Autor: Mariane Domingos (página 39 de 43)

“… eu não sei bem a resposta
da pergunta que fazia,
se não vale mais saltar
fora da ponte e da vida;
nem conheço essa resposta,
se quer mesmo que lhe diga;
é difícil defender,
só com palavras, a vida,
ainda mais quando ela é
esta que vê, severina;
mas se responder não pude
à pergunta que fazia,
ela, a vida, a respondeu
com sua presença viva.
E não há melhor resposta
que o espetáculo da vida…”

 

João Cabral de Melo Neto em Morte e Vida Severina

[Resenha] Galveias

Com um enredo embalado pelo cotidiano e uma prosa que flerta com a poesia, o romance Galveias, do escritor português José Luís Peixoto, extrai beleza e sabedoria da simplicidade de um povoado esquecido no Alentejo, no interior profundo de Portugal.

O livro começa com um fato extraordinário. A pequena Galveias é acordada por estrondos misteriosos, vindos do espaço, em uma noite de janeiro de 1984. Uma “coisa sem nome” atinge a Terra e deixa na cidadezinha uma cratera que exala o cheiro forte de enxofre.

Ninguém tinha respostas. Do Queimado à Amendoeira, no Alto da Praça, na Deveza, na Fonte, as ruas estavam cheias de gente a expulsar de dentro de si o susto. Sob o trauma dos estrondos e o cheiro a enxofre, falavam sem parar. Perdiam o sentido, mas não perdiam a oportunidade. (…) Quando parecia que estavam compenetrados, não estavam realmente a ouvir, estavam só à espera de vez, à espera de um bocadinho vago para entrarem com o que tinham a dizer.

Em meio a essa afobação, é apresentado o povo galveense cujas histórias se desenrolam nas próximas páginas. São diversos personagens: o padre bêbado, o único médico da cidade, a prostituta padeira, a professora recém-chegada, os irmãos que não se falam há décadas, entre outros. Até os cachorros têm papel importante nos causos que afetam a vida no vilarejo! Cada capítulo dá conta de uma anedota que, em algum momento, desemboca na noite fatídica em que o cheiro de enxofre impregnou Galveias.

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[Lista] 5 casais interessantes da literatura

Falta pouco para o Dia dos Namorados e achei essa uma boa desculpa para fazer uma lista com cinco casais interessantes da literatura. Nem todos “viveram felizes para sempre”, mas tiveram uma história tão intensa, que o final é um mero detalhe.

1. Florentino Ariza e Fermina Daza (O Amor nos Tempos do Cólera): a história desses dois personagens é daquelas de novela! Após trocas de cartas e juras de amor eterno, a trajetória do casal é interrompida pelo matrimônio de Fermina com o doutor Juvenal Urbino, o promissor médico que venceu a epidemia do cólera.

Após meio século separados, Florentino reencontra Fermina no velório de Urbino e se declara a ela. Inicia-se aí a redescoberta de um amor suspenso no tempo. Os amantes, agora septuagenários, mostram que, a qualquer idade, é possível viver o novo.

O comandante olhou Fermina Daza e viu em suas pestanas os primeiros lampejos de um orvalho de inverno. Depois olhou Florentino Ariza, seu domínio invencível, seu amor impávido, e se assustou com a suspeita tardia de que é a vida, mais que a morte, a que não tem limites.

– E até quando acredita o senhor que podemos continuar neste ir e vir do caralho? – perguntou.

Florentino Ariza tinha a resposta preparada havia cinquenta e três anos, sete meses e onze dias com as respectivas noites.

– Toda a vida – disse.

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“A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos a planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes e mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. E é assim que devemos começar: precisamos criar nossas filhas de uma maneira diferente. Também precisamos criar nossos filhos de uma maneira diferente.”

Chimamanda Ngozi Adichie em
Sejamos Todos Feministas

[Resenha] A Morte em Veneza e Tonio Kröger

Começo esta resenha com a esperança de que ela inaugure uma longa série dedicada a Thomas Mann. Conheci o escritor alemão graças à belíssima coleção que a Companhia das Letras começou em 2015, com Doutor Fausto e A Morte em Veneza & Tonio Kröger, e seguiu, neste ano, com Os Buddenbrook.

Doutor Fausto e Os Buddenbrook são obras-primas do alemão, que mostrou todo seu fôlego narrativo nesses clássicos de mais de 600 páginas. Como não havia lido nada de Mann ainda, resolvi começar com uma leitura menos densa: A Morte em Veneza & Tonio Kröger. Seria uma espécie de teste para ver se eu poderia comprar, sem remorso de consumismo compulsivo, o restante da coleção. Digamos que o alemão passou com louvor. Que venham os outros livros para minha estante! 🙂

A primeira novela, A Morte em Veneza, conta a história de Gustav von Aschenbach, um célebre escritor obcecado pela perfeição em seu trabalho. Alcançou a fama ainda cedo, mas, nem por isso, superestimava seu talento. Tinha a consciência de que seus feitos eram resultado de autocontrole e muita disciplina, como vemos neste trecho:

Verdade é que desde a sua juventude Aschenbach considerara a pouca satisfação consigo mesmo a essência e íntima natureza do talento. Por causa dela, tinha o hábito de reprimir e temperar o sentimento, sabendo que este tende a se contentar com a aproximação feliz e a perfeição parcial.

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