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[Resenha] O Conto Zero e Outras Histórias

Contos são, no geral, narrativas bastante lineares. A concisão se faz necessária, e a adoção de uma estrutura narrativa mais simples, em que um personagem domina a ação até seu desfecho, é a construção que comumente funciona no gênero.

Sergio Sant’Anna, um dos maiores contistas brasileiros em atividade, subverte esse padrão em O Conto Zero e Outras Histórias (Companhia das Letras, 173  páginas, três estrelas), lançado em 2016. Logo no primeiro texto, o autor usa da metalinguagem para nos colocar de frente para a página em branco e a decisão de escrever ou não uma história, “que ficaria dias e mais dias rondando a  sua cabeça”.

O conto, que aos poucos ganha forma por meio de viagens consecutivas – de ônibus no Rio de Janeiro, de metrô em Londres -, é repleto de autorreferências sobre a infância e juventude de Sant’Anna e sua formação sentimental ao lado do irmão mais velho. Os constantes deslocamentos dos personagens parecem simbolizar a viagem no tempo em que mergulha o autor, pois também as memórias parecem vagar em nossa alma, para de repente chegar ao seu destino.

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[O Retrato de Dorian Gray] Semana #9

O que o final desse romance reserva ao personagem de Dorian Gray? Com uma personalidade cada vez mais sombria e perigos se multiplicando à sua volta, estamos curiosas para saber o desfecho dessa história. Para a próxima semana, leremos os capítulos 17 e 18, até a página 243 se você tem essa edição da foto (da Penguin-Companhia) de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Depois de assassinar o pintor Basil Hallward e chantagear um amigo para ajudá-lo a se livrar do corpo, Dorian Gray segue levando a vida como se nada houvesse, atormentado apenas por alguns poucos lapsos de consciência, que nunca duram o suficiente para fazê-lo se arrepender.

Em sua primeira aparição depois do crime, em um jantar festivo, Gray mantém as aparências, embora os amigos mais próximos percebam que ele está distante. Vestir uma máscara, nos mostra Wilde, não era nenhum esforço para o personagem, tão acostumado a esconder o segredo da podridão de sua alma. Ao usar a primeira pessoa do plural, Wilde generaliza essa vida de aparências e faz uma provocação ao leitor:

Talvez nunca nos sintamos tão à vontade como quando temos de representar um papel.

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[Resenha] Tudo Pode Ser Roubado

Garçonete de um famoso restaurante em São Paulo, a personagem principal de Tudo Pode Ser Roubado, romance de estreia de Giovana Madalasso (Todavia Livros, 189 páginas), está sempre à espreita de breves encontros sexuais que possam terminar com objetos de valor sutilmente furtados.

Descrita como uma “sonhadora mequetrefe”, ela parece se importar pouco com o fato de levar uma vida que muitos poderiam caracterizar como sem propósito. Suas ambições momentâneas, depois de sair do “fungo”, o apartamento sem incidência de luz solar em que morou quando chegou a São Paulo, envolvem dar entrada no seu apartamento e não ser demitida do trabalho no restaurante, onde a galeria de alvos potenciais para seus roubos é extensa.  

Seu cotidiano vazio acaba sofrendo uma reviravolta quando é procurada por um tipo duvidoso. Chamado de Biel, o personagem, espécie de pilantra profissional, lhe traz uma proposta arriscada e inusitada: o roubo de um livro raro, usando suas táticas de sedução para subtraí-lo da casa de um professor. O colecionador que contratou os serviços do vigarista nos remete quase imediatamente a Charles Cosac, ex-dono da editora que levava o seu nome e de um sócio (Cosac & Naify). Descrito neste perfil do jornal Valor Econômico como um colecionador voraz de obras de arte, Cosac é de uma personalidade marcante, capaz de levar os dedos do avô falecido pendurados no pescoço.

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[O Retrato de Dorian Gray] Semana #8

Sabíamos que a revelação da verdade escondida pelo retrato de Dorian Gray seria dolorosa, mas os últimos dois capítulos trouxeram rumos inesperados para a trama. Está nos acompanhando nesta reta final? Para a próxima semana,  avançamos mais dois capítulos na leitura de O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde (o 15 e o 16), até a página 224 se você tem a edição da foto, da Penguin-Companhia.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O confronto entre criador e criatura, antecipado desde as primeiras páginas do clássico de Oscar Wilde, tomou ares de livro de terror nos últimos dois capítulos. Depois da visita inesperada de Basil Hallward à casa de Dorian Gray, acusando-o de ter se tornado um homem vil, tido como má influência pela sociedade, o personagem decide enfim revelar seu segredo, tão bem escondido em um quarto de acesso restrito em sua mansão.

Quando Basil enfim se vê diante da tela em que, anos antes, havia imortalizado a beleza de seu amigo, é tomado pela incredulidade.

Sim, era o próprio Dorian. Mas quem o tinha feito? Reconhecia suas pinceladas, e a moldura que fora desenhada por ele. A ideia era monstruosa e sentiu medo. Pegou a vela acesa e a segurou diante do quadro.  No canto esquerdo estava seu próprio nome, traçado em letras alongadas em vermelho vivo.

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“Queria a certeza plana dos dias normais, mesmo sabendo bem que no corpo perdurava um movimento frenético e outro, uma rápida aparição, como se tivesse visto no fundo de um buraco um horrível inseto venenoso e cada parte de mim estivesse ainda se retraindo e agitando os braços, as mãos, as pernas. Preciso aprender  de novo – disse – o passo tranquilo de quem acha que sabe aonde está indo e por quê.”

 

Elena Ferrante em Dias de Abandono

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