Leitor no divã (página 11 de 13)

Nós, leitores, somos seres cheios de manias. Queremos sentir que não estamos sozinhas no mundo com nossas, digamos, peculiaridades. Leia, identifique-se e comente!

[Escritores] Valter Hugo Mãe

Como é possível alguém traduzir nas palavras mais belas certas verdades essenciais que parecem inexplicáveis? Essa é a sensação que fica quando lemos um livro de Valter Hugo Mãe.

Nesta semana, cerca de dois anos depois de conhecê-lo no lançamento de seu romance A Desumanização, eu tive a oportunidade de presenciar mais uma vez a sabedoria desse escritor português nascido em Angola. E acreditem: ouvi-lo é tão bom quanto lê-lo.

Hugo Mãe esteve em São Paulo na última quarta-feira, dia 31, para participar do ciclo de palestras do Fronteiras do Pensamento. Sua relação com a literatura foi o principal tema da conversa, que começou com a leitura do texto Deus era um livro, escrito especialmente para o evento.

Em primeira pessoa, a prosa revela a infância de um menino cujas lembranças literárias mais remotas coincidem com a existência de uma Bíblia em casa. Aquele objeto, tão vivo quanto inanimado, despertava a curiosidade e a imaginação da criança.

Minha avó explicava, “a Bíblia é a esperança… a Escritura sofria”. Lembro-me bem de pensar acerca disso. Durante a profunda atrocidade do mundo, a Bíblia, tão cheia de esperança e tão antiga, sofria. Era um livro magoado. Ela sabia que os erros são cíclicos e que a humanidade aprende pouco. Faz sempre pior do que pode. (…)

Eu imaginava a Bíblia, não a lia. Imaginava. Creio que a frequentava pela sua emanação e não pelo que efetivamente pudesse conter. Fechada na sua história infinita e sagradíssima, eu inventava sua mensagem com todas as forças do meu pensamento, com toda a criatividade de minha ilusão. Enternecia-me com luzes e flores, todas as grandes e pequenas dores, solidões ou fragilidades. Acreditava que ser sagrado vinha de estar atento e proteger.

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Esportes literários

Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro começaram há pouco menos de duas semanas e, desde então, tenho dedicado praticamente 18 horas por dia aos dezesseis canais de transmissão disponíveis. São, portanto, muitas horas que eu subtraí da minha rotina semanal de leitura, reduzindo dramaticamente minhas chances de bater recordes literários em 2016.

Da lista de 10 livros para ler em 2016 que postei no blog no início do ano, por enquanto posso marcar check em um nada honroso total de de 4 volumes. Com certeza, um resultado que não me coloca em pódio nenhum. Claro que sempre aparecem outro títulos para roubar a nossa atenção – caso de Elena Ferrante com sua série napolitana, por exemplo -, mas o fato é que ler tudo o que gostaríamos é uma impossibilidade material que, muitas vezes, causa certa depressão aos leitores de carteirinha.

Lembrei do assunto quando a Mari comentou comigo um episódio de Gilmore Girls (disponível no Netflix, outro forte concorrente na luta por tempo disponível). Na terceira temporada, Rory visita a biblioteca de Harvard (ou as bibliotecas, já que são mais de 70) e descobre que naqueles prédios estão mais de 16 milhões de volumes. Ela entre em parafuso porque “só” tinha lido 300 livros até ali e começa a fazer cálculos do quanto ainda precisava  acumular em páginas para dar conta de toda a literatura disponível no mundo.

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Orgulho brasileiro

Na última quinta-feira, compartilhamos, em nossa página no Facebook, uma notícia sobre a escritora britânica Ann Morgan, que se desafiou a ler, em um ano, um livro de cada país do mundo. No dia seguinte, tiveram início os Jogos Olímpicos, competição esportiva entre nações, famosa por instigar o orgulho de pertencer. Tudo isso me fez pensar sobre minha relação com a literatura brasileira.

Me peguei imaginando quais títulos eu indicaria a Morgan, para que ela visse o crème de la crème de nossa produção literária, ou quais escritores compatriotas despontariam no meu quadro de medalhas. Vários nomes me passaram pela cabeça, mas também percebi, com um misto de vergonha e tristeza, uma defasagem de representantes brasileiros contemporâneos em minha lista de achados e lidos.

