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O limite tênue que separa o pessoal do profissional e a invisibilidade social de algumas classes trabalhadoras foram os temas centrais no último trecho lido. Onde parecia haver apenas perfeição começam a surgir fragilidades e tensões preocupantes. Para a próxima semana, avançamos até a página 98, ou capítulo 20.
Mariane Domingos e Tainara Machado
O jantar na casa de Myriam e Paul, para o qual Louise é convidada, é um episódio emblemático. A partir de cenas e diálogos sutis, a autora Leïla Slimani carrega a narrativa de significados sociais.
A insistência dos patrões para que a babá participe da celebração, não apenas como cozinheira, mas como convidada, parece, à primeira vista, uma grande gentileza, uma boa forma de reconhecimento. Não demora muito, no entanto, para que o leitor se coloque na pele de Louise e perceba a farsa. A tentativa do casal de incluí-la soa forçada e busca muito mais apaziguar a consciência dos dois, que de algum modo sabiam que a subvalorizavam, do que realmente reconhecer o trabalho da babá. Louise não se sente à vontade, porque, a despeito do clima de festa e de sua condição de “convidada”, aquele ambiente, em nenhum momento, deixou de ser seu ambiente de trabalho:
Está nervosa como uma estrangeira, uma exilada que não entende a língua falada ao redor.
A invisibilidade social de Louise é outro tema que salta aos olhos. Os patrões, tão acostumados à presença da babá em sua casa, se esforçam para acreditar que ela não existe além daquela realidade. Para Myriam e Paul, negar a individualidade de Louise é o caminho mais fácil para que eles se sintam confortáveis com a sua disponibilidade incondicional. A melhor forma de apaziguar sua consciência é se convencer de que fazem muito mais do que a babá poderia precisar ou desejar:
– (…) E a Louise vai ficar tão feliz: afinal, o que ela teria de melhor para fazer?
Tanto no episódio do jantar quanto na decisão de levá-la na viagem, o limite tênue entre o pessoal e o profissional, tão comum às atividades essencialmente servis, fica evidente. As horas excessivas de dedicação e a intensidade da relação do casal com Louise (mais uma relação de dependência do que de trabalho) começam a mostrar as fissuras no retrato de família e babá perfeitas.
Esse cenário lembra muito o filme brasileiro Que Horas Ela Volta, cuja narrativa se desenvolve justamente sobre essa reflexão acerca das relações servis construídas a partir da dependência e de um afeto que, embora possa de fato existir, sempre estará à sombra dos direitos e deveres implícitos às relações de trabalho. Naquele jantar, Louise sabia que não podia ser a convidada e a babá: acabaria, como foi o caso, na cozinha, encerrando as festividades com a louça lavada.
Achados & Lidos
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30 de abril de 2018 at 18:38
Incrível esse livro. A forma como é escrito nos leva a uma curiosidade enorme. O ínício é impactante!!!!! Conforme vamos avançando na leitura, lembramos que certas cenas ou diálogos, já vimos ou escutamos em algum lugar. Estou amando e não consigo parar…..