O Achados & Lidos já está de malas prontas para a 15a Festa Literária Internacional de Paraty! \o/ Mais do que um evento para celebrar a literatura, a Flip é uma ótima oportunidade para (re)descobrir escritores. Do autor homenageado aos participantes das mesas, a lista de hoje traz cinco livros que já estão na nossa bagagem!
1. A Mulher de Pés Descalços, de Scholastique Mukasonga: desde que começaram a ser anunciados os convidados da Flip deste ano, esse foi o nome que mais chamou minha atenção. Nascida em Ruanda e sobrevivente das lutas fratricidas entre as etnias Tutsi e Hutu, Mukasonga é uma das principais escritoras e ativistas da diáspora negra.
Em A Mulher de Pés Descalços, a escritora revira suas memórias e dá voz à dor e à perda em uma comovente homenagem à mãe, Stefania. Li pouco mais de 30 páginas do livro e já senti um nó na garganta em diversos trechos.
Logo no início, Mukasonga explica que o livro foi a forma que ela encontrou de cumprir com um pedido da mãe: após sua morte, ter seu corpo coberto para que ninguém o visse, pois “não se deve deixar ver o corpo de uma mãe”. Mukasonga não pôde atender esse desejo, pois Stefania foi brutalmente assassinada no genocídio que devastou seu país:
Mamãe, eu não estava lá para cobrir seu corpo e não tenho nada além de palavras – palavras de uma língua que você não entenderia – para cumprir o que você pediu. E estou só com minhas pobres palavras e minhas frases, sobre a página do caderno, tecendo a mortalha de seu corpo ausente.
Alguém duvida que a participação de Mukasonga na Flip será marcante?
2. Clara dos Anjos, de Lima Barreto: o escritor brasileiro é o homenageado deste ano na Flip. Triste Fim de Policarpo Quaresma, sua obra prima, havia sido meu primeiro e único contato com o autor, graças à grade curricular de literatura no colégio. Por isso, achei essa homenagem da Flip uma ótima desculpa para aumentar o espaço de Lima Barreto em minha estante. Os escolhidos foram Clara dos Anjos e Sátiras e Outras Subversões, que reúne crônicas do escritor. Como estou com um humor literário mais inclinado para romances, começarei por Clara do Anjos.
A edição da Penguin & Companhia das Letras se destaca por trazer textos críticos de Sergio Buarque de Holanda, Lúcia Miguel Pereira e Beatriz Resende, bem como notas explicativas a cargo de Lilia Moritz Schwarcz e Pedro Galdino. Como se trata de uma obra que não foi concluída, esse suporte é bastante interessante para entender melhor o romance.
Clara dos Anjos narra as desventuras de uma adolescente pobre e mulata seduzida por um malandro branco. Na trama, os subúrbios do Rio de Janeiro despontam quase como personagens, essenciais para vislumbrar as opiniões de Lima Barreto acerca da sociedade brasileira. Instigante, não?
3. Dias Bárbaros, de William Finnegan: não sou grande fã de autobiografias, nem de surfe, mas ainda assim me rendi à sinopse desse livro. William Finnegan viveu a infância na Califórnia e no Havaí, e aprendeu cedo a surfar. Amante de livros e de aventuras, viajou o mundo em busca das melhores ondas e se tornou um escritor e correspondente de guerra de grande prestígio.
Vencedor do prêmio Pulitzer de biografia, seu livro foi definido pelo Washington Post como “uma autobiografia inteligente e uma incessante reflexão sobre amor, amizade e família”. A crítica e escritora Olivia Laing escreveu no The Guardian: “não sei nada sobre surfe, mas fui arrebatada pela intensidade da linguagem de Finnegan”. Algo me diz que irei concordar com Laing!
4. O Vendido, de Paul Beatty: das mesas que me programei para acompanhar presencialmente, a que Beatty irá participar ao lado de Marlon James, intitulada “O grande romance americano”, foi a que me deixou mais ansiosa! Infelizmente, ainda não consegui meu exemplar de O Vendido, livro que rendeu a Beatty o Man Booker Prize 2016 e que se destacou por abordar com humor cáustico o racismo nos Estados Unidos. Espero encontrá-lo na livraria da Flip!
5. Quarenta Dias, de Maria Valéria Rezende: há tempos, namoro esse título nas livrarias. A Flip foi a desculpa que eu precisava para adquiri-lo.
Vencedor do prêmio Jabuti, Quarenta Dias é narrado por Alice, uma professora aposentada, que mantinha uma vida pacata em João Pessoa até ser obrigada pela filha a deixar tudo para trás e se mudar para Porto Alegre. Uma reviravolta familiar a deixa abandonada à própria sorte, numa cidade que lhe é estranha, e impossibilitada de voltar ao antigo lar. É nesse contexto que Alice se lança em uma busca frenética pelo filho de uma conhecida da Paraíba que desapareceu na região. O relato emocional e profundo dessa procura desesperada compõe o romance.
O perfil da personagem central guarda certas similaridades com a experiência pessoal de Rezende, que sempre se dedicou à educação popular, primeiro na periferia de São Paulo e, a partir de 1972, no Nordeste, vivendo em Pernambuco e depois na Paraíba, no meio rural até 1986 e, desde então, em João Pessoa, onde está até hoje.
Maria Valéria Rezende participará de uma mesa da Flip no sábado, sobre ativismo, literatura, resistência e liberdade. Imperdível, não?
E você, tem planos de ir à Flip? Quais autores da programação deste ano chamaram mais a sua atenção?
Mariane Domingos
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