Embalada pelo anúncio do Nobel de Literatura de 2016, a Lista da Semana traz cinco escritores que chegaram à minha estante principalmente pela visibilidade que ganharam com o prêmio mais famoso da literatura.
A polêmica do último laureado, o cantor e compositor Bob Dylan, gerou uma série de debates quanto aos efeitos de ter uma figura raramente associada ao universo literário ganhando um prêmio de tamanha importância no meio. Um dos artigos mais interessantes que li sobre essa discussão foi o do jornal americano The New York Times. Um dos pontos levantados, que inspirou este post, foi:
Enquanto a leitura cai ao redor do mundo, prêmios literários são mais importantes que nunca. Um grande prêmio significa salto nas vendas e no número de leitores, mesmo para escritores já conhecidos. Mas, mais do que isso, dar o Nobel para um escritor ou poeta é uma forma de afirmar que ficção e poesia ainda importam, que elas são esforços humanos cruciais que valem reconhecimento internacional.
Esta lista está aqui para confirmar o quanto esses prêmios têm um papel essencial na divulgação da boa literatura. Confira!
1. Alice Munro: vencedora do prêmio em 2013, a escritora canadense foi a primeira especialista em contos a receber o Nobel de Literatura. Eu não a conhecia antes disso e assim que vi as notícias que a coroavam como a “mestra do conto contemporâneo” não tive dúvidas de que precisava ler sua obra. Após algumas dicas nada indiretas de presentes de aniversário, ganhei um exemplar de Vida Querida, que, além dos contos, reúne quatro textos autobiográficos. Poucas semanas depois, terminei a leitura com a sensação de que a Academia Sueca havia acertado em cheio. Os personagens fortes, quase sempre mulheres, e a linguagem precisa de Munro garantem que seus textos, mesmo que breves, tenham a profundidade de um romance. No Brasil, temos vários títulos da autora traduzidos. A Tatá inclusive já resenhou Fugitiva, um de seus livros, aqui no Achados. Quem gosta de conto se esbalda com a obra de Munro e, quem não gosta, tem grandes chances de mudar de ideia!
2. Jean-Marie Gustave Le Clézio: já conhecia o escritor francês quando ele ganhou, em 2008, o Nobel de Literatura, mas nunca tinha me animado a ler seus romances. O prêmio foi o gatilho para eu mergulhar em sua obra, que vinha sendo editada, primorosamente, pela saudosa Cosac Naify. Primeiro foi O Africano, em seguida, O Refrão da Fome, mais recentemente, Peuple du Ciel, e ainda tenho História do Pé e Outras Fantasias esperando ser lido. A escrita lírica de Le Clézio, com um empurrãozinho de um prêmio Nobel, ganhou uma fã assumida. Recomendo começar por O Africano e já seguir para o Refrão da Fome. No primeiro, ele ficcionaliza a história do pai e, no segundo, lançado algumas semanas antes do anúncio da Academia Sueca, Le Clézio inspira-se na trajetória de sua mãe. A força da relação do escritor com a família fica muito clara logo na na introdução de O Africano:
Todo ser humano é um resultado de pai e mãe. Pode-se não reconhecê-los, não amá-los, pode-se duvidar deles. Mas eles aí estão: seu rosto, suas atitudes, suas maneiras e manias, suas ilusões e esperanças, a forma de suas mãos e de seus dedos do pé, a cor dos olhos e dos cabelos, seu modo de falar, suas ideias, provavelmente a idade de sua morte, tudo isso passou pra nós.
3. Patrick Modiano: mais um escritor francês muito bem recomendado pelo Nobel de Literatura em 2014. Por enquanto, só li um livro dele, chamado Uma Rua de Roma, mas ainda quero me aprofundar mais em sua obra. Dono de uma escrita clara e fluente, Modiano sabe trabalhar, com muita sofisticação, o suspense, ao melhor estilo narrativo do film noir. Em Uma Rua de Roma, o mistério fica por conta de um homem que sofre de amnésia total e se torna um detetive de si mesmo, tentando desvendar seu passado por meio de documentos, lampejos de memória e relatos alheios. Não se trata de um suspense óbvio, pois não há a caçada a um criminoso ou a agonia de um segredo. Modiano fala sobre a busca pela identidade, perdida em labirintos, em ruas escuras e em um período sombrio da França – a ocupação nazista:
Hutte repetia que, no fundo, todos somos “homens de praias” e que “a areia” – cito seus próprios termos – “só guarda por alguns instantes as marcas dos nossos passos”.
4. Svetlana Aleksiévitch: vencedora Nobel de Literatura em 2015, a nomeação da jornalista e escritora bielorrussa causou frisson no meio literário. Uma jornalista? Uma escrita polifônica? Como assim um livro só com depoimentos? Qualquer dúvida acerca da qualidade do trabalho de Aleksiévitch desaparece quando conhecemos sua obra. Ainda bem que, desde o anúncio da Academia, a editora Companhia das Letras não demorou muito para começar a traduzir os títulos da autora. Logo que Vozes de Tchernóbil chegou ao Brasil, estávamos para começar o o segundo Clube do Livro do Achados & Lidos. Não hesitamos na escolha e, em nenhum momento, nos arrependemos. A leitura nos rendeu ótimas reflexões e a certeza de que o Nobel foi mais do que merecido. O esforço de alguém que usa a literatura com este objetivo precisa de um reconhecimento à altura:
Destino é a vida de um homem, história é a vida de todos nós. Eu quero narrar a história de forma a não perder de vista o destino de nenhum homem.
Se quiser saber mais sobre o livro Vozes de Tchernóbil ou sobre Aleksiévitch, consulte nossos posts do Clube do Livro e da visita da escritora ao Brasil, na Flip 2016.
5. Toni Morrison: quando a Companhia das Letras lançou, em comemoração ao seu aniversário de 25 anos, a coleção Prêmio Nobel, não foram apenas as lindas capas de tecido que fizeram meus olhos brilhar. A sinopse de Amada, da escritora americana Toni Morrison, também chamou minha atenção e decidi que era hora de saber por que Morrison havia ganhado o mais importante prêmio literário do mundo. A trajetória de Sethe, uma ex-escrava que é obrigada a lidar, durante sua vida toda, com perdas e fantasmas de uma consciência atormentada, logo me convenceu – a Academia Sueca havia acertado mais uma vez.
E você, já se rendeu à leitura de algum livro porque o escritor havia sido premiado com o Nobel?
Mariane Domingos
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