Leitor no divã (página 7 de 13)

Nós, leitores, somos seres cheios de manias. Queremos sentir que não estamos sozinhas no mundo com nossas, digamos, peculiaridades. Leia, identifique-se e comente!

[Divã] O fim da privacidade

Na semana passada, fomos convidadas pela Companhia das Letras para assistir à pré-estreia de O Círculo, filme baseado no romance de David Eggers, recém-lançado no Brasil (o texto contém algumas informações sobre a sinopse do filme, para quem não gosta de spoilers!)

O filme começa com Mae, interpretada por Emma Watson, voltando do trabalho em um carro bem velho, que quebra no meio da estrada e a obriga a chamar um amigo para ajudá-la. Ao poucos, vamos nos ambientado em sua vida: um dia a dia tedioso em um trabalho mal pago, que mal lhe permite dar suporte financeiro para sua família. Para complicar mais a situação, a saúde do pai vai se deteriorando e, claro, o convênio não cobre os custos do tratamento. A vida simples da personagem é visível de seu vestuário até seu carro caindo aos pedaços.

As coisas começam a mudar quando sua amiga Annie lhe consegue uma entrevista em uma empresa chamada Círculo, situada em um “campus” semelhante ao do Google ou Facebook. Aceita na empresa depois de uma entrevista um tanto atípica (e superficial), Mae passa a mergulhar no mundo das empresas de tecnologia.

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[Divã] Existe final feliz na literatura?

“No fim tudo dá certo, e se não deu certo é porque ainda não chegou ao fim.” A famosa frase de Fernando Sabino é sempre lembrada, especialmente nas redes sociais, para indicar que uma situação difícil ainda tem saída. Mas quando pensamos em romance na literatura, fica mais difícil acreditar em final feliz.

Será que o amor é, de fato, como escreveu Ambrose Bierce há mais de um século em Dicionário do Diabo,

Insanidade temporária curada pelo casamento ou pela remoção do paciente das influências sob as quais ele contraiu a doença?

Para além do humor irônico de Bierce, sabemos que a literatura é recheada de romances que não acabaram bem. Os clássicos, como Romeu e Julieta, Anna Kariênina, Emma Bovary e Dom Casmurro, todos contam histórias de paixões que, no enfrentamento de disputas familiares, de convenções sociais, do desgaste do tempo e de olhares suspeitos sobre o casamento, acabaram se desfazendo.

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[Divã] Memória e literatura

… evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesmo é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me a tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Esse é um trecho do prólogo de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Escolhi um representante emblemático para abrir esta reflexão que pretende adentrar os meandros de uma relação duradoura e prolífica: a da literatura com a memória.

Machado de Assis deu provas de sua genialidade ao conceber um romance narrado por um “defunto autor”. De sua própria cova, Brás Cubas relembra a história de sua vida, escrevendo-a com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”.

Embora Machado tenha alçado as narrativas que se apoiam na memória a um patamar talvez inalcançável, não são poucas as obras que se lançam nessa direção.

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[Divã] Domínio da linguagem

Após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, muito se falou e escreveu sobre o aumento da procura por livros que retratam um futuro distópico, com Estados totalitários assumindo poder absoluto sobre cidadãos.

Assim, dispararam as vendas de 1984, o clássico escrito por George Orwell sobre um governo hiperautoritário capaz de monitorar – e controlar – cada passo de seus cidadãos.

Publicado em 1932, Aldous Huxley imaginou, em Admirável Mundo Novo, um planeta dividido em dez grandes regiões administrativas, com definições categóricas das funções de cada um na sociedade. Os menos dotados vão para o trabalho braçal, outros são destinados a comandar. Os avanços da ciência passam a ditar o destino de cada um, sem espaço para surpresas, para o imponderável, o imprevisível.

Mais recentemente, até por causa do seriado que está sendo transmitido nos Estados Unidos com base no livro, quando se pensa em futuro distópico, não se fala em outra obra que não seja O Conto da Aia, de Margaret Atwood. Empolgante na mesma medida em que é absolutamente assustador, a escritora canadense descreve um mundo em que as mulheres perderam qualquer direito ou liberdade.

O Estado patriarcal que assumiu os Estados Unidos divide essas mulheres em esposas, aias ou serviçais: as que não se encaixam nesses perfis são enviadas para as Colônias, no qual se encarregam de limpar rejeitos radioativos. O acesso à informação foi quase totalmente extinto. A leitura foi banida, e a comunicação é estritamente controlada.

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[Divã] Pequenos leitores

Comecei a ler cedo. Quase não tenho lembranças da época em que as letras não faziam sentido para mim. Entrei na escola aos três anos de idade, mas antes disso já via minhas irmãs trazerem livros e cadernos de caligrafia para casa. Assim começou meu encantamento com as palavras.

Sempre tive afinidade com gramática, redação e literatura, mas não acho que o hábito da leitura tenha resultado apenas de um processo natural. Exemplo e incentivo foram essenciais nesse caminho.

Meus pais nunca foram grandes leitores e nossa casa não tinha paredes cobertas por livros. A escola, portanto, teve um papel decisivo. Recordo-me com clareza das competições que premiavam quem lesse mais páginas por mês. Comecei a montar minha pequena biblioteca dessa forma. Quanto mais lia, mais chances eu tinha de ganhar aquele título cobiçado da Série Vaga-Lume.

Recentemente, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie lançou o ótimo Para Educar Crianças Feministas, uma livro-manifesto que reproduz a carta da autora a uma amiga, que havia acabado de ser mãe e lhe pedia conselhos para criar a filha como feminista. O livro inteiro traz verdades urgentes e, uma delas, fala sobre a leitura:

Ensine Chizalum a ler. Ensine-lhe o gosto pelos livros. (…) Os livros vão ajudá-la a entender e questionar o mundo, vão ajudá-la a se expressar, vão ajudá-la em tudo o que ela quiser ser – chefs, cientistas, artistas, todo mundo se beneficia das habilidades que a leitura traz. (…) Se nada mais der certo, pague-a para ler. Dê uma recompensa. Sei dessa nigeriana incrível, Angela, uma mãe solo, que estava criando a filha nos Estados Unidos. A menina não gostava de ler, então a mãe decidiu pagar cinco centavos para cada página lida. Mais tarde, ela dizia brincando: “Saiu caro, mas o investimento valeu a pena”.

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