[Lista] 5 livros para levar na bolsa

Critérios de escolha da próxima leitura podem variar bastante. Às vezes, estamos afim de nos dedicar àquele clássico, outras queremos voltar a um autor que adoramos ou então desbravar novos continentes. Mas há também aqueles momentos em que a ordem é a praticidade. Não sou adepta ao Kindle (tema para outro post) e, por isso, no dia a dia algumas perguntas de natureza prática são inevitáveis. Por exemplo, cabe na bolsa? É leve? Se for edição de bolso, ainda melhor. Se todas as respostas para as perguntas anteriores forem positivas, ainda falta a questão mais importante: é bom?

Para ajudar nesta escolha, selecionei cinco títulos que cabem na bolsa e quase não ocupam espaço. De quebra, vão te fazer ótima companhia no ônibus, no táxi e na sala de espera do médico (e ainda vão te poupar de uma lordose no futuro!).

1. A Revolução dos Bichos, George Orwell: Nesta fábula, Orwell prova que nem sempre um clássico precisa pesar mais de 500 gramas. Mais do que uma sátira do regime stanilista em vigor na União Soviética em 1945, quando o livro foi escrito, Orwell escreveu uma narrativa que coloca em xeque a capacidade de organizações políticas produzirem sonhos igualitários. Até agora, tem se provado mais do que acertado, já que todas as utopias neste sentido foram frustradas.

Na famosa história, um sonho de Mestre, um porco já mais velho, leva os animais a se revoltar contra as condições a que são submetidos na fazenda, com pouco para comer e condições terríveis de trabalho. Enxergam no homem a causa de todos os males, mas vão descobrir que há outro tipo de tirania possível, sob o comando do porco Napoleão. Ou, como resume o único mandamento a sobreviver à revolução dos bichos:

Todos os animais são iguais, mas alguns animais são mais iguais do que os outros.

2. Children on their Birthdays, Truman Capote: Truman Capote era um gênio. A Sangue Frio é uma das obras-primas do jornalismo literário, naquela linha tênue que divide a realidade e a ficção. Já neste pequeno livro, Capote se dedica a outro gênero no qual também era um mestre, os contos. A edição que tenho faz parte de uma coleção ótima da Penguin, de clássicos modernos em formato de bolso.

Não são nem 75 páginas, mas entre os contos reunidos neste livrinho está o que da título ao volume, considerado um dos melhores do autor. Na história, os meninos de uma pacata cidade no Alabama ficam desnorteados com a chegada de Miss Bobbit. Logo de cara sabemos também que o final não será feliz, como quase nunca é com Capote.

The boys regarded each other a full minute, all the closeness between them turning an ugly color: you can’t hate so much unless you love, too.

3. A trégua, Primo Levi: A Mari já resenhou É Isto um Homem, no qual Primo Levi faz um relato minucioso e direto dos meses em que esteve em Auschwitz. Em A Trégua, Levi conta o período posterior ao fim da Segunda Guerra Mundial, um pedaço da história bem menos conhecido pela maioria.

Depois que Auschwitz foi liberado por soldados russos, Levi não retornou imediamatamente para a Itália. A longa viagem de volta, pelo Leste Europeu e pela União Soviética, tomou inacreditáveis nove meses de um povo que já estava à beira da morte. Ainda que fora dos campos de trabalho forçado, Levi continuava a sofrer de frio e de uma fome até “psicológica”, mas desta vez à mercê da burocracia dos vitoriosos.

De seiscentos e cinquenta, todos os que então partíramos, voltávamos três. E quanto perdemos naqueles vinte meses? O que encontraríamos em casa? Quanto de nós fora corroído, apagado? Retornávamos mais ricos ou mais pobres,mais fortes ou mais vazios? Não sabíamos, mas sabíamos que na soleira de nossas casas, para o bem ou para o mal, nos esperava uma provação, e a antecipávamos com temor.

4. Festa no Covil, Juan Pablo Villalobos: Romance de estreia do mexicano Juan Pablo Villalobos, é narrado pelo filho de um megatraficante de drogas. A criança, isolada do mundo, não conhece, segundo seus cálculos, mais do que quinze pessoas, não pode chorar porque não tem mãe e nem chamar o pai de pai.

Embora trate da violência que necessariamente ronda a casa superprotegida de um dono de cartel, a história é engraçada porque, aos olhos daquele menino, a empregada passando com um esfregão para limpar o sangue que ficou no piso da sala depois de uma visita é simplesmente normal. Ou, como diria o narrador, que gosta de palavras difíceis aprendidas no dicionário, é sórdido e nefasto.

Uma das coisas que aprendi com Yolcaut é que às vezes as pessoas não viram cadáveres com uma bala. Às vezes precisam de três balas ou até de catorze. Tudo depende de onde você atira. Se você atira duas balas no cérebro, com certeza elas morrem. Mas você pode atirar até mil vezes no cabelo que não acontece nada, apesar de que deve ser bem divertido de ver.

5. Mudança, Mo Yan: O prêmio Nobel de literatura Mo Yan foi, certa vez, convidado por um editor indiano a escrever um texto sobre as grandes transformações ocorridas na China ao longo das últimas três décadas. No início, recusou e acabou com a oferta para escrever o que quisesse, mas não conseguiu mais fugir do tema proposto.

Em Mudança, Mo retoma os anos na escola, da qual foi expulso sem muitos motivos na quinta série, o sonho de se tornar escritor, o difícil acesso à universidade e a intrincada rede de indicações e contatos que poderiam garantir promoções ou te puxar para baixo. Prova de que nem tudo mudou.

Passeio de trem era um evento solene, algo de que pude me gabar por muito tempo depois de voltar de Qingdao. Agora estava tão animado quanto da primeira vez. O trem superlotado tinha um cheiro de urina no ar. Dois homens brigaram por um lugar no banheiro, um acabou com o nariz sangrando e o outro com a orelha machucada. Naquela altura eu estava achando tudo perfeitamente normal.

Tainara Machado

Tainara Machado

Acredita que a paz interior só pode ser alcançada depois do café da manhã, é refém de livros de capa bonita e não pode ter nas mãos cardápios traduzidos. Formou-se em jornalismo na ECA-USP.
Tainara Machado

Últimos posts por Tainara Machado (exibir todos)

Quero receber novidades pelo meu e-mail:

3 Comentários

  1. Apesar de gostar de edições exuberantes como aquelas da saudosa Cosac Naify (só lembrar de Os Miseráveis editado por eles), devo dizer que a melhor coisa que aconteceu na editoração de livros foram as boas traduções em edição de bolso.

    Adorei sua lista e acrescentaria Uma criatura dócil, de Dostoiévski (editada pela Cosac) e todos de Franz Kafka editados pela Cia das Letras – tanto na coleção de bolso quanto aquela coleção normal. Incontornáveis.

    • Mariane Domingos

      16 de maio de 2016 at 12:02

      Uma Criatura Dócil é um livro FANTÁSTICO!! Para mim, a melhor obra de Dostoiévski. E é perfeita para bolsa mesmo. 🙂

      • Tainara Machado

        16 de maio de 2016 at 12:18

        Vou começar a ler hoje mesmo, então! Estava procurando um livro de “de bolsa”, rs. E a coleção de bolso da Cia das Letras é ótima, tenho vários!

Deixe uma resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado.

*

© 2024 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