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[Resenha] Homens Imprudentemente Poéticos

Quando o olhar lírico do escritor português Valter Hugo Mãe encontra a cultura milenar do Japão antigo, o resultado não poderia ser outro senão uma literatura que alcança o mais alto patamar de forma e conteúdo. Homens Imprudentemente Poéticos é um livro que premia o leitor com a beleza da linguagem, ao mesmo tempo em que, sem perder o ritmo narrativo, extrai os encantos e a fealdade da essência humana.

A história se passa em uma aldeia no Japão e, assim como em seu outro romance A Desumanização, cuja trama foi concebida após uma temporada na Islândia, para este livro, Hugo Mãe também imergiu na cultura local. Mais do que inspiração para lugares e personagens, o escritor soube refletir no romance a sabedoria japonesa, especialmente em relação à morte, à natureza e à felicidade.

O artesão de leques Itaro é “um cúmplice da natureza, um certo intérprete” que expressa toda beleza da fauna e da flora na meticulosidade de suas pinturas. Paradoxalmente a essa sensibilidade, Itaro é um homem abatido pela miséria, não apenas de dinheiro, mas principalmente de ternura. Ele tem o dom de ver o futuro no instante exato da morte dos animais. Suas visões sempre trazem destinos cruéis e ele vive encurralado entre o ímpeto da curiosidade, e portanto da vontade de matar, e o assombro da descoberta.

O oleiro Saburo, vizinho de Itaro, é o oposto do artesão. Um poço de amor, pelo menos até a morte da esposa Fuyu, atacada por uma fera misteriosa vinda da montanha. A tragédia já havia sido anunciada por Itaro e, a despeito das tentativas de Saburo para proteger a amada, o presságio se concretiza e endurece, aos poucos, a alma do oleiro:

A sua vontade apenas queria cuidar do mundo. Mas dormia apoquentado com a solidão e o crescente tamanho do amor. O amor, na perda, era tentacular. Uma criatura a expandir, gorda, gorda, gorda. Até tudo em volta ser esse amor sem mais correspondência, sem companhia, sem cura. Que humilhante a solidão do amante. O oleiro disse assim: que humilhante o coração que sobra. O amor deixado sozinho é uma condição doente.

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[Resenha] O Conto da Aia

Imagine um mundo no qual as mulheres são divididas em categorias, não podem mais ler nem escrever sob pena de ter a mão cortada, e no qual o amor e a paixão são crimes contra o objetivo primordial do Estado: a reprodução. Foi esse futuro distópico que a canadense Margaret Atwood descreveu em O Conto da Aia, o clássico lançado em 1985 que acumula milhões de exemplares vendidos nos últimos 30 anos, além de ter sido traduzido para mais de 40 idiomas. Em junho, O Conto da Aia ganha nova edição no Brasil, pela Rocco.

Poucas vezes se falou tanto de um livro lançado há mais de três décadas. O influente clube do livro de Emma Watson, com fóruns de discussão no Goodreads e em perfis do Instagram,  por exemplo, escolheu O Conto da Aia como leitura para o mês de maio, o que só fez aumentar o debate em torno do título.

É claro que a série televisiva, uma produção americana resultado da parceria entre as emissoras MGM e Hulu, contribuiu para o fenômeno, mas o que parece ter levado as atenções a se voltar para esse romance é mesmo a ascensão da extrema-direita nos Estados Unidos, cujo símbolo maior foi a eleição de Donald Trump para a presidência no fim do ano passado.

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[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #8

Encerramos a leitura de mais uma edição do nosso Clube do Livro! Gostamos muito de O Amor dos Homens Avulsos e, agora, fazemos coro a todas as boas críticas que nos levaram à escolha do título escrito por Victor Heringer. Os últimos capítulos mantiveram a força da narrativa e fecharam de maneira muito coerente a ideia que baseia a história. E vocês, gostaram da leitura de O Amor dos Homens Avulsos? Fiquem ligados: na próxima semana, teremos um post muito especial por aqui!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

A relação de pai e filho entre Camilo e Renato é finalmente definida. A partir das sutilezas do dia a dia, Victor Heringer mostra como os laços de cuidado e afeto vão se construindo. Dos detalhes da ceia de Natal, que neste ano deveria ser mais especial pela presença do garoto, às broncas pelas travessuras, fica claro que a ternura venceu o ódio:

Onde é que começa o amor ninguém lembra. Os gatilhos do ódio são todos fáceis (…). Aí poderia ter começado o ódio, mas não começou. Poderia ter começado quando o moleque berrou que ele não era seu pai porque foi proibido de ir para rua às oito da noite. Mas não começou.

É assim que Camilo sabe que ama o filho.

O ódio nunca começa quando pode.

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[Resenha] O jornalista e o assassino

Em O Jornalista e o Assassino, a repórter Janet Malcom retoma a história de um famoso crime nos Estados Unidos para refletir sobre princípios jornalísticos e, principalmente, sobre a delicada relação moral entre jornalistas e suas “fontes”, os personagens que dão vida e cor às histórias narradas em grandes reportagens.  

A história do médico Jeffrey MacDonald, acusado e condenado pelo assassinato da esposa e das duas filhas pequenas, é o pano de fundo desse livro, mas não é exatamente essa a história que Malcom quer contar. MacDonald nunca se declarou culpado, a despeito de diversas evidências que lhe eram bastante desfavoráveis. Ao fim do julgamento, que o sentenciou à prisão perpétua, decidiu procurar alguém que pudesse fornecer a sua própria versão dos fatos. Esse alguém seria o jornalista Joe McGinniss, que havia alcançado o sucesso com a publicação de A Promoção do Presidente, um relato sobre as táticas usadas pelo então candidato à Presidência Richard Nixon para parecer menos detestável aos eleitores.

Malcom expõem o conflito ético subjacente nessa relação logo no primeiro parágrafo:

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[O Amor dos Homens Avulsos] Semana #6

Passamos da metade de O Amor dos Homens Avulsos, de Victor Heringer, e nas últimas páginas o amor de Camilo por Cosmim deixou o terreno das vontades para ganhar materialidade, com o primeiro beijo. Corajosos, em vez de se esconder os dois assumem a relação, primeiro para os amigos do bairro e depois para toda a gente do Queím. O choque, contudo, não vem da “cara amolecida” dos amigos, e sim das “caras velhas e das moças de família” do bairro, um dos trechos em que a capacidade do autor de construir julgamentos de forma tênue e sensível ficou mais evidente. Na próxima semana, avançamos até o capítulo 59, na página 127. Continue acompanhando com a gente essa leitura!

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

Passada a euforia da descoberta do primeiro amor, Cosme e Camilo têm um choque de realidade. As vulnerabilidades e o preconceito entram em cena quando a relação dos dois vem à tona.

Ao mesmo tempo em que o amor faz o garoto se sentir completo, a dependência em relação a Cosme o enfraquece. É como se esse sentimento tirasse Camilo da solidão, mas o ameaçasse a todo momento com ela. Bastava perder a pessoa amada para que tudo desmoronasse. E era um caminho sem volta: o amor era de tal forma o alcance da plenitude que retornar à situação de antes já não bastaria. Neste trecho, Heringer descreve as sensações que sucedem o primeiro beijo do casal e, desenvolve, brilhantemente, essa dicotomia:

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