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[Vozes de Tchernóbil] Semana #6

Infelizmente, a leitura está chegando ao fim! Para a próxima semana, vamos até a página 349.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

No último post, falamos aqui do trabalho primoroso de edição de Svetlana Aleksiévitch, de sua capacidade de sobrepor narrativas sem torná-las repetitivas e de nos conduzir, ao longo da história, pelos diferentes sentimentos com que foram confrontados os habitantes de Tchernóbil e arredores.

O trecho que lemos nesta semana traz com mais ênfase a visão de cientistas e pesquisadores que foram enviados ao reator pelas autoridades. Ao longo dos depoimentos, é levantado um traço muito interessante da relação dos soviéticos com a ciência: as zonas que foram atingidas pela explosão viviam, simultaneamente, em duas eras. A evolução, ou melhor, o salto tecnológico dessa nação foi brusco e setorizado. Não houve preparação. “O átomo e a pá” coexistiam:

Dentre os trabalhadores da central de Tchernóbil, muitos eram camponeses. De dia estavam nos reatores, e à noite, cuidando das suas hortas, ou na casa dos pais, na aldeia vizinha, plantando batatas com a pá ou espalhando esterco com a forquilha. (…) A sua consciência oscilava entre dois tempos, entre duas eras: a da pedra e a atômica. E o homem, como um pêndulo, movia-se de um extremo a outro.

Até entre os pesquisadores e cientistas, o nível de compreensão da extensão do acidente era desigual, mas não resta dúvida de que essas eram as pessoas que tinham mais clareza sobre as consequências perniciosas do desastre. O que você faz quando sabe o que está acontecendo e não tem nenhuma reação? Em um dos relatos, Aleksiévitch parece confrontar o narrador com essa questão.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #4

Para a próxima semana, vamos até o final da segunda parte, na página 237.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Lembranças, memórias e a necessidade de seguir em frente mesmo sem saber exatamente como lidar com o passado. Nessa segunda parte, intitulada A Coroa da Criação, Aleksiévitch nos mostra que mais difícil que assimilar o alcance geográfico da radiação é compreender seu alcance no tempo.

A catástrofe de Tchernóbil não viajou apenas de um espaço a outro. Ela viaja por gerações, seja por meio dos traumas que marcam famílias inteiras, seja pelo sofrimento físico manifestado em doenças nunca vistas. A impossibilidade de entender essa espécie de eternidade do desastre está entre as reflexões de um dos entrevistados dessa segunda parte:

Recordo uma conversa com um cientista. “Isso é para mil anos”, ele me explicava, “o urânio se desintegra em 238 semidesintegrações. Se traduzirmos em tempo, significa um bilhão de anos; e no caso do tório, trata-se de 14 bilhões de anos.” Cinquenta. Cem. Duzentos anos. E depois? Depois é puro estupor. Mais que isso, a minha mente não dá conta de imaginar. Deixa de compreender o que é o tempo. Onde estou?

Um dos relatos mais impressionantes dessa parte do livro é o de Larissa Z., uma mulher que se tornou mãe depois do desastre. Ela vivia em um povoado que deveria ter sido evacuado, mas não foi, porque “o Estado não tinha dinheiro”. A bebê do jovem casal nasceu como um “saquinho vivo, costurado por todos os lados, não tinha nem uma fenda sequer, só os olhos abertos”, descreve a mãe. Todos os orifícios tiveram que ser construídos por uma série de cirurgias. Ainda assim, a menina não conseguia fazer xixi, precisava ser forçada pela mãe. Acostumada aos hospitais, sem saber o que é levar uma vida normal – uma vida antes de Tchernóbil – a garota já havia superado todas as expectativas e chegado aos quatro anos de idade. Quatro anos que em nada se assemelham à ideia que temos de infância:

…brinca de forma diferente, não brinca de lojinha, de escolinha, brinca de hospital com as bonecas, dá injeções, põe o termômetro, prescreve gotinhas; se a boneca morre, ela cobre com um lenço branco.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #3

Para a próxima semana, vamos até a página 181, logo antes de começar o “Monólogo sobre a filosofia cartesiana e sobre como você come um sanduíche contaminado com outra pessoa para não passar vergonha”.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

Depois dos capítulos de ambientação, Aleksiévitch relata na primeira parte de Vozes de Tchernóbil a situação de “terra arrasada” que passou a caracterizar aquelas aldeias e vilarejos perto de Prípiat e do reator. É a Terra dos Mortos, define a autora.

Quem se recusou a evacuar a região, ou aqueles mais insistentes que retornaram para suas casas depois de alguns anos, vivem, de certa forma, como fantasmas na “zona proibida”. As aldeias estão vazias, a maioria das casas foi abandonada e saqueada. Não sobraram vizinhos, poucos animais sobreviveram e quem tomou a decisão de ficar vive uma dieta de subsistência, a partir da colheita do que ainda é possível plantar na região. Sentem-se solitários, mas preferem esse destino a abandonar sua terra:

Vou ao cemitério. (…) Eu me sento perto de todos eles. Suspiro. E até posso falar com eles, tanto com os vivos quanto com os mortos. Para mim não há diferença. Ouço tanto uns quanto os outros. Quando você está só… E quando está triste. Muito triste…

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #2

Depois de um início emocionante, no qual gastamos uns tantos lencinhos de papel, foi bastante difícil parar a leitura de Vozes de Tchernóbil. Mas somos obedientes e só agora vamos avançar a primeira parte, até a página 121. 

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

As 50 primeiras páginas de Vozes de Tchernóbil são arrebatadoras.

O capítulo de abertura, “Nota histórica”, traz uma coletânea de publicações bielorrussas na internet entre 2002 e 2005. Para os leitores que não estão tão familiarizados com a catástrofe, a introdução é bem-vinda. Números, datas, nomes, localidades começam a desenhar o cenário que encontraremos na sequência. Tudo assusta – quantidade de mortos, alcance da radiação, incidência atual de doenças oncológicas na região.

Um desses excertos fala do sarcófago construído às pressas para conter o quarto reator, que “continua guardando nas suas entranhas de chumbo e concreto armado cerca de duzentas toneladas de material nuclear”. Esse trecho resume bem o sentimento que temos ao terminar a leitura desse primeiro capítulo. É a sensação de pavor. Pavor diante do mal à espreita:

O sarcófago é um defunto que respira. Respira morte. Quanto tempo ainda se sustentará? A isso ninguém responde.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #1

Foi dada a largada! Começamos o segundo Clube do Livro do Achados & Lidos. O título da vez é Vozes de Tchernóbil, da escritora bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura em 2015. Para a próxima semana, vamos ler até a página 51.

Saímos da Nigéria de Chimamanda Ngozi Adichie para Ucrânia de Svetlana Aleksiévitch. De uma tragédia familiar para uma tragédia social. O cenário é o desastre nuclear de Tchernóbil, em 26 de abril de 1986, que levou centenas à morte nos dias seguintes ao acidente, por causa do contato com a radiação. Nos anos posteriores, outros milhares também sofreriam de problemas decorrentes da exposição às partículas radioativas irradiadas da usina.

Como lembra a Companhia das Letras, selo responsável pela edição brasileira, tão grave quanto o acontecimento foi a postura dos governantes e gestores soviéticos, que nem desconfiavam estar às vésperas da queda do regime, ocorrida poucos anos depois. Esquivavam-se da verdade e expunham trabalhadores, cientistas e soldados à morte durante os serviços de reparo na usina.

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