Leitor no divã (página 12 de 13)

Nós, leitores, somos seres cheios de manias. Queremos sentir que não estamos sozinhas no mundo com nossas, digamos, peculiaridades. Leia, identifique-se e comente!

Amores platônicos

E, de uma hora para outra, só pensamos nele. Não queremos saber de mais nada. Nem do trabalho, nem dos amigos. Cada segundo a mais juntos conta. Dormir fica difícil, se não desnecessário. E quase o tempo todo somos invadidos pelo temor de que uma hora tudo vai chegar ao fim. É, não é fácil quando nos apaixonamos por um livro.

Quase sempre essa paixão resulta em um relacionamento sério com o autor da obra. E aí  vem o drama: o que fazer quando um bom autor só escreveu um ou dois livros? No amor literário, nem sempre temos a sorte de nos apaixonar por Balzac e os 88 títulos da Comédia HumanaÀs vezes, nos vemos profundamente envolvidos com escritores novos, como foi o caso de Daniel Galera e seu Barba Ensopada de Sangue. Nosso primeiro encontro foi fugaz.

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Leitores anônimos

No metrô, em cafés, no parque ou até mesmo andando. Se há uma cena cotidiana que me inspira é a de pessoas lendo em lugares públicos. Vamos ser francos: não vivemos em um país que tem a cultura do livro, menos ainda em situações como essas, em que os smartphones – e suas redes sociais que tudo e nada conectam – surgem como a distração mais cômoda.

Momentos literários desse tipo são cada vez mais raros, por isso não meço esforços para aproveitá-los. Sou do tipo que faz peripécias para ampliar meu campo de visão e, assim, descobrir, sem denunciar minha curiosidade, qual livro o desconhecido ao meu lado está lendo. Vale até fingir dores nas costas e simular alongamentos para virar o pescoço em direção à capa misteriosa. Nem preciso dizer o quanto as leituras em tablets têm impossibilitado essa tarefa. O maior pecado dos e-books foi ter tirado da capa do livro sua condição de vitrine.

Não é sempre que o esforço da investigação é recompensado. Além do inconveniente dos tablets, há certos leitores que dificultam esse intercâmbio literário. Dobrar o livro, por exemplo, é prática que nunca entendi bem, porque não só atrapalha a curiosidade alheia, como também impede a passagem rápida à página seguinte e, principalmente, cria vincos pavorosos!

Outro obstáculo, por sorte cada vez menos comum, são as capas protetoras. Usá-las pode ter justificativas bastante plausíveis, entre elas proteger a integridade do livro ou a imagem do leitor (nunca se sabe o gosto literário duvidoso que está por baixo da proteção), mas ainda assim não é nada gentil com os curiosos de plantão.

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A importância dos livros ruins

Na semana passada, com a divulgação da quarta edição dos Retratos da Leitura no país, nos deparamos mais uma vez com a triste, mas não muito surpreendente, notícia de que o Brasil é um país que lê pouco e que esse pouco é de uma qualidade bastante duvidosa.

Segundo o levantamento, 44% dos brasileiros simplesmente não leram nenhum livro nos últimos três meses. O livro mais citado, não tem concorrência, é a Bíblia. Entre as obras mais marcantes, temos o onipresente O Pequeno Príncipe e também alguns títulos juvenis, como Cidade de Papel. Em quinto lugar, não muito longe da Bíblia, apareceu Cinquenta Tons de Cinza, como bem reparou uma amiga. Brasil, o país dos contrastes.

Definitivamente, não são o que o romancista americano Jonathan Franzen chama de “livros sérios”. No entanto, acredito fortemente que os livros não tão bons assim – e até mesmo os ruins – tem um importante papel na formação de leitores. Afinal, ninguém começa a vida lendo Flaubert. 

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[Escritores] Mario Vargas Llosa

Cheguei atrasada. As luzes já estavam apagadas e não conseguia enxergar se havia lugares mais à frente. Senti um desânimo. Não era hoje que eu veria tão de perto um Nobel de Literatura.

Mas tudo bem, na minha lista “Indicadores de Sucesso na Vida”, eu havia sido modesta na meta. Tinha estipulado apenas “conhecer um prêmio Nobel de Literatura”. Não havia nenhuma cláusula sobre proximidade ou interação. Podia dar um check.

O mediador fez uma breve apresentação do evento e do escritor. Chuva de aplausos, iluminação no púlpito, uma voz serena e firme (até demais para seus 80 anos) retomou o silêncio. Mario Vargas Llosa estava ali, a alguns metros de distância, falando um espanhol tranquilo e muito agradável.

No início, confesso que me distraí e perdi alguns momentos. Primeiro, porque as luzes se acenderam e eu consegui um lugar mais para frente. Encolhe pernas, pede licença, esbarra nas pessoas. Odeio fazer isso, mas foi por uma boa causa. Agora, já podia dar um check na minha lista com mais convicção. O segundo motivo da minha distração foi alguém, ao meu lado, que escutava no volume mais alto a tradução simultânea (e desnecessária) da palestra.

Passada essa confusão inicial, embarquei na narrativa de Llosa. O tema deste ano do Fronteiras do Pensamento, evento que trouxe o escritor peruano, é “A Grande Virada”. A abordagem escolhida por Llosa foi a virada que marcou sua formação política. Ele narrou por mais de uma hora sua trajetória nesse campo, que começou aos 14 anos, época em que o Peru atravessava a ditadura do general Odría.

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