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Garota, Mulher, Outras (Companhia das Letras, 496 páginas), de Bernardine Evaristo, reúne várias histórias curtas de personagens fortes, com trajetórias marcadas por desafios relacionados à raça, sexualidade e classe. À primeira vista, essas narrativas parecem histórias independentes, mas à medida que a trama avança, elas acabam se cruzando de alguma maneira.

Mais do que um estilo narrativo, essa intersecção entre breves relatos se revela uma harmonia perfeita entre forma e conteúdo. Afinal, uma das principais mensagens que ecoam da escrita de Evaristo é a de que todos os seres humanos se conectam de alguma forma, seja por suas afinidades, suas trajetórias ou, o mais evidente, por seus laços sanguíneos.

Apesar das muitas oportunidades de conexão, a realidade da vida em sociedade se mostra bem menos tolerante. As personagens criadas por Evaristo, em sua maioria mulheres negras imigrantes ou filhas de imigrantes, experimentam, cada uma sob uma perspectiva de tempo e espaço, a injustiça da opressão contra minorias.

Para além de um retrato contemporâneo, a narrativa de Evaristo é uma conversa entre diferentes gerações. Um diálogo que deixa aquela sensação contraditória, de satisfação por enxergar quanto já se conquistou, e um pouco de desânimo por constatar quanto ainda falta para alcançar aquele que parece o mais básico dos princípios: a igualdade de direitos.

Por meio de uma narrativa envolvente e uma escrita que oscila entre prosa e poesia, Evaristo se destaca por abordar de forma criativa e desafiadora um dos principais temas da atualidade: a diversidade. A autora mostra que reconhecer diferenças não é mais do que o primeiro passo. Não existe inclusão sem compreensão e, principalmente, respeito.


Girl, Woman, Other, by Bernardine Evaristo, brings together several short stories of strong characters, who face many challenges related to race, sexuality, and class. Those stories appear at first sight independent stories, but as the plot unfolds, characters’ paths cross somehow.

More than a narrative style, those points of intersection state a perfect harmony between form and content. After all, one of the main messages that Evaristo’s writing conveys is that somehow all human beings are connected, either by their affinities, their trajectories, or, most obviously, by their blood ties.

Despite all of those connection opportunities, the reality of life in society is much less tolerant. The characters created by Evaristo, mostly black immigrants or first-generation women, each one from a perspective of time and space, endure injustice and discrimination.

In addition to a contemporary portrait, this book is a conversation between different generations. A dialogue that leaves readers with that common mixed feeling when it comes to fighting for equal rights: “how far we have come, but there’s so much further to go”.

Through a compelling narrative and writing, which oscillates between prose and poetry, Evaristo addresses, in a creative and challenging way, a timely issue: diversity. The author shows that acknowledging differences is nothing but the first step. There’s no inclusion without understanding and, mostly, respect.

Mariane Domingos

Mariane Domingos

Eu amo uma boa história. Se estiver em um livro, melhor ainda. / I love a good story. If it has been told in a book, even better.
Mariane Domingos

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