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[Resenha] A Canção de Solomon, de Toni Morrison / [Review] Song of Solomon

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A Canção de Solomon (1977) foi publicado dez anos antes da obra-prima de Toni Morrison, Beloved (1987). Em dez anos, a autora ganhadora do prêmio Nobel não apenas aperfeiçoa sua linguagem poética, que se alimenta, principalmente, dos ritmos da fala e da canção afro-americana, mas também reforça a escrita vanguardista e poderosa que a estabeleceu como a principal voz da identidade negra na América no século XX.

O romance conta a história de Macon “Milkman” Dead III, filho de um bem-sucedido empresário negro da região Norte dos Estados Unidos. Milkman nasceu exatamente no mesmo dia em que um vizinho excêntrico se atirou do telhado em uma tentativa fracassada de voar. Além desse fato peculiar em sua data de nascimento, Macon também carrega um apelido esquisito, Milkman, que surgiu do fato de ele ter sido amamentado por sua mãe até uma idade bastante avançada.

Embora esse rápido resumo não cubra todos os meandros da narrativa de Morrison, ele evidencia dois elementos fundamentais que se entrelaçam no romance: o ato de voar como um símbolo da liberdade e o nome de uma pessoa como um ponto de partida para a busca da identidade.

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[Resenha] Os Fatos – A Autobiografia de um Romancista

Quando Philip Roth anunciou, em meados de 2014, que estava se aposentando e pararia de escrever, a comunidade literária ficou em choque. O escritor, há anos entre os cotados ao Prêmio Nobel de literatura, é uma das principais vozes do romance americano da segunda metade do século XX, autor de clássicos como Complô Contra a America e Humilhação.

Lançado em 1988, mas editado no Brasil apenas no ano passado, Os Fatos – A Autobiografia de um Romancista, bem poderia ter sido seu livro de despedida. Como já sugere o subtítulo do livro, o título traz a história de Roth por trás da ficção e foi escrita após um período de colapso físico e psicológico do autor. Com sua habitual ironia, Roth habita nesta obra o limite tênue entre ficção e realidade, uma estratégia narrativa interessante para um autor que muitas vezes foi criticado por ser excessivamente autobiográfico.

Esse jogo aparece logo nas primeiras páginas. O prólogo do livro trata de uma carta de Roth escrita para Zuckerman, um de seus personagens mais marcantes. Também escritor, Zuckerman sempre foi interpretado como um alterego do autor, e por isso é mais uma nota de seu brilhantismo o fato de que Roth tenha optado por iniciar sua autobiografia pedindo autorização para  publicação para um de seus personagens mais emblemáticos.

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“Mas antes de ser obrigado a viver com os outros, tenho de conviver comigo mesmo. A única coisa que não deve se curvar ao julgamento da maioria é a consciência de uma pessoa.”

 

Harper Lee em O Sol É Para Todos

[Resenha] Pureza

Depois de escrever o “grande romance americano” sobre a derrocada da classe média nos Estados Unidos durante o governo de George W. Bush, o americano Jonathan Franzen parte de uma premissa mais simples em Pureza, seu livro mais recente, lançado no Brasil no ano passado pela Companhia das Letras.

A história narra a busca de uma jovem, Pip Tyler, por seu pai, sobre quem a mãe se recusa a dar informações. O enfoque mais restrito não quer dizer, contudo, que o autor tenha deixado de lado alguns traços marcantes de suas obras anteriores, como o hábito de escrever livros longos, a partir de múltiplos pontos de vista, sem linearidade de tempo. Mas depois que Liberdade foi considerado uma obra-prima e a revista Time estampou Franzen na capa como o grande romancista americano, o autor parece ter deixado certa pretensão formal de lado para escrever um livro mais tradicional.

Mais à vontade, o autor não deixa de tratar com ironia o status que ganhou como escritor nos últimos anos. Um de seus personagens, em determinado momento, busca escrever um romance que lhe garantirá um lugar no cânone norte-americano, mas avalia que, para chegar lá, precisa de mais do que conteúdo.

Houve um tempo em que bastava escrever O Som e a Fúria ou O Sol Também se Levanta, Mas agora tamanho se tornara essencial. Livro grosso, história longa.

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[Resenha] Voltar Para Casa

Voltar para casa. Essa frase simples, cheia de significado e tão cara à literatura, ganhou contornos dignos de nota nas mãos da premiada escritora norte-americana Toni Morrison.

Não são raras as narrativas que partem da ideia lírica do retorno ao lar. A parábola bíblica do filho pródigo e a odisseia de Ulisses em seu regresso a Ítaca estão aí para confirmar o flerte antigo da literatura com essa temática. No livro Voltar para Casa (no original, Home), lançado neste ano no Brasil, Morrison se destaca por questionar a visão romântica de lar. Já na epígrafe da obra, uma canção escrita pela autora muitos anos antes, percebemos essa intenção:

De quem é esta casa?
De quem é a noite que não deixa entrar a luz
aqui?
Me diga, quem é dono desta casa?
Não é minha.
Sonhei com outra, mais doce, mais clara
com uma vista de lagos que barcos pintados atravessam;
de campos largos como braços abertos para mim.
Esta casa é estranha.
Suas sombras mentem.
Olhe, me diga, por que minha chave encaixa na fechadura?

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