Autor: Tainara Machado (página 11 de 38)

[Divã] O que você faz com o seu tempo?

Tenho me feito a pergunta do título desse post com frequência: para onde vai o tempo que antes eu conseguia dedicar à leitura?

A reflexão, claro, tem a ver com o fato que chegamos aos últimos dias de janeiro e eu li… só um livro até agora (a resenha de O Deus das Pequenas Coisas está aqui). A confissão um pouco embaraçosa para quem mantém um blog literário cujo propósito é justamente estimular as pessoas a ler mais serve justamente para me fazer pensar no que está atrapalhando minha rotina de leitora.

Bom, o primeiro culpado, sem dúvida, são as redes sociais. Vocês já devem ter esbarrado por matérias mostrando como você poderia ler 400 livros por ano se não perdesse metade da sua vida divagando pelo Instagram, não é?

O pior é que elas são, em grande parte, verdadeiras. Antes do advento do celular com internet, eu levava um livro para todos os lugares, no melhor estilo Rory, de Gilmore Girls. Hoje em dia, muitas vezes me pego divagando pelo celular na espera pela consulta, ou no ônibus, em vez de me dedicar ao livro que viaja comigo.

Essa perda de tempo incessante já ganhou até sigla: foma (fear of missing out, ou medo de estar por fora, em uma tradução livre). Se você checa o Facebook a cada cinco minutos ou rola a timeline do seu instagram até não ter mais novidades, é provável que você se encaixe no perfil.

Reconheço meu problema, mas isso não me livra  do vício. Enquanto escrevia esse texto, por exemplo, parei diversas vezes para checar minha redes, mesmo sabendo que eu tinha outras prioridades para o dia (também poderíamos dizer que eu estava procrastinando, mas essa é outra discussão).

A concentração para a leitura também fica mais difícil. Seja por cansaço, desatenção ou as mil tarefas do dia a dia, anda difícil conseguir ler, ainda mais clássicos, como me propus no início deste ano. Para superar esse momento, andei vasculhando outros blogs em busca de dicas para ler mais. Tem quem tenha suporte para ler almoçando, ou quem aproveite qualquer situação para avançar algumas páginas. Mas o que mais me surpreende é que muitos têm horários e metas bastante exigentes de leitura ao longo da semana. Uma hora de leitura antes de ir para o trabalho, mais uma durante o almoço, duas no fim do dia. Não há como não admirar a autodisciplina, mas acho que esse plano nunca funcionaria pra mim.

A leitura, como já disse aqui várias vezes, é uma atividade prazerosa, uma porta de escape da rotina, do trabalho, do mundo de prazos, metas e cobranças a que somos submetidos diariamente. Por isso, sempre foi uma atividade livre, descomprometida.

No entanto, notei que nos últimos tempos isso tem me levado a escolher romances menos desafiadores (o que não significa piores, que fique claro), menores e de linguagem mais acessível.

Como a meta para o ano é voltar para os clássicos, que andam meio escanteados há um tempinho, vou precisar de técnicas para ler mais!

Querem sugerir por aqui?

 

O Corvo

Vendo que o pássaro entendia
A pergunta que lhe eu fazia,
Fico atônito, embora a resposta que dera
Dificilmente lha entendera.
Na verdade, jamais homem há visto
Cousa na terra semelhante a isto:
Uma ave negra, friamente posta
Num busto, acima dos portais,
Ouvir uma pergunta e dizer em resposta
Que este é seu nome: “Nunca mais”.

 

Edgar Allan Poe em O Corvo

[Resenha] O Deus das Pequenas Coisas

O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy (Companhia de Bolso, 352 páginas), poderia ser descrito como um livro sobre a relação quase siamesa entre irmãos gêmeos. Ou sobre a Casa Ayenemen, um lugar em que realidade e imaginação se misturam de forma fluída. Mas a melhor definição é da própria autora: essa é uma obra sobre as leis que determinam “quem deve ser amado, e como. E quanto”.

O livro tem como ponto de partida o retorno de Rahel, uma das metades do casal de gêmeos bivitelinos que protagoniza a narrativa, para a cidade em que nasceu, após um longo tempo distante da Índia. Essa volta é significativa porque é a partir dos fragmentos da história que persistem em móveis, objetos e paredes de sua antiga casa que a escritora nos guiará até o dia fatídico em que tudo mudou. Logo na primeira página, Arundhati Roy nos encanta com seu poder descritivo, sua capacidade de criar imagens fortes e vívidas, nos deixando familiarizados com o ambiente que ela busca retratar:

Maio em Ayemenem é um mês quente, parado. Os dias são longos e úmidos. O rio encolhe, e corvos pretos se banqueteiam com belas mangas em árvores imóveis, verde-empoeiradas. Bananas vermelhas amadurecem. Jacas explodem. Varejeiras dissolutas zunem vagabundas no ar perfumado. Depois se estatelam contra vidraças transparentes e morrem, totalmente enganas, ao sol. (…) Mas no começo de junho irrompe a monção sudoeste, e vem três meses de vento e água com curtos intervalos de sol duro e brilhante em que crianças excitadas aproveitam pra brincar.

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[Lista] 24 livros para ler em 2018 (parte 2)

Depois da lista da Mari, recheada de boas dicas (especialmente se você colocou entre suas metas para 2018 ler mais mulheres), agora é a minha vez de selecionar 12 títulos para ler em 2018. Tentei me desafiar e incluir mais clássicos, novos autores e gêneros. Confira a lista abaixo e conte nos comentários em qual leitura você vai me acompanhar neste ano!

1. Frankenstein, de Mary Shelley, completa 200 anos de publicação em 2018. Ótima desculpa para revisitar uma das mais famosas histórias da literatura, com mais de 300 edições e 90 adaptações para o cinema em todo o mundo, não é? Li esse livro (em uma versão adaptada) na adolescência, mas é hora de encarar a versão original do Prometeu Moderno.

2. Clarice, de Benjamin Moser, entrou na lista como a biografia selecionada para o ano. Como já contei aqui, gosto muito desse gênero, e sempre mesclo minhas leituras de ficção com obras não-ficcionais. No entanto, percebi que a lista publicada no começo do blog é dominada por homens. Para mudar isso, vou me dedicar à história de uma das nossas autoras mais incríveis, escrita com maestria por um dos maiores conhecedores de sua obra, Benjamin Moser.

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“Imortalidade não basta aos inquietos. Eles terminam santos ou loucos. Deus mais inquietude é santidade. Inquietude mais inquietude é igual à lucidez – que talvez seja a forma complacente da loucura.”

 

Carlos Heitor Cony em Informação ao Crucificado

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