Autor: Mariane Domingos (página 23 de 43)

“Cedo ou tarde, na vida, cada um de nós se dá conta de que a felicidade completa é irrealizável; poucos, porém, atentam para a reflexão oposta: que também é irrealizável a infelicidade completa. Os motivos que se opõem à realização de ambos os estados-limite são da mesma natureza; eles vêm de nossa condição humana, que é contra qualquer ‘infinito’.”

 

Primo Levi em É isto um homem?

5 razões para ler e amar Machado de Assis

No dia 21 de junho de 1839, nascia, no Rio de Janeiro, Joaquim Maria Machado de Assis, grande nome da literatura brasileira e mundial. É claro que não poderia faltar aqui no Achados & Lidos uma homenagem a um dos nossos escritores favoritos.

No prefácio de 50 Contos de Machados de Assis, o professor inglês John Gledson lembra um comentário pertinente de Carlos Drummond de Andrade: “ler Machado de Assis era uma tentação permanente, quase como se fosse um vício a que tivesse de resistir”.

Como não poderíamos concordar mais, a lista de hoje (que deveria ser bem mais extensa) traz as cinco principais razões que tornam indispensável e apaixonante a leitura de Machado de Assis.

1. Há opções para todos os gostos.

Ama romances? Prefere contos? Aprecia a poesia? Gosta de crônicas? Machado de Assis atende, com excelência, qualquer preferência, desde que ela se inclua na boa literatura. Ele escreveu em praticamente todos os gêneros. Foi romancista, poeta, dramaturgo, cronista, contista, folhetinista, jornalista e crítico literário. Além disso, ainda atuou como tradutor de célebres colegas de profissão, como o francês Victor Hugo. Sem dúvida, ele é o autor que mais li até hoje, entre novidades e releituras. Há sempre uma coletânea ou uma nova edição para ser descoberta e incorporada à estante.

2. Os personagens de seus livros são inesquecíveis.

Capitu, Bentinho, Brás Cubas, Dr. Simão Bacamarte, Helena… Se você não conhece alguns desses nomes, provavelmente se sentirá deslocado em conversas literárias. De tanto que já foram comentados, alguns deles parecem até reais. A possível traição de Capitu a Bentinho, por exemplo, é uma das maiores polêmicas da literatura mundial.

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[Resenha] Homem no Escuro

Um quarto escuro e um senhor septuagenário que sofre de insônia e tem dificuldades de locomoção. Parece um cenário improvável para uma trama mirabolante – não nas mãos do escritor estadunidense Paul Auster. Homem no Escuro é uma narrativa guiada pela memória e imaginação de August Brill, crítico literário aposentado e viúvo, que já não tem muita expectativa em relação à vida e decide dedicar seu tempo às lembranças e à imaginação.

O escuro, protagonista já no título do livro, é o gatilho da mente do personagem. Quando a noite chega e a casa se aquieta, Brill é invadido pelas recordações. O antídoto que ele encontra para não sofrer pela ausência da companheira de anos é criar personagens, cenas de ação e um mundo paralelo, em que os Estados Unidos enfrentam uma guerra civil parecida com a Guerra de Secessão:

Não quero começar a pensar em Sonia. Ainda é muito cedo, e, se eu me deixar levar agora, vou acabar pensando nela durante horas. Vamos ficar concentrados na história e ver o que acontece se eu a tocar até o fim.

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amor
(love), s.m.

Insanidade temporária curada pelo casamento ou pela remoção do paciente das influências sob as quais ele contraiu a doença. Essa doença, como a cárie e muitas outras, só se encontra entre raças civilizadas que vivem em condições artificiais; nações bárbaras que respiram ar puro e comem alimentos simples gozam de imunidade contra seus ataques. Às vezes é fatal, mas com maior frequência para o médico do que para o paciente.”

 

Ambrose Bierce em Dicionário do Diabo

[Divã] Memória e literatura

… evito contar o processo extraordinário que empreguei na composição destas Memórias, trabalhadas cá no outro mundo. Seria curioso, mas nimiamente extenso, aliás desnecessário ao entendimento da obra. A obra em si mesmo é tudo: se te agradar, fino leitor, pago-me a tarefa; se te não agradar, pago-te com um piparote, e adeus.

Esse é um trecho do prólogo de Memórias Póstumas de Brás Cubas. Escolhi um representante emblemático para abrir esta reflexão que pretende adentrar os meandros de uma relação duradoura e prolífica: a da literatura com a memória.

Machado de Assis deu provas de sua genialidade ao conceber um romance narrado por um “defunto autor”. De sua própria cova, Brás Cubas relembra a história de sua vida, escrevendo-a com “a pena da galhofa e a tinta da melancolia”.

Embora Machado tenha alçado as narrativas que se apoiam na memória a um patamar talvez inalcançável, não são poucas as obras que se lançam nessa direção.

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