[Divã] Listas, desafios e outros métodos de leitura

Desde que embarquei no mundo dos blogs literários, descobri que os hábitos de leitura podem ser incrivelmente diferentes, embora o objetivo pareça ser quase sempre o mesmo: ler mais. A Mari contou, neste mesmo espaço, na semana passada, que sempre lê mais de um livro ao mesmo tempo e divide as leituras por momentos do dia (seu senso de organização é algo a ser estudado, rs).

Fico impressionada, também, com a quantidade de maratonas e desafios que as pessoas se propõe a seguir. É só dar um giro pelos blogs de literatura para perceber que há desafios para todos os tipos: de grandes clássicos a objetivos para a quantidade mensal de livros, passando pela nacionalidade dos personagens ou dos autores, sempre será possível encontrar algo que realmente te instigue a ler mais.

O problema é que meus hábitos não permitem tal disciplina. Diria que sou o tipo de leitora bagunceira, impulsiva e passional. Seguir um cronograma específico de leituras transforma, no meu caso, um hábito que é uma paixão em uma obrigação. Gosto de pegar um livro a esmo na livraria e embarcar naquela história ali mesmo. De terminar um título, parar em frente à estante e ficar pensando no que eu quero ler depois. Como disse Mario Vargas Llosa em uma frase que eu e a Mari já adotamos para a vida,

Minha tese é de que tenho mais chances de ler um livro que esteja aqui em casa do que outro que ficou em uma livraria.

À medida que novos volumes passam a habitar minha estante, minha lista de prioridades, obviamente, muda. Da minha lista de dez leituras para 2016, por exemplo, que escrevi no começo do ano passado, ainda não consegui “ticar” três livros. Não é que eu tenha desistido deles, mas não chegou o momento em que Linha M, da Patti Smith, passou a ser mais interessante do que aquele lançamento.

Mas mais do que essa liberdade de escolha, acredito que livros são um ótimo lugar para se esconder da vida real. Ler é, essencialmente, uma questão de estado de espírito. E cada momento da vida exige uma história diferente, não é?  Quando o trabalho pesa, por exemplo, prefiro uma leitura mais fácil, que flui mesmo com a cabeça cansada. Quando estou de férias, procuro títulos de mais fôlego. Quando viajo, quero um livro que também me transporte para outro lugar. E quando estou triste, procuro obras que me façam questionar esse sentimento, que me coloquem no lugar do outro, ou meu problema em perspectiva. Sempre ajuda.

O gosto pela variedade também sempre me fez evitar ter metas para a quantidade de livros lidos por ano. Se você mirar muito alto, é quase certo que vai deixar leituras mais densas ou mais longas para um segundo momento. A não ser que você seja um desses personagens de uma reportagem publicada pela Folha de S. Paulo recentemente. Na matéria, que procurou traçar um perfil dos leitores de autores brasileiros contemporâneos, há histórias de leitores que devoram mais de 100 livros por ano. Parece legal e reduziria meu complexo Rory (a personagem de Gilmore Girls que, aos 16 anos, ficou chateada porque “só” tinha lido 300 livros na vida), mas confesso que acho exagerado.

Outro problema que me afasta das listas e desafios são as minhas paixões literárias. Quando cismo com um autor, quero ler tudo o que ele escreveu, sem dar muito espaço para outros nomes. Foi o caso com  Alejandro Zambra, apresentado por uma colega de trabalho. Depois de Bonsai, queria devorar as demais obras dele já lançadas no Brasil, e quando isso acontece não quero que ninguém me “desafie” a ler novos autores. Até que eu me apaixone de novo.

Isso não quer dizer que eu não ache a ideia dos desafios interessante. Elas exigem comprometimento e superação e funcionam, de certa forma, como as listas de livros “essenciais” que eu costumava seguir quando era mais nova e me faltavam referências. Mas, hoje, com um mundo inteiro a descortinar, me limitar a uma seleção de títulos pré-escolhidos não é o tipo de objetivo que me comove.

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
Tainara Machado

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2 Comentários

  1. Bom dia.

    Acompanho o blog constantemente e sempre fico de olho em indicações que vocês fazem.

    Você citou blogs literários. Poderia citar alguns? Também fico na busca deles.

    Obrigado.

    • Tainara Machado

      24 de fevereiro de 2017 at 21:38

      Olá, Bráulio, tudo bem?
      Muito obrigada pelo seu comentário! Que bom que você acompanha sempre o blog 🙂
      Sobre outros blogs literários, gosto bastante do site da Companhia das Letras (www.blogdacompanhia.com.br), já que alguns escritores e editores escrevem ali. Quando falei das maratonas literárias, pensei na Tatiane Feltrin, que sempre organiza esse tipo de eventos e tem um blog interessante (http://www.tatianafeltrin.com/), além de um canal muito popular no YouTube. No Instagram, gosto de uma conta que chama @paoelivro. Além disso, em busca de dicas e novidades, acompanho sempre os cadernos culturais dos jornais, além do Suplemento Pernambuco!
      Espero ter ajudado!

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