Geovani Martins tem apenas 26 anos, mas seu romance de estreia, O Sol na Cabeça (Companhia das Letras, 119 páginas), teve ampla divulgação por sua editora, recebeu elogios de Chico Buarque e já teve direitos vendidos para mais de nove países. Embora poucos consigam realizar feito parecido, não é difícil entender esse magnetismo: Martins nasceu em Bangu e foi criado no Vidigal. É filho de uma cozinheira com um jogador de futebol amador. Seu destino como escritor parecia improvável, mas é justamente a infância e a adolescência pobres do autor que formam a essência – e o apelo – dos treze contos que compõem este livro, que partem de episódios cotidianos para expor as fraturas de uma sociedade que se divide entre morro e asfalto.
Essa primeira divisão está, muito claramente, na linguagem. As gírias, aqui, não estão entre aspas ou em itálico, como estamos tão acostumados a observar. A concordância deixa de ser perfeita. A oralidade tão literal que Martins exibe em alguns de seus contos, como Rolézim, que abre o livro, nos faz imergir na vida das favelas cariocas, a realmente escutar quem quase nunca tem voz.