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Notas sobre a Flip 2016

Sempre gostei de literatura, mas nunca tinha ido à Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip. Em 2016 não podia deixar passar. Afinal, este é o ano em que comecei a levar minha paixão pelos livros mais a sério. Eu e Tatá lançamos o blog, me tornei uma leitora mais atenta e estou acompanhando de perto o que acontece no universo literário.

Minhas expectativas, que não eram poucas, foram todas atendidas. A cidade, que havia visitado na minha adolescência e da qual já não me lembrava bem, conseguiu ficar ainda mais bonita com a atmosfera criada pela Flip. Não imagino lugar melhor no nosso país para sediar essa festa.

A sensação que tive quando lançamos o blog – de satisfação por encontrar tantas pessoas interessadas em literatura – me invadiu novamente nesses dias. Ouvi sotaques de todas as regiões e esbarrei com várias gerações. Nas filas para os autógrafos e para as mesas, escutei conversas e tive diálogos fortuitos com pessoas que carregavam o mesmo entusiasmo e ansiedade que eu.

Literatura no chão, em movimento, em espera, pendurada em árvores, em rodas de crianças, deitada na grama… Se vocês me perguntarem o que eu ouvi de mais interessante na Flip com certeza foi isto: o burburinho alentador de livros ganhando vida por toda parte.


Deixei aqui embaixo o que pude resgatar das minhas anotações (nem sempre legíveis! rs) de cada uma das mesas que acompanhei.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #9

Este é o último post sobre Vozes de Tchernóbil. Gostamos muito da leitura e estamos ansiosos para os próximos lançamentos da Svetlana Aleksiévitch no Brasil. Como já fizemos anteriormente, abrimos espaço para que os leitores que nos acompanharam ao longo dessa leitura pudessem compartilhar o que acharam do livro. Ficamos muito felizes com a participação de vocês!

Caroline Arice

O que dimensiona o tamanho de uma catástrofe? Geralmente, são os números. O número de mortos, o número de desabrigados, o número de órfãos, o número de afetados física e psicologicamente. Já Svetlana Aleksiévitch dá um rosto – ou vários – a um dos maiores desastres da história da humanidade. O horror que nós conhecíamos por números fica ainda mais chocante quando “ouvimos” as vozes de quem viveu e ainda vive a história de Tchernóbil. E a verdade é que um bom depoimento vale mais do que qualquer relatório de dados.

O povo bielorusso estava, sim, preparado para o pior – afinal, o que pode ser pior do que uma guerra que dizimou quase um terço da população? Eles estavam à espera de um inimigo definido, manifesto e incontestável, como havia sido durante a guerra. Então, como lidar com uma ameaça invisível que não tem som e nem cor? No livro, os relatos intercalam-se com lembranças da guerra e com a decomposição da União Soviética. Com fatos, para eles, muito mais fáceis de digerir e entender do que um desastre nuclear sobre a qual nunca tinham ouvido falar. Por isso, a imagem da tragédia de Tchernóbil parece uma história mal enterrada.

Vozes de Tchernóbil, para mim, foi um soco no estômago como tinha sido a leitura de Diário de Anne Frank e É isto um homem?, do Primo Levi. O sentimento que me trouxe foi exatamente o mesmo: o que ainda está por vir? Estaremos nós, humanidade, preparados mesmo para o lado ruim do que nós mesmos criamos? Eu não sei vocês, mas, às vezes, me dá um frio na barriga só de imaginar o que nos aguarda.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #8

Acabou! Depois de dois meses de uma leitura intensa, chegamos ao final de Vozes de Tchernóbil. E você, o que achou do livro? Mande sua opinião para o e-mail blogachadoselidos@gmail.com. Na próxima semana, publicaremos por aqui as impressões dos nossos leitores.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Nos últimos posts sobre Vozes de Tchernóbil, destacamos o excelente trabalho de edição de Svetlana Aleksiévitch. O seu discurso na cerimônia do prêmio Nobel de Literatura, em dezembro do ano passado, é significativo para a narrativa, porque amarra alguns temas presentes nos diversos relatos, agora sob o seu ponto de vista.

Fechar o livro com essa fala da escritora também foi um grande acerto de edição, dessa vez da Companhia das Letras. O discurso é belo e tem o tom pessoal de Aleksiévitch que, por vezes, sentimos falta ao longo do livro. O capítulo final parece nos aproximar ainda mais da autora do que aquele início, em que ela entrevista a si mesma. Talvez seja porque depois de ouvir tantas vozes estejamos mais preparados para entender as inquietações que mobilizaram Aleksiévitch.

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #7

Reta final de Vozes de Tchernóbil! Para a próxima semana, terminamos a leitura do livro.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O medo de ter sua história apagada do mapa e da memória é um dos temas de destaque nos depoimentos desse último trecho que lemos. Se voltarmos lá para o comecinho do livro, no capítulo em que Svetlana Aleksiévitch reúne algumas notícias sobre o desastre, logo no primeiro parágrafo, já percebemos que impedir esse esquecimento foi um dos principais estímulos da escritora:

Belarús… Para o mundo, somos uma terra incógnita – uma terra totalmente desconhecida. “Rússia Branca”: é mais ou menos assim que o nome do nosso país soa em inglês. Já Tchernóbil todos conhecem; no entanto, relacionam-no apenas à Ucrânia e à Rússia. Um dia ainda deveríamos contar a nossa história.

Ao longo do livro, identificamos uma série de motivos que levou os entrevistados a expor seus relatos a Aleksiévitch – tristeza, necessidade de compartilhar, indignação, sede de justiça, culpa e, finalmente, o medo de ser esquecido. E não se trata de um receio de ser apagado apenas como indivíduo, mas também como povo:

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[Vozes de Tchernóbil] Semana #6

Infelizmente, a leitura está chegando ao fim! Para a próxima semana, vamos até a página 349.

Por Tainara Machado e Mariane Domingos

No último post, falamos aqui do trabalho primoroso de edição de Svetlana Aleksiévitch, de sua capacidade de sobrepor narrativas sem torná-las repetitivas e de nos conduzir, ao longo da história, pelos diferentes sentimentos com que foram confrontados os habitantes de Tchernóbil e arredores.

O trecho que lemos nesta semana traz com mais ênfase a visão de cientistas e pesquisadores que foram enviados ao reator pelas autoridades. Ao longo dos depoimentos, é levantado um traço muito interessante da relação dos soviéticos com a ciência: as zonas que foram atingidas pela explosão viviam, simultaneamente, em duas eras. A evolução, ou melhor, o salto tecnológico dessa nação foi brusco e setorizado. Não houve preparação. “O átomo e a pá” coexistiam:

Dentre os trabalhadores da central de Tchernóbil, muitos eram camponeses. De dia estavam nos reatores, e à noite, cuidando das suas hortas, ou na casa dos pais, na aldeia vizinha, plantando batatas com a pá ou espalhando esterco com a forquilha. (…) A sua consciência oscilava entre dois tempos, entre duas eras: a da pedra e a atômica. E o homem, como um pêndulo, movia-se de um extremo a outro.

Até entre os pesquisadores e cientistas, o nível de compreensão da extensão do acidente era desigual, mas não resta dúvida de que essas eram as pessoas que tinham mais clareza sobre as consequências perniciosas do desastre. O que você faz quando sabe o que está acontecendo e não tem nenhuma reação? Em um dos relatos, Aleksiévitch parece confrontar o narrador com essa questão.

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