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[Resenha] Foe

J. M. Coetzee é conhecido por ser um autor sempre na fronteira do experimentalismo, o que faz com que seja tão amado quanto controverso. Em Diário de Um Ano Ruim, por exemplo, os ensaios encomendados por um editor alemão dividem espaço, na mesma página, com uma espécie de diário do escritor e de sua digitadora, numa história entrecruzada que forma um interessante romance.

A série que compreende Infância, Juventude e Verão é uma espécie de relato biográfico, mas o narrador, em terceira pessoa, se mantém distante, frio, seco. Desonra trata das acusações contra um professor universitário que cai em desgraça, rearranja a vida no interior mas é novamente alvo de violência, num retrato da África do Sul pós-apartheid que deixa um gosto amargo na boca (mas é um dos melhores livros que já li, e que ainda pretendo revisitar).

Foe, publicado em 1986, mas lançado pela Companhia das Letras no Brasil apenas no ano passado, é mais um desses exemplos. O autor deixa a polêmica – um pouco – de lado para resgatar a história do mais famoso náufrago da literatura, Robinson Crusoé, sem abandonar suas raízes contemporâneas e questionadoras.

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[A Máquina de Fazer Espanhóis] Semana #13

Após quatro edições do Clube do Livro do Achados & Lidos, não exageramos ao dizer que A Máquina de Fazer Espanhóis foi o título que, em todas as semanas, nos rendeu, sem dificuldade, posts cheios de reflexões. A escrita de Valter Hugo Mãe consegue ser certeira em dez páginas, cinco, um parágrafo ou duas linhas. Por menor que fosse o trecho lido, sempre encontrávamos espaço para uma análise válida. Esperamos que vocês tenham apreciado a leitura tanto quanto nós e que nosso objetivo de conseguir ainda mais leitores para Hugo Mãe tenha sido alcançado. 

E fique ligado: a quinta edição do nosso Clube de Livro começa em janeiro! Escolhemos um título que foi um dos grandes lançamentos de 2016 e muito bem avaliado pela crítica. Enquanto esperamos o início do próximo ano, vamos fazer uma edição relâmpago do Clube com uma leitura temática natalina: o conto A Missa do Galo (Variações sobre o mesmo tema), de Lygia Fagundes Telles. Vocês podem encontrá-lo na coletânea A Estrutura da Bolha de Sabão. Esperamos vocês!

E, como já fizemos anteriormente, abrimos espaço para que os leitores que nos acompanharam ao longo dessa leitura pudessem compartilhar o que acharam do livro. Ficamos muito felizes com a participação de vocês!

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[Resenha] História de Quem Foge e de Quem Fica

O terceiro volume da tetralogia napolitana de Elena Ferrante, publicado no Brasil pelo selo Biblioteca Azul, não só mantém o vigor narrativo dos dois primeiros livros como amplia fronteiras e aprofunda relações [leia também a resenha de A Amiga Genial e História do Novo Sobrenome]. A amizade entre Elena Greco e Rafaella Cerullo cede espaço, como tema central, para a crescente tensão social na Itália das décadas de 60 e 70. A desigualdade, pano de fundo sempre presente nas histórias do bairro, ganha protagonismo quando Elena “foge” e Lila fica em Nápoles.

Elena Greco, a narradora, sempre soube que precisava deixar o bairro e via como válvula de escape a educação. Com autodisciplina, persistência e o apoio velado da mãe ( apesar dos conflitos entre as duas), consegue se formar, escrever e publicar um livro, o que lhe abre as portas da academia, dos jornais e até de uma proeminente família milanesa, os Airota.

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[Resenha] Sobre a Beleza

As famílias são microcosmos da sociedade. A escritora inglesa Zadie Smith explora essa ideia, com maestria, ao dar vida aos Belsey, clã que protagoniza seu romance Sobre a Beleza, obra finalista do Man Booker Prize e vencedora do prêmio Orange, de ficção.

Howard Belsey, inglês, branco e professor universitário, é casado há trinta anos com Kiki, uma enfermeira afro-americana. Eles são pais de Jerome, estudante de Brown, Zora, que frequenta a universidade em que o pai leciona, e Levi, um colegial que despreza o ambiente acadêmico de sua família. Já na descrição da casa dos Belsey, em Wellington, na Nova Inglaterra, Smith introduz com sutileza questões raciais e sociais que irão permear toda a narrativa:

A escada em si é um espiral íngreme. Para oferecer distração na descida, foi pendurada nas paredes uma galeria fotográfica da família Belsey (…). Estão dispostos em triunfante e calculada sequência: a tataravó de Kiki, uma escrava doméstica; a bisavó, criada; e depois sua avó, uma enfermeira. Foi a enfermeira Lily que herdou toda essa casa de um benevolente médico branco ao lado do qual trabalhou vinte anos na Flórida. Uma herança dessa escala muda tudo para uma família pobre americana; ela se torna classe média.

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[Resenha] As Avós

Inspirada pelo último texto da Mari para o Divã, decidi que devia apostar em um nome ainda não citado pelo Achados & Lidos para a resenha desta semana. Olhando para as compras na Festa do Livro da USP (assunto para outro post), escolhi As Avós, de Doris Lessing.

O estilo de Lessing, uma das seis mulheres a levar o Prêmio Nobel de Literatura nas últimas duas décadas, me surpreendeu. Conhecida por seu ativismo político e por seu linguajar afiado ao comentar acontecimentos mundanos, esperava um livro de linguagem forte e rascante, mas o que encontrei foi um tom comedido e, ao mesmo tempo, límpido, como neste trecho de apresentação dos personagens:

Dois belos homens vinham na frente, não jovens, mas apenas o despeito poderia dizer que eram de meia-idade. Um deles mancava. Em seguida duas mulheres tão bonitas quanto eles, de uns sessenta anos – mas ninguém nem sonharia em chamá-las de velhas. Numa mesa evidentemente conhecida deixaram sacolas, cangas e brinquedos, gente serena e radiante, como são os que sabem usar o sol.

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