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Vamos falar sobre a Amazônia?

Nas últimas semanas, a Amazônia esteve no centro do debate no Brasil. Seguindo tendência já observada em 2019, o desmatamento continua a aumentar na região com uma rapidez alarmante, ameaçando a biodiversidade de um dos biomas mais importante do planeta. A questão se tornou tão urgente que tem mobilizado grandes empresas, sociedade civil e ONGs na articulação de políticas que poderiam ser adotadas imediatamente para conter a devastação. O debate, ainda assim, continua repleto de desinformação e notícias falsas, muitas vezes espalhadas por representantes do próprio governo. Para lidar com alguns desses mitos e achismos fáceis, listamos três ótimas leituras para aumentar seu grau de informação sobre Amazônia e, principalmente, sobre a relação que nós, seres humanos, temos hoje com a natureza. E, claro, como podemos mudá-la. Tem outras dicas? Compartilhe com a gente aqui nos comentários!

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[Resenha] Pessoas Normais, de Sally Rooney

Pessoas Normais (Companhia das Letras, 264 páginas) é, a princípio, um romance adolescente. Connell e Marianne se conhecem na escola de ensino médio em que os dois estudam, em uma cidade do interior da Irlanda, e se apaixonam. Poderia ser só isso, mas Sally Rooney encontra na força do primeiro amor, com seus desencontros, desencantos e dificuldades, o caminho para escrever um livro muito saboroso, daqueles que fazem a gente querer voltar a viver as angústias e dramas da adolescência.

O romance é improvável. Marianne é uma garota reclusa na escola, com dificuldade de se relacionar com os colegas e com a família. Já Connell é o astro do time de futebol, popular e sempre rodeado de amigos. O encontro dos dois, embora convivam nas salas de aula, se dá na casa de Marianne: a mãe de Connell é funcionária da mansão em que ela vive, o que também logo evidencia a distância social entre os dois.

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[Resenha] Se a Rua Beale Falasse, de James Baldwin

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James Baldwin escreveu este clássico da literatura americana em 1974, mas a trama de Se a Rua Beale Falasse (Companhia das Letras, 224 páginas) ainda é uma realidade incômoda: Fonny é um jovem negro preso em função de uma falsa acusação de estupro, o que leva sua namorada, Tish, a engajar toda sua família na luta pela liberdade do noivo, ao mesmo tempo em que tem que reunir forças para levar adiante sua gravidez. 

O racismo institucionalizado na sociedade americana, mesmo em uma cidade cosmopolita como  Nova York, é o pano de fundo desse romance, do qual emergem muitas de suas qualidades. Baldwin trata, em sua narrativa, das muitas injustiças a que são submetidas as populações mais vulneráveis de uma cidade com a qual tinha uma relação de amor e ódio. Sobre algumas, ele não se aprofunda, mas nos faz entrever um buraco fundo. Um exemplo é o sistema prisional. Sabemos pelas visitas de Tish que a prisão terá efeitos indeléveis sobre Fonny, mas nunca ultrapassamos as barreiras de vidro interpostas entre o casal.

Ao tangenciar injustiças sistêmicas, Baldwin escancara um abismo muito mais profundo, o que distancia os jovens de seus sonhos e de seu potencial. O sonho americano é um privilégio de poucos – certamente não ao alcance de Tish e Fonny. Os dois se conheceram ainda bastante jovens, vizinhos no Harlem, um bairro habitado majoritariamente pela população negra. Enquanto a família de Tish é bem estruturada, Fonny tem que lidar com a aversão da mãe, que prefere as duas filhas mais novas, de pele mais clara. A desigualdade, na experiência pessoal de Baldwin, começa em casa e dali se prolonga para a rua. 

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[Resenha] O Sol na Cabeça

Geovani Martins tem apenas 26 anos, mas seu romance de estreia, O Sol na Cabeça (Companhia das Letras, 119 páginas), teve ampla divulgação por sua editora, recebeu elogios de Chico Buarque e já teve direitos vendidos para mais de nove países. Embora poucos consigam realizar feito parecido, não é difícil entender esse magnetismo:  Martins nasceu em Bangu e foi criado no Vidigal. É filho de uma cozinheira com um jogador de futebol amador. Seu destino como escritor parecia improvável, mas é justamente a infância e a adolescência pobres do autor que formam a essência – e o apelo –  dos treze contos que compõem este livro, que partem de episódios cotidianos para expor as fraturas de uma sociedade que se divide entre morro e asfalto.

Essa primeira divisão está, muito claramente, na linguagem. As gírias, aqui, não estão entre aspas ou em itálico, como estamos tão acostumados a observar. A concordância deixa de ser perfeita. A oralidade tão literal que Martins exibe em alguns de seus contos, como Rolézim, que abre o livro, nos faz imergir na vida das favelas cariocas, a realmente escutar quem quase nunca tem voz.

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[Resenha] Carta a D.

O jornalista austríaco André Gorz conheceu Dorine em 1947, em Lausanne, na Suíça, pouco depois do fim da Segunda Guerra Mundial. Como ele mesmo reconhece, o romance entre os dois era pouco provável. O que Dorine, uma bela e resoluta jovem inglesa, poderia querer com ele, um austrian jew, como o autor se define? Carta a D. (Companhia das Letras) que Gorz escreveu para a esposa depois de quase cinquenta anos juntos, busca retomar os alicerces dessa paixão, em talvez uma das mais memoráveis declarações de amor da literatura.

Você está para fazer oitenta e dois anos. Encolheu seis centímetros, não pesa mais do que quarenta e cinco quilos e continua bela, graciosa e desejável. Já faz cinquenta e oito anos que vivemos juntos, e eu amo você mais do que nunca. De novo, carrego no fundo do meu peito um vazio devorador que somente o calor do seu corpo contra o meu é capaz de preencher.

Mesmo sabendo que o amor é filosoficamente difícil de ser definido, Gorz tenta evocar os marcos de uma relação duradoura, buscando de certa forma explicar o inexplicável: porque nos apaixonamos por determinada pessoa, e não por outra, e porque continuamos a amá-la a vida inteira.

Um momento fundamental na vida do casal foi a decisão sobre o casamento. Para Gorz, uma burocracia que codificava juridicamente uma relação de amor. Para Dorine, o casamento tinha outro sentido:

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