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[Resenha] Meio Sol Amarelo

Em sua famosa palestra para o TedTalks, a escritora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie falou do perigo da história única, da visão comum e unificada da história africana, um legado do colonialismo. Em Meio Sol Amarelo, livro de 2008 reeditado recentemente pela Companhia das Letras, a autora busca justamente dar voz e cores para a Guerra da Biafra, vista quase sempre por uma única lupa: como mais uma das tantas guerras civis que assolaram o continente.

O centro da narrativa é a casa de Odenigbo e Olanna em Nsukka, cidade universitária nigeriana. Odenigbo é um professor bem relacionado no campus, seguro de si, com voz ativa sobre a independência nigeriana, sobre costumes e heranças do colonialismo. Já Olanna é descendente da classe alta do país, filha de um influente empresário, mas que não se reconhece em seu meio familiar. O personagem mais empático, contudo, é Ugwu, que chega ainda muito novo para trabalhar na casa de Odenigbo, saído de um pequeno vilarejo no qual cada pedaço de peixe era disputado pela família. Seu assombro sobre os costumes descritos por sua tia nos cativa logo na primeira página:

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[Lista] 5 razões para ler e amar Chimamanda Ngozi Adichie

Quem acompanha o Achados & Lidos há algum tempo já sabe: uma das nossas grandes paixões literárias é a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie. A autora completou 40 anos na semana passada e, para celebrar essa data, decidimos listar alguns motivos pelos quais acreditamos que todo mundo deveria ler pelo menos um livro dela!

Ao todo, Adichie escreveu três romances (Hibisco Roxo, Meio Sol Amarelo e Americanah) e um livro de contos (No Seu Pescoço), além de dois pequenos manifestos, todos editados no Brasil pela Companhia das Letras. Venha conhecer mais – e se apaixonar – por uma das vozes femininas mais brilhantes da nossa geração.

1. Suas personagens femininas são inesquecíveis

As personagens de Chimamanda Ngozi Adichie cometem erros de julgamento, falham, seguem caminhos tortuosos e, nessa trajetória, aprendem – e nos ensinam – muito. Como não poderia deixar de ser, as protagonistas dos livros da autora são personagens que, em meio ao caos, conseguem moldar o seu entorno, equilibrando os diversos papéis que as mulheres acumulam na sociedade. Facilmente relacionáveis, elas são também inesquecíveis.

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[Resenha] No Seu Pescoço

Não são muitos os autores que transitam com tanta facilidade do romance para o conto, do conto para o ensaio, do ensaio para os manifestos. Não importa o formato, a nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie mostra completo domínio do seu ofício. Uma das melhores escritoras de sua geração, Adichie expõe nossa vulnerabilidade perante o desconhecido nos doze contos que compõem No Seu Pescoço, lançado originalmente em 2009, mas só agora traduzido para o português pela Companhia das Letras.

As histórias contidas nessa coletânea são joias raras. Há ali a mesma potência de escrita que já conhecíamos dos romances da escritora, como Americanah e Hibisco Roxo, mas com mais espaço para experimentação de estilos, pontos de vista, narradores.

Em No Seu Pescoço, o conto que dá título ao livro, a história é narrada em segunda pessoa, uma inversão estilística que nos coloca diretamente no lugar da personagem, uma recém-chegada aos Estados Unidos que tenta se adaptar aos cheiros, comportamentos e hábitos fora do seu lugar.

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“A rebeldia de Jaja era como os hibiscos roxos experimentais de Tia Ifeoma: rara, com o cheiro suave da liberdade, uma liberdade diferente daquela que a multidão, brandindo folhas verdes, pediu na Government Square após o golpe. Liberdade para ser, para fazer.”

 

Chimamanda Ngozi Adichie em Hibisco Roxo

[Hibisco Roxo] Semana #9

No post de hoje, o último sobre Hibisco Roxo, abrimos espaço para que os leitores que nos acompanharam ao longo dessa leitura pudessem compartilhar o que acharam do livro. Ficamos muito felizes com a participação de vocês!

