Animais de estimação são fiéis companheiros dos humanos, e uma relação sempre refletida na literatura. Sejam eles cachorros, cavalos ou até mesmo corujas, listamos 5 bichos que, com sua personalidade cativante, acabaram ganhando protagonismo nas histórias abaixo.

IMG_12581. Baleia, em Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Nesta lista, Baleia tem lugar garantido. Ao pensar na relação entre animais e humanos, é impossível não rememorar, imediatamente, a cachorra da família de retirantes nordestinos, todos fugindo de mais uma brutal seca.

O universo que rodeia a família é árido, pobre, depauperado. O pai, Fabiano, e a mulher, sinhá Vitória, trocam apenas grunhidos, palavras mal ajambradas que refletem as condições duras a que são expostos, com os dois filhos, nunca nomeados. Entre essas dificuldades, é Baleia quem conserva ainda certo raciocínio lógico e uma esperança no futuro, sentimentos abstratos que  os demais personagens, cada vez mais dominados por necessidades animalescas, deixam de conseguir articular.

Sua morte é uma das passagens mais tristes de Vidas Secas, quando ela é capaz de sonhar com uma espécie de céu canino:

Baleia encostava a cabecinha fatigada na pedra. A pedra estava fria, certamente sinhá Vitória tinha deixado o fogo apagar-se muito cedo.

Baleia queria dormir. Acordaria feliz, num mundo cheio de preás. E lamberia as mãos de Fabiano, um Fabiano enorme. As crianças se espojariam com ela, rolariam com ela num pátio enorme, num chiqueiro enorme. O mundo ficaria todo cheio  de preás, gordos, enormes. 

IMG_12572. Tub, em Os Irmãos Sisters, de Patrick deWitt. Em meio à corrida pelo ouro na Califórnia, dois matadores de aluguel são contratados para cometer o assassinato de um garimpeiro. É no meio desse enredo aparentemente cru que se desenvolve uma relação de afeto, respeito e companheirismo entre Eli, o narrador da história, e Tub, um cavalo mal ajambrado, um pouco lerdo, mas ao qual Eli acaba se afeiçoando irremediavelmente.

No começo, Eli achava uma injustiça que ele tivesse ficado com o cavalo “ruim”, enquanto seu irmão podia avançar mais rápido com um animal forte e vigoroso. Aos poucos, contudo, floresce entre os dois certa ternura, e Eli deixa de reclamar do cavalo, passando a cuidar e se compadecer dele.

 

Desci até a rua para me encontrar com Tub, cumprimentei-o e perguntei como ele estava se sentindo. Ele pareceu mais alerta do que no dia anterior, apesar de seu olho estar muito pior, e senti muita simpatia pelo  animal. Ele era forte, acima de tudo. Eu me aproximei para acariciá-lo, mas, quando a minha mão pousou em seu rosto, ele se mexeu e senti um pouco de vergonha por estar tão acostumado a um toque gentil. Decidi tentar melhorar minha postura e fiz uma promessa para mim mesmo. Charlie saiu do hotel, rindo com a cena meiga.

Por causa do ferimento horrível no olho, Tub é um animal sofredor e, ao mesmo tempo, um dos personagens mais cativantes desse romance, por quem torcemos para escapar de um destino trágico.  

IMG_12593. Edwiges, em Harry Potter e a Pedra Filosofal, de J. K. Rowling. Em toda a saga de Harry Potter, são muitos os animais fantásticos que poderiam aparecer nessa lista. De Hagrid e seu dragão de estimação à Bicudo, sem falar em outras criaturas bem mais assustadoras, há uma infinidade de seres mágicos que habitam as páginas das aventuras do bruxo mais conhecido do mundo.

Edwiges, no entanto, tem um papel especial. A coruja é a mensageira entre Harry Potter e o mundo mágico do qual ele fica separado quando tem que retornar à casa dos tios “trouxas”. É também uma espécie de amiga e confidente, que teve papel essencial em muitos dos perigos nos quais Harry se envolve ao longo dos sete livros que formam essa história. A empatia entre os dois surge logo de cara e segue presente até o fim da saga. A coruja é ainda mais  especial por se tratar de um presente de Hagrid, que descortina o mundo mágico do qual Harry foi mantido afastado pelos Dursley, na primeira visita dos dois ao Beco Diagonal:

– “(…) Vou te comprar um animal. Não um sapo, sapos saíram de moda anos atrás, todos ririam de você – e eu não gosto de gatos, eles me fazem espirrar. Vou te dar uma coruja. Todas as crianças querem corujas, e elas são muito úteis, te trazem suas cartas e tudo”.

E assim surge a pequena Edwiges, uma linda coruja-das-neves, sempre disposta a reprovar as atitudes impulsivas de Harry e a fornecer uma ponte entre o mundo mágico e o mundo “trouxa”.

IMG_12564. Beta, em Barba Ensopada de Sangue, de Daniel Galera. Logo no início desse romance marcante de Daniel Galera, o narrador recebe notícias que vão dar um novo rumo para sua vida: seu pai descobriu um câncer e está decidido a se matar. Sua preocupação é com sua cachorra, Beta, a quem ele pede que o filho tome conta.

Os  olhos do pai estão vermelhos.

É a Beta.

O que tem a Beta?

O pai abana em direção à porta da rua e emite  um ruído quase inaudível. A cadela se levanta sem hesitar e sai da casa.

Tu sabe como eu amo essa cachorra. A gente é muito ligado.

Não vou fazer isso.

Por quê?

Não tenho como cuidar de cachorro. E de qualquer forma… caralho, não tô acreditando nisso. Desculpa. Preciso ir  embora.

O pai sugere eutanásia, o filho se nega. Logo na página seguinte, vemos os dois, Beta e o narrador, seguindo viagem de carro até Garopaba, onde o restante da narrativa se desenrolará e no qual Beta exercerá, como cabe a esses animais, o papel de melhor amiga do homem, personagem essencial em um romance sobre um homem solitário.

IMG_12555. Coelho Branco, em Alice no País das Maravilha, de Lewis Carroll: O Coelho Branco não é exatamente o bicho de estimação de Alice – até porque ela tem uma gatinha, Diná, –  mas é sua figura que revela à menina um mundo mágico que ela nem imaginava que existia, com castelos, rainhas e outros personagens tão insólitos quanto curiosos.

O momento em que Alice o encontra pela primeira vez é um dos mais conhecidos da literatura:

Nada havia  de muito estranho naquilo. Nem Alice achou assim tão esquisito quando ouviu o Coelho dizer para si mesmo:

– Oh, meu Deus. Eu vou chegar muito atrasado!

Mas, quando ele tirou um relógio de bolso do colete, olhou-o e se apressou, Alice se levantou, dando-se  conta de que nunca antes havia visto um coelho nem com colete e nem com um relógio no bolso.

Sempre em busca do Coelho apressado, Alice encontrará uma série de personagens e situações inusitadas, neste romance que mistura humor inteligente, de tão despropositado, com belos aforismos, num dos grandes clássicos da literatura mundial.

Sentiu falta de algum bichinho? Conte para a gente quem mais você incluiria nessa lista!

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
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