Tag: livro-reportagem

[Resenha] Operação Abafa / Catch and Kill

[SCROLL DOWN FOR THE ENGLISH VERSION]

Operação Abafa (Editora Todavia, 450 páginas) é o tipo de jornalismo que gostaríamos de ver mais frequentemente. Neste livro, o jornalista investigativo e vencedor do Prêmio Pulitzer, Ronan Farrow, expõe as mentiras, conspirações e jogos de poder que permitiram manter enterrado por tanto tempo um dos maiores escândalos da indústria do entretenimento.

Enquanto apurava o caso Weinstein (Harvey Weinstein é o poderoso produtor de Hollywood acusado de abuso e ataque sexual de mulheres por décadas), Farrow esbarrou em um história ainda maior, que revelou uma prática comum: certos veículos da mídia, agindo em nome de figuras eminentes, costumavam apurar escândalos apenas para comprar os direitos das histórias por meio de acordos de confidencialidade com as fontes e, então, enterrar essas reportagens, impedindo que se tornassem públicas.

À medida que Farrow entrava em contato com as fontes e conseguia que elas dessem seu depoimento em frente à câmera, ele se vê envolvido em uma trama repleta de conspirações que visavam acabar com qualquer tentativa de divulgar a história. Espiões, detetives particulares, dinheiro, mentiras, chantagens… Ironicamente, era como ver a vida real imitando Hollywood:

“Mais uma coisa”, ele disse, depois que agradeci pelo seu tempo. “Tome cuidado. Esse cara, as pessoas que o protegem. Eles têm muito a perder”. “Estou sendo cuidadoso”. “Você não está me entendendo. Esteja preparado para o caso de… Estou dizendo, consiga uma arma”. Eu ri. Ele não.

Leia mais

[Lista] 5 livros para (tentar) entender o Brasil

Você sabia que agora pode ajudar o blog a se manter? Caso tenha gostado de algum livro dessa lista, pode comprá-los clicando nos links desta página ou aqui! 

Já dizia Tom Jobim que o Brasil não é para iniciantes. “Nem para iniciados”, completou recentemente o cronista Antonio Prata, em um bom texto sobre o que representa a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Não dá para discordar. Está cada vez mais difícil compreender como chegamos até aqui e, principalmente, entender para qual rumo devemos seguir. Nesses momentos, o melhor a fazer é olhar o passado e tentar entender o que a história pode nos ensinar. Entre clássicos como Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda, a livros mais recentes sobre a crise econômica, aqui vão cinco títulos para (tentar) entender o Brasil:

1. Raízes do Brasil, de Sergio Buarque de Holanda: Descrito como um “clássico de nascença” por Antonio Candido, este ensaio, publicado em 1936, continua a ser lido por historiadores e demais interessados em entender os traços formadores do país. Holanda, que fez parte de uma geração que buscou refletir sobre nossas raízes, como Caio Prado Jr. e Gylberto Freire, investiga nesse livro os regionalismos que nos deram origem, fala da figura do “homem cordial” e aborda ainda a dificuldade de entender os limites entre o público e o privado, talvez o aspecto mais interessante para refletirmos sobre a atualidade.

Leia mais

[Lista] 5 livros de não ficção

A literatura tem um papel importante na representação da realidade. Se a ficção já cumpre bem esse papel ao trazer tramas e personagens que refletem os dilemas do indivíduo e da sociedade, a não ficção consegue conectar o leitor com seu entorno de maneira ainda mais direta. Como nessa categoria cabem inúmeros gêneros literários e temáticas, a lista de hoje é bastante diversa – de memórias a livro-reportagens, de tragédias a arte.

17.09.11_lista_nao_ficcao_11. A Sangue Frio, de Truman Capote: nesse clássico contemporâneo, o escritor americano inaugurou um novo estilo literário – o romance de não ficção. Obra polêmica justamente por se estruturar sobre a linha tênue da realidade e da ficção, não há dúvida que Capote chacoalhou tanto os conceitos de literatura quanto de jornalismo.

Ele passou seis anos apurando o brutal assassinato da família Clutter, ocorrido em 1959 em uma pequena cidade no Kansas, Estados Unidos. Sem gravador ou bloco de notas, contando apenas com sua memória, Capote conversou com vizinhos da vítima, investigou as circunstâncias do crime e, principalmente, entrevistou os dois assassinos. Em anos de apuração, o autor acabou estabelecendo uma estranha relação de amizade e confiança com os criminosos – fato que, por diversas vezes, colocou em xeque a veracidade de sua narrativa.

A obra-prima de Capote não alcançou o sucesso apenas por essa polêmica. A linguagem irônica, os densos perfis psicológicos dos envolvidos e o exame exaustivo, ora neutro ora apaixonado, da realidade deram origem a um retrato cortante da violência nos Estados Unidos e do lado sombrio do sonho americano:

De que tinham medo? “Pode acontecer de novo.” Com algumas variações, era essa a resposta costumeira. No entanto, uma professora observou: “As pessoas não estariam tão alteradas se isso tivesse acontecido com outros que não os Clutter. Com uma família menos admirada. Menos próspera, menos segura. Mas eles representavam tudo o que as pessoas daqui valorizam e respeitam, e o fato de uma coisa dessas ter acontecido com eles – é o mesmo que alguém dizer que Deus não existe. Dá a impressão de que a vida não tem sentido. Acho que as pessoas não estão apenas assustadas; estão é profundamente deprimidas”.

Leia mais

“Sinatra estava doente. Padecia de uma doença tão comum que a maioria das pessoas a considera banal. Mas quando acontece com Sinatra, ela o mergulha num estado de angústia, de profunda depressão, pânico e até fúria. Frank Sinatra está resfriado.”

Gay Talese em Fama & Anonimato

© 2024 Achados & Lidos

Desenvolvido por Stephany TiveronInício ↑