Quando as semanas viram meses, é tomado pelo cansaço e arrefece, mas não desiste. O pai que procura a filha desaparecida nunca desiste. Esperanças já não tem, mas não desiste. Agora quer saber como aconteceu. Onde? Quando exatamente? Precisa saber, para medir sua própria culpa. Mas nada lhe dizem.
Bernardo Kucinski em K. – Relato de uma Busca
“Abrace-a com força se você a tem; abrace-a muito, pensei, é meu conselho para todos que estão vivos. Respire o perfume dela, encoste o nariz em seu cabelo, respire profundamente o perfume dela. Diga o nome dela. Será sempre o nome dela. Nem a morte pode roubá-la. O mesmo nome, viva ou morta, sempre. Aura Estrada.”
Francisco Goldman em Diga o Nome Dela
“Parece que estamos em guerra, Claro que estamos em guerra, e é guerra de sítio, cada um de nós cerca o outro e é cercado por ele, queremos deitar abaixo os muros do outro e continuar com os nossos, o amor será não haver mais barreiras, o amor é o fim do cerco”.
José Saramago em História do cerco de Lisboa
“As igrejas perfiladas à margem do rio pareciam querer provar que as pessoas decentes continuavam acreditando nas coisas. Talvez acreditassem mesmo. Talvez achassem que fazia diferença todos os rituais de casamentos e batizados, crismas e enterros, todos os séculos de invocação em suas diferentes igrejas, cheias do mesmo ar gelado, para que as coisas se mostrassem com um sentido, afinal, para que houvesse alguma prova de que o mundo está em mãos mais capazes que as humanas.”
Ali Smith em garota encontra garoto
“Se eu tivesse vontade de encomendar um anel para mim, escolheria a seguinte inscrição: ‘Nada passa’. Acredito que nada passa sem deixar marcas e que cada pequeno passo nosso tem um significado para a vida presente e futura.”
Anton Pávlovitch Tchekhov em Minha Vida
![[English ⬇️] “Doramar ou a Odisseia”, lançado recentemente pela @todavialivros, é uma coletânea de contos de @itamarvieirajr, um dos principais autores brasileiros contemporâneos. Com histórias que vão do rural ao urbano, do sertão ao litoral, do passado ao presente, Itamar retrata as várias nuances e contradições da sociedade brasileira. Essas contradições ora se manifestam em grandes conflitos ora em cenas cotidianas. Alguns dos temas do aclamado “Torto Arado” (romance de estreia do escritor), a exemplo da conexão entre homem, terra, trabalho e desigualdade social, se repetem nesses contos. No entanto, diferente do tom mais doce e delicado que emerge do romance, apesar do contexto árido que ele retrata, os contos da coletânea se caracterizam por um tom mais sombrio, em que o sofrimento se expressa em exaustão, angústia, vingança e até mesmo violência. São histórias que certamente incomodam uma sociedade acostumada a banalizar e perpetuar injustiças. Difícil escolher um conto favorito, mas, sem dúvida, o último merece um destaque especial! Nele, a literatura encontra a arte em uma linda homenagem a um grande artista brasileiro.](https://www.achadoselidos.com.br/wp-content/plugins/instagram-feed/img/placeholder.png)
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