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[Resenha / Review] Complô contra a América / The Plot Against America

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A leitura de Complô Contra a América (Companhia de Bolso, 440 páginas), é uma mistura de sentimentos contraditórios. De um lado, o prazer da boa literatura na escrita envolvente de Philip Roth, quase impossível de largar. Do outro, o gosto amargo de se enxergar em uma realidade não muito distante da ficção distópica apresentada pelo romance.

Philip, o protagonista, é um garoto estadunidense nos anos 40, nascido no seio de uma família judia. Sua infância tinha tudo para se passar na mais tranquila normalidade, não fosse por um acontecimento: a eleição de um simpatizante do nazismo de Hitler, o aviador Charles A. Lindbergh, como presidente dos Estados Unidos.

Roth narra, a partir da visão do garoto, a conjuntura social e política que levou à derrota do então presidente Franklin D. Roosevelt para um candidato novato que, ainda em campanha, demonstrava afinidades com as ideias extremistas que chegavam da Europa. Essa perspectiva infantil dos fatos é um dos grandes destaques do romance. A inocência com que, por vezes, o protagonista interpreta os sinais da tormenta que viria, deixa o leitor angustiado, com vontade de entrar na trama para mudar o curso da história.

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[Divã] Philip Roth e as premiações injustas

No último dia 22, o mundo perdeu um de seus maiores escritores em língua inglesa: aos 85 anos, morreu Philip Roth. Com mais de 30 romances publicados e grande reconhecimento da crítica, tendo inclusive levado um Pulitzer por A Pastoral Americana, Roth passou a fazer parte de uma célebre, ainda que infame, lista: a de autores consagrados que não receberam a maior láurea da literatura mundial, o prêmio Nobel.

Nos últimos anos, Roth foi figura frequente entre os mais cotados a levar o prêmio, mas acabou sendo passado à frente por Svetlana Aleksiévitch (até então desconhecida do público em geral), por um cantor (Bob Dylan) e por um autor mais jovem e menos consagrado (Kazuo Ishiguro). Ainda que sejam escritores de talento inegável, é difícil entender como Roth foi preterido.

É claro que ele não é o único injustiçado – já até fizemos uma lista por aqui sobre grandes autores que não figuram no rol dos homenageados, no qual estão nada menos do que Tolstói e Joyce. Mas a reticência da Academia Sueca, nos últimos anos, em homenagear autores já amplamente reconhecidos é intrigante, quando não amplamente polêmica, como foi com Bob Dylan. Em 2018, vale lembrar, não teremos combustível para animar essa discussão: por causa de escândalos envolvendo acusações de abuso sexual por parte do marido de uma autora membro da academia, o prêmio não será entregue neste ano – havia algo de pobre no reino da Noruega, como brincou o tradutor Jorio Dauster.

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[Lista] 20 melhores leituras do ano para sua lista de presentes (parte 2)

Como prometido pela Mari na semana passada, continuamos a listar as melhores leituras do ano, todas ótimas dicas de presente para este Natal (confira a primeira parte da lista aqui)! De lançamentos a livros que já estavam na estante, essas leituras nos levam a um passeio guiado pelos prédios do centro de São Paulo, pela dura Brasília tomada pela ditadura militar, por Nápoles e até mesmo ao útero de uma mulher grávida! 

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1. O Tribunal da Quinta-Feira, de Michel Laub: Terceiro livro de uma trilogia sobre a capacidade de adaptação individual a traumas coletivos, este romance de Michel Laub explora o verdadeiro tribunal encenado cotidianamente nas redes sociais e fóruns virtuais. José Victor, um publicitário de 43 anos, recém-divorciado, que vê boa parte de suas conversas eletrônicas com o melhor amigo expostas na internet de forma parcial e inescrupulosa, tem de lidar com esse vazamento e, principalmente, com a sombra da doença que marcou a sua geração, a AIDS. Na linguagem arrebatadora de Laub, esse foi um dos grandes achados de 2017. Veja a resenha completa aqui.

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[Lista] 5 autores que foram esnobados pelo Prêmio Nobel

O Prêmio Nobel é, provavelmente, o reconhecimento mais importante que um autor pode receber em vida. Mas, convenhamos, não é todo escritor merecedor da honraria que entra para o rol de homenageados. Algumas ausências na lista da academia sueca são especialmente sentidas. Aqui, listamos cinco, entre eles um brasileiro que bem merecia ter sido contemplado!

