Sempre falamos por aqui que a literatura é uma porta aberta para o mundo. Os livros estão sempre nos fazendo enxergar novos ângulos, fronteiras e personagens. Isso acontece porque também a literatura está em constante mutação, abrindo espaço para vozes que antes não reverberavam mundo afora.
Essa transformação parece ter acontecido, de certa forma, com a literatura africana que ganhou as prateleiras brasileiras nos últimos tempos. Essa é, claro, uma opinião que parte de uma experiência pessoal. Mas se até pouco tempo a produção ficcional sobre o continente era predominantemente masculina e escrita do ponto de vista do colonizador, começamos a ver autoras que falam sobre o conflito entre herança colonial e o conhecimento tradicional de forma aberta, passando por questões como racismo e o lugar da mulher na sociedade de um modo que não víamos até então.
Isso não quer dizer, obviamente, que devemos desmerecer a ficção de nomes como Le Clézio e J. M. Coetzee. Embora tenha nascido em Nice, Le Clézio cresceu em uma família fraturada pela guerra e viveu por alguns anos na Nigéria, quando era bastante jovem. Sobre esse período, escreveu um lindo relato sobre a busca por sua origem, por um pai desaparecido que poderia estar em todos os lugares, por uma identidade que já não encontrava.