Indicar clássicos brasileiros não é difícil. Quem lê meus posts por aqui sabe da minha paixão por Machado de Assis, por exemplo. A biblioteca da minha escola era predominantemente de literatura nacional. Quem se lembra da Série Bom Livro, da Editora Ática? Ela fez parte da minha adolescência e construiu minhas primeiras memórias de leituras de alta qualidade. Desde os romances água com (muito!) açúcar de Joaquim Manuel de Almeida e José de Alencar até as incomparáveis obras machadianas. Eu, que estava acostumada à estrutura narrativa tradicional, com heróis e anti-heróis, de repente sou apresentada ao defunto autor, de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Imaginem meu encantamento diante da originalidade desse escritor:

Algum tempo hesitei se devia abrir estas Memórias pelo princípio ou pelo fim, isto é, se poria em primeiro lugar o meu nascimento ou a minha morte. Suposto o uso vulgar seja começar pelo nascimento, duas considerações me levaram a adotar diferente método: a primeira é que eu não sou propriamente um autor defunto, mas um defunto autor, para quem a campa foi outro berço; a segunda é que o escrito ficaria assim mais galante e mais novo.

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Confissões

O Achados e Lidos é um blog sobre literatura e, portanto, nada mais natural do que passarmos quase o tempo todo dividindo com nossos leitores a paixão por autores, livros, temas e outras notícias relacionada ao assunto. Mas como hoje é dia de Divã, achei que era hora de confessar alguns dos meus traumas. A verdade nua e crua é a seguinte: há autores que todo mundo gosta e que eu não suporto. O santo não bate. A escrita não me arrebata. E não é por falta de esforço.

Essa é uma agonia recorrente quando, navegando por listas abundantes na internet, encontro seleções de clássicos que todo mundo deveria ler um dia na vida. E lá estão, sempre eles. Aqueles autores que eu deveria ter em boa conta, mas que, com certa vergonha, preciso confessar que não gosto.

O que me traz mais embaraço é, sem dúvida, Franz Kafka. Quantas vezes em conversas animadas sobre livros tive que admitir, em voz bem baixa, quase inaudível, que não admiro muito seus livros. E não é um caso clássico de “não li e não gostei”. Encarei A Metamorfose ainda nos tempos de colégio e a história de Gregório Samsa, o homem que despertou de sonhos inquietantes como um gigantesco inseto, me deixou um pouco traumatizada. Atribuí a falta de amor ao livro, porém, à parca capacidade de compreensão de metáforas de uma jovem de menos de 15 anos. Com certeza era mais um caso de autor certo na hora errada.

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Notas sobre a Flip 2016

Sempre gostei de literatura, mas nunca tinha ido à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Em 2016 não podia deixar passar. Afinal, este é o ano em que comecei a levar minha paixão pelos livros mais a sério. Eu e Tatá lançamos o blog, me tornei uma leitora mais atenta e estou acompanhando de perto o que acontece no universo literário.

Minhas expectativas, que não eram poucas, foram todas atendidas. A cidade, que havia visitado na minha adolescência e da qual já não me lembrava bem, conseguiu ficar ainda mais bonita com a atmosfera criada pela Flip. Não imagino lugar melhor no nosso país para sediar essa festa.

A sensação que tive quando lançamos o blog – de satisfação por encontrar tantas pessoas interessadas em literatura – me invadiu novamente nesses dias. Ouvi sotaques de todas as regiões e esbarrei com várias gerações. Nas filas para os autógrafos e para as mesas, escutei conversas e tive diálogos fortuitos com pessoas que carregavam o mesmo entusiasmo e ansiedade que eu.

Literatura no chão, em movimento, em espera, pendurada em árvores, em rodas de crianças, deitada na grama… Se vocês me perguntarem o que eu ouvi de mais interessante na Flip com certeza foi isto: o burburinho alentador de livros ganhando vida por toda parte.


Deixei aqui embaixo o que pude resgatar das minhas anotações (nem sempre legíveis! rs) de cada uma das mesas que acompanhei.

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