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“Abrace-a com força se você a tem; abrace-a muito, pensei, é meu conselho para todos que estão vivos. Respire o perfume dela, encoste o nariz em seu cabelo, respire profundamente o perfume dela. Diga o nome dela. Será sempre o nome dela. Nem a morte pode roubá-la. O mesmo nome, viva ou morta, sempre. Aura Estrada.”

Francisco Goldman em Diga o Nome Dela

Leitores anônimos

No metrô, em cafés, no parque ou até mesmo andando. Se há uma cena cotidiana que me inspira é a de pessoas lendo em lugares públicos. Vamos ser francos: não vivemos em um país que tem a cultura do livro, menos ainda em situações como essas, em que os smartphones – e suas redes sociais que tudo e nada conectam – surgem como a distração mais cômoda.

Momentos literários desse tipo são cada vez mais raros, por isso não meço esforços para aproveitá-los. Sou do tipo que faz peripécias para ampliar meu campo de visão e, assim, descobrir, sem denunciar minha curiosidade, qual livro o desconhecido ao meu lado está lendo. Vale até fingir dores nas costas e simular alongamentos para virar o pescoço em direção à capa misteriosa. Nem preciso dizer o quanto as leituras em tablets têm impossibilitado essa tarefa. O maior pecado dos e-books foi ter tirado da capa do livro sua condição de vitrine.

Não é sempre que o esforço da investigação é recompensado. Além do inconveniente dos tablets, há certos leitores que dificultam esse intercâmbio literário. Dobrar o livro, por exemplo, é prática que nunca entendi bem, porque não só atrapalha a curiosidade alheia, como também impede a passagem rápida à página seguinte e, principalmente, cria vincos pavorosos!

Outro obstáculo, por sorte cada vez menos comum, são as capas protetoras. Usá-las pode ter justificativas bastante plausíveis, entre elas proteger a integridade do livro ou a imagem do leitor (nunca se sabe o gosto literário duvidoso que está por baixo da proteção), mas ainda assim não é nada gentil com os curiosos de plantão.

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[Resenha] Diga o Nome Dela

imagem pacífico

Seguir em frente pode significar deixar tanto para trás que se torna insuportável. Em Diga o Nome Dela, o escritor americano Francisco Goldman enfrenta com maestria um sentimento tão paradoxal e particular ao luto. Se desfazer de objetos, roupas e livros é difícil porque aos poucos se percebe que será preciso se deparar com uma segunda morte, às vezes até mais dolorosa, que é a das memórias.

Embora seja um autor razoavelmente conhecido nos Estados Unidos, colaborador da The New Yorker, Goldman teve apenas este livro traduzido e publicado no Brasil, pela Cia da Letras. Conheci a história nas páginas da revista piauí, e fiquei com aquele texto ecoando na minha cabeça por semanas – gosto, não sei bem explicar por quê, de histórias de grandes amores e finais tristes.

Meses depois, encontrei-o dando sopa em uma feirinha de livros na redação. No excerto do livro publicado pela piauí, Goldman conta como conheceu sua jovem esposa, Aura, como a pediu a esposa em casamento, os temores dela sobre a probabilidade de ficar viúva jovem (a diferença de idade entre os dois era de 20 anos) e encerra o texto com sua morte prematura.

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