Autor: Mariane Domingos (página 22 de 43)

[Lista] 5 leituras para Flip 2017

O Achados & Lidos já está de malas prontas para a 15a Festa Literária Internacional de Paraty! \o/ Mais do que um evento para celebrar a literatura, a Flip é uma ótima oportunidade para (re)descobrir escritores. Do autor homenageado aos participantes das mesas, a lista de hoje traz cinco livros que já estão na nossa bagagem!

1. A Mulher de Pés Descalços, de Scholastique Mukasonga: desde que começaram a ser anunciados os convidados da Flip deste ano, esse foi o nome que mais chamou minha atenção. Nascida em Ruanda e sobrevivente das lutas fratricidas entre as etnias Tutsi e Hutu, Mukasonga é uma das principais escritoras e ativistas da diáspora negra.

Em A Mulher de Pés Descalços, a escritora revira suas memórias e dá voz à dor e à perda em uma comovente homenagem à mãe, Stefania. Li pouco mais de 30 páginas do livro e já senti um nó na garganta em diversos trechos.

Logo no início, Mukasonga explica que o livro foi a forma que ela encontrou de cumprir com um pedido da mãe: após sua morte, ter seu corpo coberto para que ninguém o visse, pois “não se deve deixar ver o corpo de uma mãe”. Mukasonga não pôde atender esse desejo, pois Stefania foi brutalmente assassinada no genocídio que devastou seu país:

Mamãe, eu não estava lá para cobrir seu corpo e não tenho nada além de palavras – palavras de uma língua que você não entenderia – para cumprir o que você pediu. E estou só com minhas pobres palavras e minhas frases, sobre a página do caderno, tecendo a mortalha de seu corpo ausente.

Alguém duvida que a participação de Mukasonga na Flip será marcante?

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[Resenha] Stoner

O cotidiano de um homem comum pode ser palco de uma grande história. Stoner, romance do americano John Williams, parte desse princípio para extrair de um enredo aparentemente banal uma literatura surpreendente.

Filho de camponeses humildes, nascido em 1891, o personagem central William Stoner entra na vida adulta sem grandes ambições de um futuro diferente do dos pais:

Aos 30, seu pai aparentava 50; encurvado pelo trabalho, contemplava sem esperança o árido pedaço de terra que sustentava a sua família de um ano para o outro. Sua mãe encarava a vida pacientemente, como se fosse uma longa espera que tivesse de suportar.

A primeira mudança de rota para Stoner vem quando um agente rural visita a propriedade de seu pai para anunciar a abertura de uma escola de Ciências Agrárias na Universidade do Missouri, perto da vila onde Stoner nasceu. Com o incentivo do pai, ele vai morar com um primo da mãe, nas redondezas da faculdade. Trabalhos braçais na pequena fazenda do parente lhe garantem casa e comida.

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[Divã] Bagagem literária

Detesto arrumar malas. Mas gosto de um momento específico dessa tarefa: separar os livros que levarei na viagem. Me permito excessos nesse quesito. Tudo que economizo de espaço na seleção das roupas, preencho com livros. Isso porque quando o assunto é literatura, toda minha objetividade se resume a esta bela frase do escritor moçambicano Mia Couto:

O segredo é permitir que as escolhas que a vida nos impõe não nos obriguem a matar a nossa diversidade interior. O melhor nesta vida é poder escolher, mas o mais triste é ter mesmo que escolher.

Na hora da arrumação, quero colocar toda minha diversidade literária interior na mala, rs. Não me apego muito a questões práticas, como por exemplo quantos dias dura o passeio. Gosto de estar preparada para qualquer tipo de imprevisto literário. Levar um livro apenas? Jamais. E se eu não gostar da história?

É preciso pensar que a viagem vai além da estadia. São também as longas esperas e trajetos. Minha paranoia com horários me rende bons períodos de leitura. Sem contar o efeito calmante que os livros têm sobre mim – é bem-vinda qualquer distração para as turbulências do avião ou para o fato de que os ponteiros do relógio não andam quando queremos chegar logo.

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“Algumas pessoas são más unicamente pela necessidade de falar. Sua conversação, simples loquacidade de salão ou diz-que-diz das salas de espera, é como essas lareiras que num instante consomem toda a lenha; elas precisam de grande quantidade de combustível, e o combustível é a vida alheia.”

 

Victor Hugo em Os Miseráveis

[Resenha] O Inferno dos Outros

O anúncio recente da premiação do escritor israelense David Grossman no Man Booker International Prize 2017, pelo romance O Inferno dos Outros, me fez tirar esse livro da prateleira, onde ele estava, um tanto esquecido, desde uma daquelas compras impulsivas, movidas a descontos imperdíveis.

A trama tem uma ambientação inusitada. Ela se desenrola durante um show de stand-up do humorista Dovale, em Netanya, uma pequena cidade israelense. Se você, como eu, não é grande fã desse tipo de espetáculo, irá avançar pelas primeiras páginas com desconfiança.

O início é um pouco pesado, por causa das piadas não muito engraçadas, das descrições minuciosas da aparência e dos movimentos de Dovale e também pelos momentos constrangedores, tanto para plateia quanto para o humorista, típicos desse tipo de show. Mas antes que eu sentisse vontade de desistir, Grossman joga a primeira isca: o narrador que parecia ser onisciente é, na verdade, um narrador em primeira pessoa. É alguém que está na plateia e que conhece Dovale.

À medida que a leitura avança, descobrimos que se trata de seu amigo de infância, o juiz aposentado Avishai Lazar. Ele havia recebido uma ligação do humorista, com quem não tinha nenhum contato há décadas, pedindo que ele assistisse à sua apresentação e, depois, contasse-lhe o que havia enxergado. De início, Lazar sequer lembra quem era Dovale. Na verdade, ele só irá recordar totalmente durante o espetáculo.

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