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[Resenha] O Deus das Pequenas Coisas

O Deus das Pequenas Coisas, da indiana Arundhati Roy (Companhia de Bolso, 352 páginas), poderia ser descrito como um livro sobre a relação quase siamesa entre irmãos gêmeos. Ou sobre a Casa Ayenemen, um lugar em que realidade e imaginação se misturam de forma fluída. Mas a melhor definição é da própria autora: essa é uma obra sobre as leis que determinam “quem deve ser amado, e como. E quanto”.

O livro tem como ponto de partida o retorno de Rahel, uma das metades do casal de gêmeos bivitelinos que protagoniza a narrativa, para a cidade em que nasceu, após um longo tempo distante da Índia. Essa volta é significativa porque é a partir dos fragmentos da história que persistem em móveis, objetos e paredes de sua antiga casa que a escritora nos guiará até o dia fatídico em que tudo mudou. Logo na primeira página, Arundhati Roy nos encanta com seu poder descritivo, sua capacidade de criar imagens fortes e vívidas, nos deixando familiarizados com o ambiente que ela busca retratar:

Maio em Ayemenem é um mês quente, parado. Os dias são longos e úmidos. O rio encolhe, e corvos pretos se banqueteiam com belas mangas em árvores imóveis, verde-empoeiradas. Bananas vermelhas amadurecem. Jacas explodem. Varejeiras dissolutas zunem vagabundas no ar perfumado. Depois se estatelam contra vidraças transparentes e morrem, totalmente enganas, ao sol. (…) Mas no começo de junho irrompe a monção sudoeste, e vem três meses de vento e água com curtos intervalos de sol duro e brilhante em que crianças excitadas aproveitam pra brincar.

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[Lista] 24 livros para ler em 2018 (parte 2)

Depois da lista da Mari, recheada de boas dicas (especialmente se você colocou entre suas metas para 2018 ler mais mulheres), agora é a minha vez de selecionar 12 títulos para ler em 2018. Tentei me desafiar e incluir mais clássicos, novos autores e gêneros. Confira a lista abaixo e conte nos comentários em qual leitura você vai me acompanhar neste ano!

1. Frankenstein, de Mary Shelley, completa 200 anos de publicação em 2018. Ótima desculpa para revisitar uma das mais famosas histórias da literatura, com mais de 300 edições e 90 adaptações para o cinema em todo o mundo, não é? Li esse livro (em uma versão adaptada) na adolescência, mas é hora de encarar a versão original do Prometeu Moderno.

2. Clarice, de Benjamin Moser, entrou na lista como a biografia selecionada para o ano. Como já contei aqui, gosto muito desse gênero, e sempre mesclo minhas leituras de ficção com obras não-ficcionais. No entanto, percebi que a lista publicada no começo do blog é dominada por homens. Para mudar isso, vou me dedicar à história de uma das nossas autoras mais incríveis, escrita com maestria por um dos maiores conhecedores de sua obra, Benjamin Moser.

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[ORetratodeDorianGray] Semana #1

Vocês nos ajudaram a escolher, e o título selecionado para a décima edição do Clube do Livro, com 48 votos, foi O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde! Hoje, fazemos uma pequena introdução à obra e, na próxima semana, vamos até o segundo capítulo (página 40 na edição da Penguin-Companhia). E fique atento: no instagram, vamos sortear, no dia 23, um exemplar do livro. Para participar é só acessar o post oficial do sorteio e seguir as instruções.

Mariane Domingos e Tainara Machado

Todo início de ano nos leva a traçar metas, como se  a passagem do calendário abrisse oportunidades de nos reinventar. Pois bem, aqui no Achados e Lidos não fugimos à regra e decidimos que não apenas gostaríamos de ler mais clássicos em 2018, como queremos estimular mais pessoas a nos acompanhar nesse objetivo.

Com ajuda de nossos leitores, começamos o ano com uma escolha interessante. Em tempos de super exposição em redes sociais e da cultura do ter maior que o ser, não há clássico mais atual que este. 127 anos depois de sua publicação, O Retrato de Dorian Gray, de Oscar Wilde, continua estimulando ótimas reflexões sobre a relação entre a aparência e a virtude, a vida pública e a privada e o desejo da juventude eterna.

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[Resenha] De Duas, Uma

De Duas, Uma (Editora Todavia, 104 páginas), breve romance do escritor mexicano Daniel Sada, é um sopro de originalidade para literatura latino-americana contemporânea. A partir de uma trama simples e uma linguagem direta, Sada constrói uma narrativa que, enquanto se desenvolve, não abre brechas para divagações, nem dele nem do leitor. Por outro lado, oferece uma infinidade de interpretações quando termina. Não fosse pela ausência de criaturas antropomórficas, o romance se assemelharia bastante ao gênero de fábulas.

As irmãs Gamal, gêmeas idênticas, são habitantes de uma cidadezinha do interior do México, onde trabalham como costureiras e vivem de forma austera, poupando com sabedoria seus rendimentos. Ficaram órfãs ainda jovens e foram cuidadas pela tia Soledad até que alcançassem idade suficiente para tomar as rédeas de seu destino.

A cada dia mais parecidas, Gloria e Constitución levam uma vida sem sobressaltos, encerradas em um universo apenas seu. No ateliê de costura, há uma placa que diz: “SOMOS PROFISSIONAIS OCUPADAS. LIMITE-SE AO QUE LHE DIZ RESPEITO. NÃO VENHA NOS DISTRAIR SEM MOTIVO. ATENCIOSAMENTE, AS IRMÃS GAMAL”.

O conflito começa quando tia Soledad convida as duas para uma festa de casamento da família, segundo ela, uma oportunidade imperdível para arrumar maridos. As gêmeas, não querendo deixar o ateliê abandonado e firmes na ideia de que o que é de uma pertence à outra, decidem que apenas uma delas irá a festa e, caso o pretendente apareça, elas embarcariam juntas nesse relacionamento:

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[Resenha] Não Me Abandone Jamais

Em outubro, a Academia Sueca anunciou o escritor nipo-britânico Kazuo Ishiguro como o vencedor do Prêmio Nobel de Literatura por “seus romances de grande força emocional, que revelaram o abismo sob nossa sensação ilusória de conexão com o mundo”. Se acertaram ou não no prêmio, é uma questão polêmica, mas não há dúvidas de que definiram com acurácia sua obra.

Não Me Abandone Jamais conta a história de três amigos de infância, Kath (a narradora), Ruth e Tommy. Eles cresceram em Hailsham, uma espécie de internato, que, à primeira vista, parece um colégio comum, mas, na verdade, esconde vários mistérios. Aquelas crianças têm algo de especial, que só é revelado a elas, e aos leitores, à medida que a história avança.

Nesse sentido, a narrativa de Ishiguro é um tanto enfadonha. Apenas por volta da página 100, o primeiro grande enigma é revelado. E, diferente de outras obras em que os silêncios e as insinuações formam um sofisticado enredo, nesse caso, não há um quebra-cabeça desafiador, que envolve o leitor. Por vezes, parece que existem apenas pontas soltas e nenhum fio condutor.

Outro aspecto que desabona o texto de Ishiguro é a artificialidade com que ele insiste em organizar as lembranças da narradora. Grandes escritores já se destacaram pela habilidade com que trabalham a memória. No entanto, não é essa destreza que o texto de Ishiguro transparece. Em vez de dar vazão aos fluxos de memória da personagem e encontrar o brilho de sua literatura nesse caos, o autor opta pelo caminho mais seguro e menos original da ordem cronológica. Não são poucos os trechos em que ele lança mão de deixas como esta:

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