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[Resenha] Infância

A realidade árida da savana sul-africana dá o tom do primeiro volume da trilogia de ficção autobiográfica de J. M. Coetzee, um dos maiores escritores contemporâneos. Em Infância – Cenas da Vida na Província (Companhia de Bolso, 150 páginas), Coetzee relata, com a secura que lhe é habitual, seus anos de formação, em busca de uma identidade que não parece estar em lugar nenhum.

A casa em Worcester, para onde mudaram por causa do pai, que tem dificuldade em se fixar em um emprego, é simples, idêntica a todas as outras. O garoto não consegue se habituar ao local, à brutalidade do entorno.

A infância, segundo a Enciclopédia das Crianças, é uma época de felicidade inocente, que se vive nas campinas entre flores e coelhos, ou  junto à lareira absorto num livro de contos. É uma visão da infância totalmente alheia a ele. Nada do que vive em Worcester, em casa ou na escola, o faz pensar que a infância seja mais que uma fase de engolir a seco e suportar.

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“É foda sair do beco, dividindo com canos e mais canos o espaço da escada, atravessar as valas abertas, encarar os olhares dos ratos, desviar a cabeça dos fios de energia elétrica, ver seus  amigos de infância portando armas de guerra, pra depois de quinze minutos estar de frente pra um condomínio com plantas ornamentais enfeitando o caminho das grades, e então assistir adolescentes fazendo aulas particulares de tênis. É tudo muito próximo e muito distante. E, quanto mais crescemos, maiores se tornam os muros.”

 

Geovani Martins em O Sol na Cabeça

[Lista] 5 livros para (tentar) entender o Brasil

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Já dizia Tom Jobim que o Brasil não é para iniciantes. “Nem para iniciados”, completou recentemente o cronista Antonio Prata, em um bom texto sobre o que representa a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não dá para discordar. Está cada vez mais difícil compreender como chegamos até aqui e, principalmente, entender para qual rumo devemos seguir. Nesses momentos, o melhor a fazer é olhar o passado e tentar entender o que a história pode nos ensinar. Entre clássicos como Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, a livros mais recentes sobre a crise econômica, aqui vão cinco títulos para (tentar) entender o Brasil:

1. Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda: Descrito como um “clássico de nascença” por Antonio Candido, este ensaio, publicado em 1936, continua a ser lido por historiadores e demais interessados em entender os traços formadores do país. Holanda, que fez parte de uma geração que buscou refletir sobre nossas raízes, como Caio Prado Jr. e Gylberto Freire, investiga nesse livro os regionalismos que nos deram origem, fala da figura do “homem cordial” e aborda ainda a dificuldade de entender os limites entre o público e o privado, talvez o aspecto mais interessante para refletirmos sobre a atualidade.

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[Resenha] Minha Vida de Menina

Helena Morley começou a escrever Minha Vida de Menina (Companhia de Bolso, 325 páginas) com apenas 13 anos. Isso não significa que ela seja um prodígio da literatura: o livro nada mais é do que um diário adolescente sobre a vida na província. Ao mesmo tempo, é uma leitura saborosa sobre um momento histórico relevante: escrito entre 1893 e 1895, o diário de Morley, pseudônimo de Alice Caldeira Brant, retrata as relações sociais e econômicas em um Brasil afastado das grandes metrópoles e ainda muito marcado pela escravidão, abolida há menos de uma década.

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Morley, apesar da pouca idade, era uma observadora atenta do seu entorno. Filha de mãe brasileira e pais inglês, ela conta, de forma sucinta e bem-humorada, conservando a ingenuidade e o espírito rebelde da adolescência, a relação com os pais, os tios e a avó, a decadência da mineração, a pobreza da família, a vida na escola e os hábitos provincianos de Diamantina, em Minas Gerais, onde nasceu. Leia mais

[Resenha] O Dono do Morro

De vez em quando, nós do Achados e Lidos deixamos a literatura um pouco de lado para embarcar no jornalismo. O Dono do Morro – Um Homem e a Batalha pelo Rio (Companhia das Letras, 353 páginas), do jornalista inglês Misha Glenny, é do tipo que vale a viagem.

O livro reúne as qualidades essenciais para uma boa reportagem. É bem escrito, bem apurado e, o que considero seu grande trunfo, se baseia em um dos personagens mais interessantes a emergir dos morros do Rio de Janeiro nas últimas décadas: o Nem da Rocinha.

Sua história é digna de cinema. Antônio Francisco Bonfim Lopes nasceu em uma família pobre. A mãe era empregada doméstica e passava a maior parte da semana dormindo no emprego, em um dos bairros abastados da orla do Rio de Janeiro. O pai pulava de trabalho em trabalho, mas acabou se fixando em um bar de Copacabana. Os dois bebiam e o lar tinha episódios violentos.

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