Tag: União Soviética

[O Mestre e Margarida] Semana #4

Entre desaparecimentos suspeitos e um ambiente endiabrado, continuamos a mergulhar no passeio por Moscou proposto por Mikhail Bulgákov em O Mestre e Margarida. De forma provocativa, o autor russo coloca o diabo como o mestre da magia negra, capaz de fazer desaparecer pessoas com facilidade. Pelo paralelo com Stálin e as críticas nem sempre sutis ao regime político da União Soviética, o livro de Bulgákov só foi publicado em seu país em 1973. Continuamos empolgados com essa leitura ao mesmo tempo espantosa e intrigante!  Está acompanhando conosco? Na próxima semana vamos até a página 124, ou capítulo 12, caso você não tenha a edição da foto!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Não existe infelicidade maior do que a perda da razão.

Esse pensamento, que vem à mente do poeta Riúkhin ao deixar a clínica psiquiátrica, onde foi instalado Bezdômny, provoca uma reflexão interessante no leitor de O Mestre e Margarida. Ao narrar a chegada do Diabo e de sua comitiva à Moscou, em uma prosa delirante, o autor russo parece questionar a sanidade de todo um povo diante do autoritarismo de um regime em que as pessoas desapareciam do dia para a noite, sem deixar vestígios.

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[O Mestre e Margarida] Semana #2

Um encontro inusitado e um diálogo de humor afiado marcaram o início de O Mestre e Margarida. Já pressentimos uma ótima leitura pela frente! Para a próxima semana, vamos até a página 72 (capítulo 6).

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Uma conversa entre dois amigos, um poeta e seu editor,  e um terceiro desconhecido que se intromete. Até aí, nada de muito novo. Mas à medida que o diálogo avança, percebemos que esse desconhecido não é uma criatura comum. Parece estrangeiro, embora apresente um russo perfeito (além de várias outras línguas). Tem uma fala eloquente, sendo capaz de discutir os temas mais polêmicos, com uma erudição impressionante. Sua aparência também  não passa despercebida:

Antes de tudo: o descrito não mancava de nenhuma das pernas, e a estatura não era pequena nem imensa, porém simplesmente elevada. No que tange aos dentes, do lado esquerdo as coroas eram de platina e, do direito, de ouro. Trajava um caro terno cinza e sapatos estrangeiros da cor do terno. Trazia uma boina cinza de lado e, debaixo do braço, uma bengala com um castão preto na forma de uma cabeça de poodle. Aparentava uns quarenta e poucos anos. A boca era meio torta. Bem barbeado. Moreno. O olho direito era preto, o esquerdo, por algum motivo, verde. Sobrancelhas pretas, só que uma mais alta do que a outra. Em suma, um estrangeiro.

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[Resenha] O Fim do Homem Soviético

Fico andando em círculos ao redor da dor. Não consigo me afastar. Na dor, existe tudo: tanto sombras como solenidade; às vezes, creio que a dor é uma ponte entre as pessoas, um elo oculto; mas outras vezes penso desesperada que aquilo é um abismo.

Difícil imaginar como Svetlana Aleksiévitch sobrevive ao convívio com tantos e tão diversos sofrimentos. Mais impressionante ainda é sua maestria em transformar essa dor em literatura.

Sua escrita é pungente, mas hipnotizante. Por mais incômodos que sejam seus relatos, uma vez que começamos a lê-los, é impossível não ir até o fim. Aleksiévitch nos arranca de nossa zona de conforto e mostra que a consciência da realidade é um caminho sem volta.

Sua matéria-prima são as emoções do homem comum. A História já se ocupou dos fatos. Aleksiévitch dá voz aos sentimentos e à infinita quantidade de verdades humanas.

O Fim do Homem Soviético reúne entrevistas que a escritora e jornalista realizou entre 1991 e 2012 com pessoas que viveram a queda do império soviético. De um momento a outro, uma estrutura gigantesca ruiu. A chave virou de um socialismo sangrento para um capitalismo selvagem. O território unificado se dividiu. Na teoria, o homem soviético entrou em extinção. Na prática, várias Rússias foram confinadas dentro de uma mesma Rússia, dando origem a uma nação contraditória e cheia de conflitos, em que a intolerância e o ódio estão prontos para explodir a qualquer momento.

O choque entre gerações é gritante. Avós viam em Stálin um deus. Filhos que só queriam poder vestir jeans e comprar eletrônicos se rebelaram e, em vez de liberdade, ganharam um capitalismo atroz e uma democracia frágil (para não dizer falsa). Netos substituíram o culto à pátria pelo culto ao dinheiro. O que eles têm em comum? O sofrimento ronda a todos.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #3

Para a próxima semana, vamos até a página 181, logo antes de começar o “Monólogo sobre a filosofia cartesiana e sobre como você come um sanduíche contaminado com outra pessoa para não passar vergonha”.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

Depois dos capítulos de ambientação, Aleksiévitch relata na primeira parte de Vozes de Tchernóbil a situação de “terra arrasada” que passou a caracterizar aquelas aldeias e vilarejos perto de Prípiat e do reator. É a Terra dos Mortos, define a autora.

Quem se recusou a evacuar a região, ou aqueles mais insistentes que retornaram para suas casas depois de alguns anos, vivem, de certa forma, como fantasmas na “zona proibida”. As aldeias estão vazias, a maioria das casas foi abandonada e saqueada. Não sobraram vizinhos, poucos animais sobreviveram e quem tomou a decisão de ficar vive uma dieta de subsistência, a partir da colheita do que ainda é possível plantar na região. Sentem-se solitários, mas preferem esse destino a abandonar sua terra:

Vou ao cemitério. (…) Eu me sento perto de todos eles. Suspiro. E até posso falar com eles, tanto com os vivos quanto com os mortos. Para mim não há diferença. Ouço tanto uns quanto os outros. Quando você está só… E quando está triste. Muito triste…

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[Resenha] Operação Impensável

Famílias felizes, famílias infelizes. Todas o são da mesma maneira, para distorcer um pouco a célebre frase de abertura de Anna Kariênina, de Liev Tolstoi. Ou, ao menos, é o que parece nos querer dizer Vanessa Barbara em Operação Impensável.

Comprei o livro bastante animada. Na lista dos 20 melhores jovens escritores brasileiros da revista literária Granta, Barbara escreve deliciosas crônicas para jornais e blogs e ainda compartilha de uma paixão privada, que é analisar a tradução de cardápios. Seu romance mais recente, porém, está longe de ter a mesma graça que seus textos mais curtos.

Operação Impensável conta a história de um casamento que durou cinco anos e terminou em guerra. Nos tempos de paz, somos apresentados a Lia, historiadora, e Tito, programador. Uma família feliz como tantas outras, dona de duas tartarugas, três gatos e uma dezena de filmes vistos e comentados juntos.

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