1. Liev Tolstói: Em 1901, a Academia Sueca deu inicio à sua premiação literária com uma escolha polêmica (que novidade!). O agraciado foi o poeta francês Sully Prudhomme, o que deixou parte dos intelectuais da época escandalizados. Isso porque para a maioria era certo que a premiação ficaria com ninguém menos do que Liev Tolstói. O escritor russo, autor de clássicos como Anna Kariênina e Guerra e Paz, morreria em 1910, sem nunca ter tido um Nobel para chamar de seu. 

2. James Joyce: Outro dos grandes autores que ficaram de fora da lista de mais de cem premiados até hoje com o Nobel foi o inglês James Joyce. Considerado o fundador do romance moderno ao explorar o tempo psicológico na literatura, Joyce escreveu Ulysses, obra fundamental do século XX (e daquelas que pouca gente leu, inclusive eu!). Apesar de seu brilhantismo – e de todas as suas obras terem sido publicadas já depois da criação do prêmio -, Joyce sequer chegou a constar na lista de indicados.  

3. Guimarães Rosa: Se até pouco tempo poderíamos considerar que o autor de Sagarana não tinha levado o Nobel porque sua obra é considerada de difícil tradução, essa desculpa caiu por terra quando Bob Dylan foi agraciado com o prêmio. Sejamos honestos: letras de música não são exatamente as obras mais fáceis de verter para outra língua. Rosa é tido por muitos como o maior autor brasileiro do século XX. Sua prosa recheada de regionalismos e neologias pode exigir certa dedicação do leitor de primeira viagem, mas depois do embarque nessa aventura, é difícil não admirar a genialidade do autor. Com certeza, a Academia Sueca perdeu a oportunidade de ampliar o acesso global a um escritor único e, de quebra, colocar o Brasil na lista de países já agraciados com o prêmio.

4. Jorge Luiz Borges: O escritor argentino, com toda a sua genialidade, não figura ao lado de outros latino-americanos que receberam (merecidamente) o prêmio, como Mario Vargas Llosa e Gabriel García Márquez. E não dá para alegar que ele morreu cedo demais para que a Academia, que tradicionalmente não premia autores jovens, pudesse ter tempo de reconhecer seu talento, como aconteceu com o chileno Roberto Bolaño. Jorge Luis Borges viveu até os 86 anos, tempo mais do que suficiente para que o pessoal do outro lado do Atlântico tivesse notado seu talento. Muitos atribuem o fato de ter sido ignorado pela premiação às suas posições políticas, mas a verdade é que é impossível saber o que move a seleção dos prestigiados. Há mais coisas entre a literatura e a Academia Sueca do que sonha nossa vã filosofia.

5. Philip Roth: Tudo bem, Philip Roth ainda está vivo e, portanto, tem grandes chances de acabar levando um Nobel para casa. O autor americano, contudo, está há tanto tempo na fila de apostas que seu nome já cabe nessa lista (assim como o de Haruki Murakami, mas para ser honesta, não acredito que sua obra mereça tal honraria). Roth é um dos grandes autores em língua inglesa do último século, capaz de escrever romances verdadeiramente incômodos e mexer em assuntos tabus para a comunidade judaica. Talvez ele tenha anunciado sua aposentadoria  para ver se acelera a decisão. Mas, por enquanto, a Academia ainda acha que pode esperar um pouco mais.

[Resenha] Os Fatos – A Autobiografia de um Romancista

Quando Philip Roth anunciou, em meados de 2014, que estava se aposentando e pararia de escrever, a comunidade literária ficou em choque. O escritor, há anos entre os cotados ao Prêmio Nobel de literatura, é uma das principais vozes do romance americano da segunda metade do século XX, autor de clássicos como Complô Contra a America e Humilhação.

Lançado em 1988, mas editado no Brasil apenas no ano passado, Os Fatos – A Autobiografia de um Romancista, bem poderia ter sido seu livro de despedida. Como já sugere o subtítulo do livro, o título traz a história de Roth por trás da ficção e foi escrita após um período de colapso físico e psicológico do autor. Com sua habitual ironia, Roth habita nesta obra o limite tênue entre ficção e realidade, uma estratégia narrativa interessante para um autor que muitas vezes foi criticado por ser excessivamente autobiográfico.

Esse jogo aparece logo nas primeiras páginas. O prólogo do livro trata de uma carta de Roth escrita para Zuckerman, um de seus personagens mais marcantes. Também escritor, Zuckerman sempre foi interpretado como um alterego do autor, e por isso é mais uma nota de seu brilhantismo o fato de que Roth tenha optado por iniciar sua autobiografia pedindo autorização para  publicação para um de seus personagens mais emblemáticos.

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