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Já dizia Tom Jobim que o Brasil não é para iniciantes. “Nem para iniciados”, completou recentemente o cronista Antonio Prata, em um bom texto sobre o que representa a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não dá para discordar. Está cada vez mais difícil compreender como chegamos até aqui e, principalmente, entender para qual rumo devemos seguir. Nesses momentos, o melhor a fazer é olhar o passado e tentar entender o que a história pode nos ensinar. Entre clássicos como Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, a livros mais recentes sobre a crise econômica, aqui vão cinco títulos para (tentar) entender o Brasil:
1. Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda: Descrito como um “clássico de nascença” por Antonio Candido, este ensaio, publicado em 1936, continua a ser lido por historiadores e demais interessados em entender os traços formadores do país. Holanda, que fez parte de uma geração que buscou refletir sobre nossas raízes, como Caio Prado Jr. e Gylberto Freire, investiga nesse livro os regionalismos que nos deram origem, fala da figura do “homem cordial” e aborda ainda a dificuldade de entender os limites entre o público e o privado, talvez o aspecto mais interessante para refletirmos sobre a atualidade.
“Não era fácil aos detentores das posições públicas de responsabilidade, formados por tal ambiente, compreenderem a distinção fundamental entre os domínios do privado e do público. (…) Para o funcionário ‘patrimonial’, a própria gestão política apresenta-se como assunto de seu interesse particular; (…)”
A escrita elegante e a concisão do pensamento de Holanda também facilitam a leitura, para quem terminou a escola com horror aos livros de história.
2. Getúlio, de Lira Neto: A biografia em três volumes de um dos personagens mais marcantes do Brasil no século XX é leitura muitíssimo indicada para quem se interessa por política. A trajetória de Getúlio Vargas, dos anos nos pampas gaúchos à tomada de poder, o Estado Novo e o suicídio, tem sido citado com frequência pelo ex-presidente Lula, que vê em sua história de ascensão e queda paralelos com a história desse outro líder popular.
Foi impossível conter a vaga humana. OS cordões de isolamento se romperam assim que o trem trazendo Getúlio parou na plataforma da Central do Brasil, às 18h25 do dia 31 de outubro. Desde as nove da manhã, a massa compacta já começava a ser formar nas imediações da gare, pois os jornais e as emissoras de rádio haviam informado à população carioca que a chegada do comboio revolucionário estava marcada para as dez horas. A notícia estava correta. O longo atraso se devia às inúmeras paradas a que fora submetida a composição desde a saída de São Paulo, na noite anterior, quando Getúlio, como se fosse um astro de cinema do porte de um Emil Jannings ou de um Chester Morris, cansara os demais de tanto rabiscar o próprio nome.
Há que se ter fôlego para encarar os três volumes, já que o nível de detalhes da biografia é assombroso. A impressionante pesquisa feita pelo jornalista Lira Neto para essa empreitada se baseia em diários, arquivos históricos, relatos de jornal, estudos acadêmicos etc., com um rigor metodológico que afasta a obra do termo “romance histórico”, tão presente em outros títulos sobre Getúlio.
3. Formação Econômica do Brasil, de Celso Furtado: Embora aqui no blog eu fale principalmente de literatura, também gosto muito de ler sobre economia. Celso Furtado, um dos grandes pensadores brasileiros, escreveu essa obra em sua temporada na Universidade de Cambridge, e pretendia que fosse uma introdução à formação econômica do país. A obra, no entanto, é mais ampla, ao fornecer também um panorama social, político e histórico dos anos de formação do país, ao tentar explicar as causas do subdesenvolvimento do Brasil, da economia colonial à potência exportadora de matérias-primas que tentava se industrializar na segunda metade do século XX. Muito antes do assunto se tornar popular, Furtado já falava da tendência à concentração de riqueza no país:
Em síntese, os aumentos da produtividade econômica alcançados na alta cíclica eram retidos pelo empresário, dadas as condições que prevaleciam de abundância das terras e de mão de obra. (…) Não obstante, o mecanismo pelo qual a economia corrigia o desequilíbrio externo – o reajustamento da taxa de câmbio – possibilitava a transferência do prejuízo para a grande massa consumidora. Destarte, o processo de concentração de riqueza, que caracterizava a prosperidade, não encontrava um movimento compensatório na etapa de concentração de renda.
4. Notícias do Planalto – A Imprensa e Fernando Collor, de Mario Sergio Conti: Analistas políticos costumam listar três pré-condições para que se instale um ambiente em que o impeachment de um governante eleito passe a ser uma possibilidade concreta: crise econômica, com perda de poder de compra da população, falta de apoio político no Congresso e, por fim, perda de popularidade entre os cidadãos, com manifestações contrárias aos governantes. Esses aspectos costumam se retroalimentar, alimentados pela imprensa.
Em Notícias do Planalto, o jornalista Mario Sergio Conti analisa o período do impeachment de Fernando Collor para contar os bastidores da imprensa no período e sua participação na eleição do “caçador de marajás” e, posteriormente, em seu declínio. Leitura que, quase trinta anos depois desse episódio, continua muito atual.
O Supremo Tribunal Federal se reuniu na quarta-feira, 23 de setembro, para julgar um mandado de segurança impetrado pelos advogados do presidente.A sessão começou às quinze para as duas da tarde e acabou quase nove horas depois. Vários de seus trechos foram transmitidos ao vivo pelas emissoras de televisão. Houva uma manifestação em frente do Supremo, na qual crianças vestidas de verde-amarelo e faixas negras fizeram um arranjo de flores no chão com a forma da bandeira brasileira. O Supremo considerou, por oito a um, que a decisão da Câmara sobre o afastamento do presidente deveria ser feita com voto aberto. Se o voto fosse secreto, avaliavam os aliados do presidente, Collor teria chance de manter no cargo. Com o aberto, a sua derrota era praticamente certa.
5. Anatomia de um Desastre, de Claudia Safatle, João Borges e Ribamar Oliveira: Do impeachment de Collor, passamos para o de Dilma Rousseff. Neste livros, três dos principais jornalistas econômicos em atividade do país traçam os bastidores da crise econômica que seria um dos fatores decisivos para o afastamento da presidente Dilma, antes da metade do seu segundo mandato.
O livro, contudo, não se resume ao relato das tão famosas pedaladas fiscais, que seriam a base do pedido de impeachment assinado pelo deputado Eduardo Cunha. Os jornalistas resgataram a história das finanças públicas brasileiras, sempre na origem das crises econômicas do país, para explicar o processo decisório que permitiu que o país deixasse de ver a maior crise internacional em décadas como marolinha para submergir em anos de recessão, inflação alta e endividamento crescente, em um relato acompanhado ainda de cenas interessantes de bastidores desse processo.
“Arno, não dá para arredondar, não?” Em tom imperativo, dirigida ao então secretário do Tesouro Nacional, Arno Augustin, a pergunta da presidente da República tinha o peso de uma ordem. (…) Arno rabiscou alguns números no papel em cima da mesa e respondeu: “Dá”.
Foi assim que a redução na conta de luz, antes anunciada em 16,2% para os consumidores residenciais e 28% para indústrias, foi “arredondada” para 18% e 32%, respectivamente.
Tainara Machado
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