Autor: Mariane Domingos (página 33 de 43)

[Resenha] A História dos Meus Dentes

O título e a capa inusitados, além da enxurrada de críticas positivas, fizeram com que este livro se destacasse nas prateleiras convidativas da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty). A escritora mexicana Valeria Luiselli esteve na edição deste ano do evento. Há pouco, terminei a leitura de A história dos meus dentes e confesso que me bateu o arrependimento por não ter presenciado a participação da jovem autora.

O personagem principal do romance é o leiloeiro Gustavo Sánchez-Sánchez, conhecido como Estrada. Sua meta na vida é trocar todos os seus dentes. Depois de ler sobre um escritor que conseguiu, a partir do sucesso de sua obra, juntar dinheiro para fazer esse investimento, Estrada acredita que ele também possui habilidades suficientes, principalmente a de leiloeiro, para financiar esse sonho.

Depois de estudar para se tornar um profissional requisitado no ramo, Estrada alcança, por fim, sua meta e decide que essa história merece ser contada:

Meu corpo magro e desajeitado, assim como minha vida um pouco sem rumo, tinha adquirido um novo brio com os novos dentes. Minha sorte não tinha equivalente, minha vida era um poema, e eu estava certo de que um dia alguém iria escrever um belo retrato da minha autobiografia dental.

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[Lista] 5 escritores que conheci graças ao Prêmio Nobel

Embalada pelo anúncio do Nobel de Literatura de 2016, a Lista da Semana traz cinco escritores que chegaram à minha estante principalmente pela visibilidade que ganharam com o prêmio mais famoso da literatura.

A polêmica do último laureado, o cantor e compositor Bob Dylan, gerou uma série de debates quanto aos efeitos de ter uma figura raramente associada ao universo literário ganhando um prêmio de tamanha importância no meio. Um dos artigos mais interessantes que li sobre essa discussão foi o do jornal americano The New York Times. Um dos pontos levantados, que inspirou este post, foi:

Enquanto a leitura cai ao redor do mundo, prêmios literários são mais importantes que nunca. Um grande prêmio significa salto nas vendas e no número de leitores, mesmo para escritores já conhecidos. Mas, mais do que isso, dar o Nobel para um escritor ou poeta é uma forma de afirmar que ficção e poesia ainda importam, que elas são esforços humanos cruciais que valem reconhecimento internacional.

Esta lista está aqui para confirmar o quanto esses prêmios têm um papel essencial na divulgação da boa literatura. Confira!

1. Alice Munro: vencedora do prêmio em 2013, a escritora canadense foi a primeira especialista em contos a receber o Nobel de Literatura. Eu não a conhecia antes disso e assim que vi as notícias que a coroavam como a “mestra do conto contemporâneo” não tive dúvidas de que precisava ler sua obra. Após algumas dicas nada indiretas de presentes de aniversário, ganhei um exemplar de Vida Querida, que, além dos contos, reúne quatro textos autobiográficos. Poucas semanas depois, terminei a leitura com a sensação de que a Academia Sueca havia acertado em cheio. Os personagens fortes, quase sempre mulheres, e a linguagem precisa de Munro garantem que seus textos, mesmo que breves, tenham a profundidade de um romance. No Brasil, temos vários títulos da autora traduzidos. A Tatá inclusive já resenhou Fugitiva, um de seus livros, aqui no Achados. Quem gosta de conto se esbalda com a obra de Munro e, quem não gosta, tem grandes chances de mudar de ideia!

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“Agora, agradeço a todos. Primeiro a você, caro professor, tão indulgente e afetuoso, e para quem cada novo aprendizado foi um trabalho do qual ora me alegro.”

 

Edmondo de Amicis em Coração

[Resenha] Reparação

Quem nunca desejou decifrar os pensamentos de outra pessoa? Reparação, de Ian McEwan, é um deleite para leitores com esse perfil. A habilidade do escritor inglês em descrever os sentimentos de seus personagens é o ponto alto deste romance que ficou entre os finalistas do Man Booker Prize e ganhou versão para o cinema com direção de Joe Wright.

A maior parte da história se desenrola no verão de 1935. Briony Tallis, a personagem central, é uma garota de 13 anos, com uma mente bastante fantasiosa. A caçula temporã de uma família tradicional e abastada, ela não demora muito para revelar sua personalidade controladora.

A chegada dos primos, Lola e os gêmeos, e principalmente dos irmãos, Cecilia e Leon, agitam a rotina insípida da menina. Ela decide escrever e dirigir uma peça de teatro que seria encenada no primeiro jantar, como boas-vindas ao irmão. Mais do que agradá-lo, Briony queria estar no centro das atenções e exibir seu talento com a escrita.

A peça era um drama romântico fortemente influenciado pelos contos de fadas que povoavam suas leituras – finais felizes previsíveis e heróis que salvam mocinhas sofredoras. Embora tivesse a técnica, Briony não tinha como ir além, porque sua experiência de vida era muito rasa:

…não havia gaveta oculta, diário com cadeado nem sistema de criptografia que pudesse esconder de Briony a verdade pura e simples: ela não tinha segredos. Seu desejo de viver num mundo harmonioso, organizado, negava-lhe as possibilidades perigosas do mal. (…) Não havia nada em sua vida que fosse interessante ou vergonhoso que chegasse para merecer ser escondido…

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“Todos os anos, quer dizer, o ano passado e o outro, porque antes é muito antigo e eu não me lembro, o papai e a mamãe discutem muito para saber onde passar as férias e depois a mamãe chora e diz que vai para casa da mãe dela, e eu choro também porque eu gosto muito da casa da vovó mas na casa dela não tem praia, e no fim a gente vai para onde a mamãe quer e nunca é na casa da vovó.”

 

Goscinny e Sempé em As Férias do Pequeno Nicolau

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