmo é uma biblioteca de cabeceira. Diariamente, convivo com uma dezena de personagens, viajo de um século a outro e transito entre as mais diferentes realidades.

No último mês, por exemplo, minhas manhãs foram na companhia de Mia Couto e seus ensaios sobre as belezas e as mazelas da África. Pela tarde, eu mergulhava numa trama de assassinato narrada por um feto irreverente. À noite, me transportava para o século XIX para encontrar Os Buddenbrook.

Ler vários livros ao mesmo tempo é um hábito que me acompanha há anos. As causas desse comportamento vão desde explicações psicológicas, como estado de espírito e ansiedade literária, até aspectos mais práticos, como impossibilidade de carregar calhamaços por aí.

O ponto inicial da simultaneidade de leituras é a dificuldade de pegar na estante um só título. Vivo no eterno paradoxo do amor pela variedade e da angústia pela escolha. Quando viajo, nunca levo um só romance, não importa se vou ficar um fim de semana apenas. Meu maior receio é: e se eu não gostar da história? Uma segunda ou terceira opções são fundamentais para apaziguar meu espírito. Em seu ensaio Como se deve ler um livro?, Virginia Woolf, descreveu brilhantemente esse sentimento:

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[Lista] 5 ótimos livros de ensaios

Ensaios não estão entre as categorias mais populares da literatura. Há quem diga que são muito teóricos e difíceis de entender. Para mim, é justamente o contrário. Ler um ensaio é a oportunidade de decifrar um autor e chegar mais perto de compreender toda sua obra. Nesse gênero, os escritores abdicam das máscaras atenuantes da ficção e expõem suas opiniões e experiências da forma mais sincera e direta, nos fazendo refletir sobre nossas próprias posições. Confira, abaixo, uma seleção com meus cinco livros de ensaios favoritos.

1. A Vida Descalço, de Alan Pauls: a escrita do autor argentino não poderia encontrar melhor morada que no gênero de ensaios. Mesmo em seus romances, Pauls é capaz de conduzir longas digressões até esgotar um assunto, sem perder a linha de raciocínio nem a atenção do leitor.

Em A Vida Descalço, o tema é a praia. Misturando memórias de infância às da vida adulta, inclusive sua primeira viagem ao Rio de Janeiro, o escritor desenvolve um ensaio sobre a praia como um ambiente imaginário, em que desejo, ilusão e novos códigos sociais são estabelecidos:

Só uma familiaridade muito precoce com os usos e costumes da praia pode, de fato, embaçar o brilho de uma obviedade que ainda hoje deveria nos deslumbrar: a praia é o único espaço público onde a nudez quase completa não é uma exceção nem uma infração provocadora, e sim um princípio de existência, uma forma de vida, a lei – tácita e unânime, mas não coercitiva – que rege a convivência humana.

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“A necessidade de vestir uma máscara pública é tão básica quanto desejar a privacidade na qual possamos retirá-la. Precisamos tanto de um lar que não seja um espaço público quanto de um espaço público que não seja um lar.”

 

Jonathan Franzen em Como ficar sozinho

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