Tag: copa do mundo da rússia

“Foi-se a copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
Cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
Se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
Havendo tenacidade,
Ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa Da Liberdade.”

 

Carlos Drummond de Andrade
em Poesia e Prosa

[Lista] 18 seleções para uma Copa do Mundo literária

Seguimos em clima de Copa do Mundo no Achados & Lidos! Os times que disputam a competição neste ano foram a inspiração para esta lista. Resolvi montar uma seleção de autores que poderiam muito bem representar seus países em uma copa literária. Algumas equipes ficaram desfalcadas, por isso conto com você para completar essa convocação!

Rússia: montar uma seleção russa de escritores é tarefa quase tão difícil quanto foi convocar a seleção brasileira de futebol de 70. Sobram craques. Mas, já que temos que escolher um representante, não tem como deixar de fora o maior deles: Fiódor Dostoiévski. Autor de clássicos, como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov, Dostoiévski alcança, com sua escrita, os meandros mais recônditos da alma humana, além de fazer um retrato insubstituível da sociedade russa do século XIX. Quer mais motivos para ler Dostô? Veja esta outra lista.

Brasil: tem como pensar em outro nome que não o de Machado de Assis? Criador de personagens emblemáticos da literatura mundial, como Bentinho, Capitu, Brás Cubas e Simão Bacamarte, a obra desse gênio se caracteriza por um texto primoroso, pelo vanguardismo narrativo e pela ironia fina. Ainda não se convenceu? Leia este post.

Irã: não conhecia nenhum representante da literatura iraniana até que um dos kits da TAG trouxe a autora integrante da diáspora iraniana, Bahiyyih Nakhjavani. Ainda não li o livro, intitulado O Alforje, mas estou curiosa para conhecer mais sobre a cultura e história desse país. 

Japão: não conheço muito a literatura oriental, então não fugirei do clichê Haruki Murakami. Ele, que há tempos é cotado para um Nobel, ainda não conquistou o feito e, no último ano, viu seu compatriota, o nipo-britânico Kazuo Ishiguro ser laureado (temos resenha aqui). Confesso que não sou leitora fervorosa de nenhum dos dois… Aceito sugestões para melhorar meu conhecimento da literatura japonesa!

México: um dos livros contemporâneos mais interessantes que li nos últimos tempos foi A História dos Meus Dentes, da jovem e talentosa mexicana Valeria Luiselli. Ficou curioso? Saiba mais nesta resenha.

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“Por quê? Por que amar o esporte? Convém em primeiro lugar lembrar que tudo o que acontece com o jogador também acontece com o espectador. Porém, se no teatro o espectador não passa de um observador, no esporte ele é um ator.”

 

Roland Barthes em O Que É o Esporte?

Futebol

Futebol se joga no estádio?
Futebol se joga na praia,
futebol se joga na rua,
futebol se joga na alma.
A bola é a mesma: forma sacra
para craques e pernas de pau.
Mesma a volúpia de chutar
na delirante copa-mundo
ou no árido espaço do morro.
São voos de estátuas súbitas,
desenhos feéricos, bailados
de pés e troncos entrançados.
Instantes lúdicos: flutua
o jogador, gravado no ar
— afinal, o corpo triunfante
da triste lei da gravidade.

 

Carlos Drummond de Andrade

[Lista] 5 livros para viajar à Rússia

Estamos a quase 15 dias da Copa do Mundo da Rússia! Esse país de dimensões continentais estará, mais do que nunca, sob os holofotes. Embora a expectativa seja ver todo burburinho de perto, a realidade que nos resta é acompanhar tudo do sofá de casa mesmo, rs. Aos jogos, podemos assistir pela televisão. E o turismo?! Bem, esse podemos dar um jeitinho com a literatura! Separamos cinco livros, para você mergulhar na cultura russa e viajar sem sair de casa.

1. A Dama do Cachorrinho e outros contos: gosta de narrativas curtas? Então, vamos começar com um dos maiores contistas de todos os tempos: o russo Anton Pavlovitch Tchekhov.

Com textos breves e sugestivos, que exploram com habilidade os silêncios, Tchekhov traz para ficção os raros instantes extraordinários da vida comum. Seus personagens, em sua maioria, carregam o desencanto que é estar no mundo. A partir de episódios aparentemente banais, em que o não-dito predomina, suas histórias lançam um olhar crítico sobre o comportamento humano.

Um bom exemplo é o conto Um Conhecido. Nessa narrativa de menos de cinco páginas, a “encantadora Vanda”, uma dançarina de clubes noturnos, se vê em situação de penúria, doente e na miséria. Ela decide, então, procurar um dos seus antigos clientes para emprestar-lhe dinheiro. O “conhecido” não apenas não a reconhece como ainda a trata com desdém:

Saindo para a rua, sentiu uma vergonha ainda maior que antes, mas não era mais da pobreza que se envergonhava. Não reparava mais em que não estava usando chapéu alto e casaquinho da moda. Caminhou pela rua, cuspindo sangue, e cada cusparada vermelha falava-lhe de sua vida, uma vida má, difícil, e das ofensas, que havia suportado e ainda haveria de suportar, no dia seguinte e dentro de uma semana, dentro de um ano, durante toda a vida, até a morte….

Que escrita poderosa, não? Nessa coletânea da Editora 34, estão 36 dos melhores contos de Tcheckhov, traduzidos diretamente do russo por Boris Schnaiderman.

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