Como vocês sabem, estamos super animadas com o livro escolhido para o 11º Clube do Livro do Achados e Lidos. O título selecionado foi Canção de Ninar, da franco-marroquinha Leïla Slimani (quer saber mais sobre a autora e a obra? Clique aqui!). Um daqueles fenômenos literários raros – sucesso de público e crítica – o livro já vendeu mais de 600 mil exemplares e, ao mesmo tempo, levou o Prix Goncourt, mais prestigioso prêmio literário francês.
Reunir esses dois atributos é, sem dúvida, um grande feito. No mercado, não faltam best-sellers, como a trilogia Cinquenta Tons de Cinza, ou praticamente todo livro lançado por Jojo Moyes, que atraem milhares de leitores, mas são solenemente esnobados pela crítica especializada. O que será necessário, então, para fazer nascer um fenômeno como Slimani?
A autora parece reunir, em sua obra, várias qualidades que a aproximam do público, como uma linguagem fácil e acessível e um romance que se inicia em clima de suspense, com atributos literários consideráveis, como sua capacidade de fazer o leitor enxergar outras realidades e nuances do cotidiano por meio de personagens bem construídos. Os temas que ela levanta também são socialmente relevantes. De origem marroquina, Slimani viveu a maior parte da vida na França, o que faz dela uma ótima porta-voz sobre imigração, capaz de escrever com autoridade sobre as sutilezas do preconceito com que estrangeiros são tratados em um país pouco tolerante com quem vem de fora.
Ela também fala de outro tema social em alta no momento: as mulheres entraram de vez no mercado de trabalho nas últimas décadas, mas a divisão de tarefas dentro de casa não evoluiu, e essa parcela da população continua a se sentir culpada por se dividir entre os filhos e a carreira, como se essa fosse uma obrigação apenas feminina. Sua trajetória foi tão bem sucedida que a autora foi apontada pelo presidente francês Emmanuel Macron como uma espécie de “embaixadora” da literatura francesa no mundo.
Mas, claro, temos muitos outros exemplos. No ano passado, um dos livros mais comentados não foi um lançamento, e sim uma reedição. A estreia da série televisiva baseada no livro O Conto da Aia, de Margaret Atwood (leia a resenha aqui), fez com que a obra voltasse com tudo às prateleiras, embora o livro tenha sido lançado originalmente em 1985. O livro também chega facilmente a um público mais amplo por reunir um estilo sóbrio e direto com uma narrativa instigante, ao falar de um mundo distópico em que as mulheres perderam todos os seus direitos, servindo apenas para procriar, a partir de regras muito bem estabelecidas.
E, claro, temos Rupi Kaur, mostrando que a onda é mesmo o feminismo. A indiana escreve poemas curtos sobre abuso, a relação com seu pai, o lugar da mulher no mundo – temas que envolvem dor, cura e paixão – e é um sucesso também nas redes sociais, com mais de 2,5 milhões de seguidores. outros jeitos de usar a boca continua na lista dos livros mais vendidos do país e tem ajudado a alavancar as vendas do livro mais recente de Kaur no Brasil, o que o sol faz com as flores.
Se voltarmos um pouco no tempo, encontramos diversos sucessos comerciais que também receberam elogios e prêmios relevantes. Barba Ensopada de Sangue, do Daniel Galera, por exemplo, foi o livro do momento na virada de 2012 para 2013. O personagem central, extremamente bem construído e empático, dá força a uma narrativa que, de certa forma, tem seu desfecho logo nas primeiras páginas.
O suspense, aliás, não é necessariamente a receita de bolo para um livro bem-sucedido. A Sangue Frio, de Truman Capote, praticamente inaugurou o gênero livro-reportagem e passou semanas na lista de mais vendidos quando foi lançado, na década de 70, ainda que todo mundo já soubesse o fim da história da família Clutter, brutalmente assassinada no Kansas.
Dramas e personagens bem construídos, aliados à uma linguagem simples e direta, parecem ser essenciais para que o livro caia nas graças do público e, ao mesmo tempo, seja valorizado por críticos. Mas, claro, há ainda nessa receita uma boa dose de sorte e de estratégia comercial. O fato é que, por aqui, estamos sempre procurando por esses achados. Tem algum “fenômeno literário” preferido? Conte para a gente nos comentários!
Tainara Machado
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10 de abril de 2018 at 22:59
Boa noite.
Creio que se enquadre nos fenômenos literários os livros de Dan Brown.
Parabéns pelo site!