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[Resenha] Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas

Na semana passada, a literatura brasileira perdeu uma de suas vozes contemporâneas mais importantes. Elvira Vigna morreu aos 69 anos, depois de uma longa e secreta luta contra o câncer. Em meio a essa árdua batalha, Elvira publicou Como se Estivéssemos em Palimpsesto de Putas pela Companhia das Letras. Se um título forte como esse já desperta a curiosidade dos leitores, as páginas seguintes atiçam ainda mais a mente de quem mergulha nesse livro.

Elvira Vigna, se percebe pelas primeiras linhas, não é uma autora qualquer. Suas frases são curtas, duras. Compreender seu significado exige do leitor entrega que é quase um processo de escrita, no esforço de buscar o não dito nas entrelinhas.

Está escuro e tenho frio nas pernas. No entanto, é verão. Outra vez. Deve ser psicológico. Perna psicológica.
Faço hora, o que pode ser dito de muitos outros momentos da minha vida.
Mas nessa hora que faço, vou contar uma história que não sei bem como é. Não vivi, não vi. Mal ouvi. Mas acho que foi assim mesmo.

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[Resenha] Stoner

O cotidiano de um homem comum pode ser palco de uma grande história. Stoner, romance do americano John Williams, parte desse princípio para extrair de um enredo aparentemente banal uma literatura surpreendente.

Filho de camponeses humildes, nascido em 1891, o personagem central William Stoner entra na vida adulta sem grandes ambições de um futuro diferente do dos pais:

Aos 30, seu pai aparentava 50; encurvado pelo trabalho, contemplava sem esperança o árido pedaço de terra que sustentava a sua família de um ano para o outro. Sua mãe encarava a vida pacientemente, como se fosse uma longa espera que tivesse de suportar.

A primeira mudança de rota para Stoner vem quando um agente rural visita a propriedade de seu pai para anunciar a abertura de uma escola de Ciências Agrárias na Universidade do Missouri, perto da vila onde Stoner nasceu. Com o incentivo do pai, ele vai morar com um primo da mãe, nas redondezas da faculdade. Trabalhos braçais na pequena fazenda do parente lhe garantem casa e comida.

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[Resenha] Intérprete de Males

Um casal compartilha verdades inconfessáveis à luz de velas. Uma jovem mulher decide revelar um segredo a um desconhecido. Uma menina descobre noções de identidade e pertencimento por meio de visitas cotidianas na hora do jantar. Em Intérprete de Males, livro de contos da inglesa Jhumpa Lahiri editado no Brasil pela Biblioteca Azul, os personagens precisam aprender a conviver com um mundo que lhes parece estrangeiro, mas que precisa ganhar contornos familiares.

A imigração e o choque de culturas é pano de fundo de quase todos os contos desse livro, mas as histórias narram dramas universais, como a separação, a perda, o envelhecimento e a distância. Jhumpa Lahiri, que nasceu em Londres mas vem de família indiana e hoje vive na Itália, sabe como ninguém o que é não encontrar tradução para o seu mundo no cotidiano.

Intérpretes de Males busca justamente construir essa ponte, um diálogo entre dois universos distintos e ao mesmo tempo semelhantes, marcados por chegadas, partidas e estranhamentos. É, acima de tudo, uma leitura extremamente prazerosa, pela habilidade de Lahiri em construir personagens e tramas pelas quais sentimos profunda empatia, em um ritmo compassado no qual não há espaço para atropelos, mas muito está escrito nas entrelinhas.

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[Divã] O fim da privacidade

Na semana passada, fomos convidadas pela Companhia das Letras para assistir à pré-estreia de O Círculo, filme baseado no romance de David Eggers, recém-lançado no Brasil (o texto contém algumas informações sobre a sinopse do filme, para quem não gosta de spoilers!)

O filme começa com Mae, interpretada por Emma Watson, voltando do trabalho em um carro bem velho, que quebra no meio da estrada e a obriga a chamar um amigo para ajudá-la. Ao poucos, vamos nos ambientado em sua vida: um dia a dia tedioso em um trabalho mal pago, que mal lhe permite dar suporte financeiro para sua família. Para complicar mais a situação, a saúde do pai vai se deteriorando e, claro, o convênio não cobre os custos do tratamento. A vida simples da personagem é visível de seu vestuário até seu carro caindo aos pedaços.

As coisas começam a mudar quando sua amiga Annie lhe consegue uma entrevista em uma empresa chamada Círculo, situada em um “campus” semelhante ao do Google ou Facebook. Aceita na empresa depois de uma entrevista um tanto atípica (e superficial), Mae passa a mergulhar no mundo das empresas de tecnologia.

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[Dicas da Imensidão] Semana #5

Quão transformadora é a passagem do tempo em relação a coisas, pensamentos e, principalmente, sentimentos? Esse é o tema central de O Homem do Brejo, quarto conto de Dicas da Imensidão, de Margaret Atwood. Para a próxima semana, leremos Morte por Paisagem, que vai até a página 128.

Por Mariane Domingos e Tainara Machado

O pano de fundo da narrativa de O Homem do Brejo é uma expedição arqueológica para investigar os restos, quase intactos, de um homem de mais de dois mil anos. Embora simbólico, não é nesse episódio da trama em que o tempo se faz protagonista da história, mas sim nas décadas, aparentemente banais, que se passam na vida de Julie.

Julie é uma jovem que obedece a todos os estereótipos de uma aluna universitária liberal – está na fase de descobertas, sem muitos compromissos e pouco empática com tudo que é mais velho e, em sua opinião, ultrapassado. Ela se envolve com seu professor casado, que é mais um clichê da classe – na crise de meia-idade, busca aventuras com as jovens alunas, enquanto a mulher e os filhos o aguardam em casa e conservam sua boa imagem na sociedade.

O começo da paixão é avassaladora, ao menos para Julie. Connor é tudo que ela jamais havia conhecido em um homem. Ela o vê como um super-homem, cuja vida além do seu papel como amante é irrelevante. A maneira como ela vê a esposa de Connor é sintomática do seu desdém pela outra vida do professor:

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