Ana Carolina Athanásio

Em primeiro lugar gostaria de enfatizar o quão acertada foi a escolha de Hibisco Roxo. Colocar uma escritora negra, feminista e africana no primeiro Clube do Livro já saiu do lugar comum. Nós, acostumados com a literatura branca ocidental, já não temos quase contato com a literatura africana – deixada na periferia da periferia do mundo literário e só recentemente ganhou força com Mia Couto, Agualusa, Nadine Gordimer e Chimamanda (dentre muitos outros poucos citados) – e o livro ajudou a descobrir um pouco sobre o que é ser mulher, vítima de uma sociedade machista no seio de um continente praticamente ignorado.

No começo o livro causou realmente uma estranheza pelo fato de parecer tudo tão surreal se pensarmos na sociedade em que vivemos. Mas no final você percebe que talvez a “vida real” seja realmente assim.

O autoritarismo e machismo de Eugene fez vítimas: filhos e esposa. Seu fanatismo religioso e intolerância o afastou de seu pai pelo simples fato dele ter se mantido fiel ao lado místico/religioso da cultura nigeriana.

O contraponto encontrado por Chimamanda foi sensacional. Colocar a tia Ifeoma como sinônimo de uma possível liberdade real foi uma ótima tacada da autora para deixar ainda mais forte o sentido de repulsão do leitor diante dos atos de Eugene.

Por fim, vale ressaltar que Chimamanda escreve de um jeito fácil e sereno. Foi uma leitura maravilhosa por ter fluído facilmente, o que não faz do livro raso. A maneira com que incluiu certas palavras locais e expressões nigerianas (que às vezes passam e nem percebemos) foi bacana para dar essa ideia de proximidade em relação aos personagens.

E que, após esse primeiro Clube do Livro, venha Svetlana Aleksiévitch. : )

 

Gabriela Domingos

A história narrada por Kambili é sensível e delicada. Uma leitura que flui, incomoda e provoca a reflexão. Em diversos momentos somos levados a sentir as dores físicas e psicológicas de uma família marcada pela intolerância da figura paterna. Em outros momentos, a esperança para as situações adversas aparece com as risadas de Tia Ifeoma, a melhor personagem. Enfim, o livro é ótimo do começo ao fim.

 

Gabriella Levorin

Hibisco Roxo foi o segundo livro que li esse ano. Após uma leitura um pouco tensa e lenta de Too Big to Fail (Andrew Ross Sorkin), tudo o que eu precisava era da indicação de um livro escrito por Chimamanda! Ela tem uma escrita fluída, que te prende facilmente aos personagens e faz com que você sinta que está assistindo a tudo de perto, lá na Nigéria, onde a história se passa. Eu amei o livro. A história parece simples, mas os episódios de tensão com o pai de Kambili, a autoridade imposta por ele, a submissão à religião, a descoberta de um novo lado com a Tia Ifeoma e o Padre Amadi, tudo visto sob a ótica da inocência de uma menina de 15 anos, faz com que você devore as páginas e acabe o livro em 2 dias (sim, eu roubei no Clube do Livro, confesso)! Ótima indicação e ótimas análises, meninas! Prometo ser mais obediente com o próximo livro. 

 

Lilian Cantafaro

Em Hibisco Roxo, Chimamanda nos apresenta um pouco da cultura nigeriana: o idioma Igbo, a culinária, as vestimentas coloridas, as crenças. Ela nos mostra ainda que suas tradições foram fortemente oprimidas pela colonização inglesa, seja pela obrigação do uso do inglês como língua oficial, que passa a ser falado pela elite e parte da sociedade que tem acesso à educação – rejeitando assim os dialetos falados pelo povo mais simples – ou pela forte imposição do cristianismo, condenando as crendices religiosas locais.

A autora não cobre com riqueza de detalhes a época da ditadura, mas é por meio de uma família que ela nos dá o clima de tensão, intolerância e violência a que o país foi submetido nesse período.

Tudo se modifica quando da chegada de um personagem que representa a liberdade. É este personagem que fará com que a família reflita e não aceite mais a submissão, reivindique a liberdade de expressão e até mesmo o respeito aos costumes e cultura nigerianos. É também este personagem que nos mostra que estes dois mundos, a Nigéria antiga e a colonizada, são passíveis de conviverem sem que uma precise se sobrepor ou anular a outra.

O caminho a seguir em direção à liberdade é apontado, mas será a própria família – representando aqui o povo nigeriano – que terá que, entre acertos e erros, descobrir como fazê-lo.

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